A escola é numa aldeia chamada Lvea, a 25 quilómetros da cidade Siem Reap. São salas muito básicas, mesas e cadeiras de madeira, um quadro e paredes pintadas com os números, o abecedário e os meses do ano.
Das primeiras vezes que entrei para as classes, senti um certo receio por querer fazer o melhor a estas crianças e poder não estar à altura do desafio. Mas, depois, com o passar dos dias deixei fluir e as coisas simplesmente aconteceram. As classes seguem um livro de inglês e um livro de fichas e podemos fazer muitas atividades com os alunos, por isso torna-se mais fácil. As crianças têm muita vontade de aprender e querem ser as melhores e isso também ajuda muito na dinâmica da aula. Não há livros para todos por isso os que têm, partilham. Ninguém escreve nos livros escolares porque servem de uns anos para os outros. Existem quatro aulas de tarde e seis aulas à noite.
Quando chove, muito poucas crianças vão porque os caminhos ficam impraticáveis, mas, na maioria dos dias, as salas estão cheias. Esta escola só ensina inglês. As crianças têm as suas escolas de segunda a sábado, de manhã e/ou à tarde e só depois da escola é que vêm ao inglês. Todos usam uniforme e todos respeitam os professores e os mais velhos.
Este projeto, em constante evolução, foi idealizado por um cambojano, o Pagna, que desde muito novo sentiu a vontade de estudar e aprender mais. Num país como o Camboja, com um historial de séculos difíceis de guerras e governos que não têm ajudado o povo, é ainda muito difícil querer mais. A última guerra civil só terminou em 1975, com a subida ao poder de um grande tirano que perseguiu o povo por mais de quatro anos, estimando-se ter assassinado mais de 1,5 milhões de pessoas. É longo o caminho da reabilitação e por isso a esperança nas gerações futuras é muita.
O Pagna não desistiu dos seus sonhos e, apesar das adversidades, conseguiu aprender inglês que hoje fala corretamente, assim como toda a sua família. Tem três filhos mas vive com seis crianças a quem ensina e dá uma oportunidade. É uma família muito generosa e são todos muito dedicados à escola.
Construir uma escola de inglês num lugar remoto, afastado da cidade e com tantas carências, confere, realmente, ao lugar uma oportunidade de futuro para todas estas crianças, e leva-nos a acreditar que tudo é possível e vale a pena quando a alma não é pequena. E, num mundo onde parece que tudo já foi dito e tudo já foi feito, são vivências como esta que nos fazem pensar em como podemos tornar-nos melhores pessoas, mais simples e mais humanos.
A escola vive de donativos, já que as famílias da aldeia não têm condições financeiras para ajudar e também não existe qualquer tipo de apoio estatal, por isso, muitas vezes não podem avançar com projetos de melhorias porque não têm dinheiro.
Termino dizendo que voluntariar na PCEF foi uma lição de humildade para mim. Aprendi sobre tolerância e paciência. E fico feliz por ter sido nesta escola a minha primeira experiência neste mundo, dos aprendizes de professor.
Se quiserem saber mais sobre os meus voluntariados, escrevam-me através do Instagram. Se também estiverem interessados em contribuir com um donativo para a escola (e toda a pequena ajuda é bem-vinda) podem ir diretamente à página da escola. Para mim, fazia toda a diferença contribuir apenas se conhecesse o projeto e entendesse para onde vai o dinheiro. Neste caso, sei que têm feito crescer este sonho e sei que estão a dar melhores condições de vida a estas crianças.
Texto: Isabel Cordeiro
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