Os bairros históricos, mesmo pontilhados com alguns edifícios contemporâneos, têm um ambiente vetusto, vagamente entre o medieval e o século XIX, habitados por um milhão de habitantes – e visitados por quatro milhões de turistas. O aeroporto, o terceiro mais activo de França (os dois primeiros são os de Paris) está a pouca distância da cidade. O clima, amenizado pelo Mediterrâneo, nunca é muito frio nem muito quente. Não fosse o idioma diferente, um francês com sotaque local, podia pensar que estava em casa.

História e localização

Também por aqui passaram gregos e romanos. As mais antigas instalações, gregas, datam de 350 a.C. O nome, Nikaia, vem de Nike – a deusa da vitória, não a marca de ténis. Uma cidade na costa facilita sempre a passagem de amigos e inimigos, e Nice conheceu o desfile de invasões, conquistas e recuos que caracterizam as antigas cidades europeias.

Nice
Nice créditos: DR

Mónaco fica apenas a 13 quilómetros, e a Itália logo a seguir. Faz parte da famosa Côte d’Azur, na Riviera Francesa, preferida para férias pelo clima ameno e as praias – de seixos e não areia fina, como as nossas, convidando a cadeiras e recostos fofos. Saint-Jean Cap Ferrat fica logo ali à esquerda – olhando para o mar – Menton a uns 30 quilómetros e o porto de iates mirabolantes de Antibes para a direita, à distância dum passeio. Para quem quer ver luxo, vale a pena; um dia, vi lá o Nabila, o iate de 80 metros do milionário saudita Adnan Khashoggi, atracado junto de outras maravilhas, algumas maiores ainda. Para quem não se interessa por iates, é frequente ver manobras de golfinhos.

Atracções

A frente marítima de Nice é a famosa Promenade des Anglais, uma avenida larga, com sete quilómetros, adornada de palmeiras e alegrada com lojas e restaurantes. Chama-se assim porque foram os ingleses que descobriram as qualidades curativas dos ares do Mediterrâneo no século XIX e acharam que precisavam de um bom passeio à beira mar. Nem todos os edifícios são pérolas, mas o conjunto é bonito de ser ver. Destaca-se o Negresco, um hotel absolutamente icónico, tanto no estilo ultra-palace como na frequência. Abriu em 1913 e deste então teve como hóspedes os Vanderbilts, a rainha Dona Amélia (sim, a nossa), Grace de Mónaco, grão duques, príncipes e milionários com falta de brisas marítimas, e também artistas como Dali, os Beatles, Louis Armostrong, Elton John – a lista atravessa todas as épocas e estilos. Mas não sai muito caro ir tomar uma bebida ao bar, dar uma voltinha pelos salões e espreitar quem está.

Atrás da Promenade fica a baixa de Nice, com ruas luminosas, arquitectura agradável e muitas coisa para ver. Uma pessoa perde-se por ali, que só tem a ganhar. Por exemplo, há uma Zone Piétonne de quatro quarteirões onde só ver quem passa é uma festa, ou o Jardim Botânico (recente, mas luxuriante), ou o mercado, Cours Saleya, com uma abundância de cores e perfumes que parece estarmos do outro lado do Mediterrâneo. Até chegar ao rio Paillon, que é a fronteira natural entre a cidade histórica e a nova, passa-se pela praça Rosseti, animada dia e noite, ou ainda a rua de Sainte Réparate, que é o nome da catedral da santa.

Arte

Nice foi um poiso de Chagal e Matisse, e ambos têm museus no parque de Cimiez, um bairro fino com belas casas; o Museu Marc Chagal fica mesmo dentro do parque, o de Matisse um pouco mais acima. Há ruínas romanas, um mosteiro com igreja e claustro, uma ópera, uma catedral ortodoxa russa (que deve ter sido uma loucura dum príncipe saudoso de Moscovo) e outro hotel que vale a visita, o Excelsior Regina Palace.

Nikki de Saint Fale, a artista famosa pelas suas esculturas cobertas de ladrilhos, vidros e mosaicos, vistosas e divertidas, está um pouco por toda a parte. Tem uma ala só para ela no Museu de Arte Moderna e Contemporânea (MAMAC), desenhado em 1990 por dois arquitetos franceses, Yves Bayard et Henri Vidal; uma peça de homenagem a Miles Dais em frente ao Negresco e outras espalhadas onde menos espera, dando um toque surreal a uma malha urbana clássica. Nikki, americana, francesa e suíça, foi casada com Jean Tinguely e brilhou no período entre 1960 e 90.

Culinária

Não sei se os gelados se podem considerar culinária, mas há dos italianos, o Azzuro e o Pinocchio, na Rue Massena, deliciosos.

Quanto à cozinha regional propriamente dita, é mediterrânica com forte influência italiana: raviólis, gnocchis, pizza de anchovas e cebolas – sem tomate!

O prato local estranho – todos as cidades que se prezam têm um prato estranho – é a Socca, uma espécie de panqueca de grão. Dizem que a melhor é do Chez Pipo, mas é preferível comparar.

Gastronomia em Nice
Gastronomia em Nice créditos: DR

De grão é também uma espécie de batata frita gorda que dá pelo nome de Panisse. E a famosa salada Niçoise: atum, tomate, anchovas, ovo cozido, azeitonas e verduras, numa vinaigrette com azeite e mostarda. Se for metida num pão redondo, tipo panqueca, chama-se Pan Bagnat.

Quando queremos algo mais substancial, há que recorrer às tripas à niçoise, parecidas com as nossas, com variações abrilhantadas com tomate e acompanhadas por batatas fritas, ou cozidas, ou mesmo com massa de cotovelos. Digestão garantida.

Perfumes e o aroma da natureza

Não fazia tenções de sair do ambiente sedutor e da energia tão agradável de Nice, mas amigos insistiram que fosse a Grasse, na Provence, uma região nas montanhas a norte da cidade, perto do parque de Préalpes d’Azur. É um passeio absolutamente indispensável pela sua beleza e originalidade.

Grasse é a capital mundial do perfume e a sua paisagem parece tirada de uma utopia naturalista. Campos de alfazema a perder de vista, jasmim suficiente para produzir 22 toneladas anuais e muitos outros aromas – dois mil! – são produzidos aqui, em fábricas que podem ser visitadas, algumas com nomes famosos, como Galimard, Molinard e Fragonard. Esta última marca, que é também o nome do fundador Jean Honoré, tem uma vila museu digna de cheirar. No Museu Internacional do Perfume não só ficamos a saber a longa história desta arte/indústria como podemos confeccionar o nosso próprio perfume.

Grasse
Grasse créditos: DR

Há também uma catedral do século XIII a atestar a longevidade histórica de Grasse, onde há séculos se vêm formar os “narizes” – aqueles especialistas que sabem inventar perfumes em combinações infinitas.

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Texto: José Couto Nogueira