Primeiro, em Casablanca, estava eu serena a fotografar a Mesquita de Hassan II quando fui abordada por uma criança que pediu à mãe para tirar fotografias comigo e a mãe esboçava um sorriso como um espasmo. Não compreendi totalmente, mas a delicadeza não é cultural. Deve ser humana. Retribuí com o mesmo sorriso e passeei os meus dedos pelo cabelo da criança que se despediu com um adeus demorado. Voltei à luz do sol magnífico que, ali na beira-mar, se consegue absorver. Fiquei muito tempo a refletir sobre como era bonita e clara… a famosa Casablanca.
Retornando a Tânger, cá bem mais perto de Portugal, entre a compra de jambés e de adagas que guardo aqui em casa, com muito carinho, mais uma história me aconteceu e nesta ninguém acredita. O meu grupo apenas me viu sozinha no lado direito de uma das principais ruas de Tânger, perto de casas senhoriais. Como se eu tivesse inventado que estive sempre, ali, sozinha. Mas não! Uma nativa, grávida, com umas vestes muito elaboradas e com um pequeno véu puxou-me a mão esquerda e ficou agarrada à minha palma dizendo qualquer coisa na língua dela. Não me assustou, pelo contrário. Mas assim como me puxou, levemente, do grupo até àquele ponto movimentado da rua, igualmente se foi embora e sempre de cabeça baixa.
Senti a unha dela no meio da minha mão esquerda. Uma dor estranha que logo passou. Fiquei a olhar para ela enquanto corria rua abaixo. Eu fiquei estática e a minha cabeça rodava entre: perceber quem seria aquela mulher de ventre gracioso e vestes douradas… e o meu grupo que estava todo animado a regatear lenços e sapatos numa das tendas, ali perto. Aproximei-me deles e ninguém viu a senhora. Sempre que conto a história, nunca ninguém a viu. Só a mim, absorta na rua, com a (p)alma da mão tocada. Experienciem o misticismo sem o pedirem, por algum motivo o Universo faz estes encontros nas viagens.
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