Maputo, a capital, foi a primeira impressão que tivemos de Moçambique, e imediatamente nos surpreendeu (e convenceu).
Logo depois da chegada, fomos visitar o centro da cidade e foi um quase regresso a casa, como se nos tivéssemos teletransportado para as grandes cidades do nosso país, depois de quase 5 meses em países de influência (sobretudo) britânica.
Andámos por avenidas enormes, com prédios de mais de 10 andares, grande parte ainda do tempo colonial e por isso muito semelhantes aos de Portugal, edifícios empresariais dignos de Nova Iorque e bares e restaurantes moderníssimos que cheiram a gastronomia de todo o mundo.
Visitámos a magnífica estação de comboios, construída por volta de 1910 e considerada pela Time a terceira mais bonita do mundo.
Conhecemos a Praça da Independência, onde se encontra o edifício da Câmara Municipal, a Catedral de Maputo e uma imponente estátua de Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique independente. Pouco abaixo, a Casa de Ferro, edifício do tempo colonial alegadamente projetado por Gustave Eiffel e ainda o Jardim Tunduru, que logo me fez lembrar o Jardim da Estrela, em Lisboa.
Descemos depois em direção ao mar, o belo Oceano Índico, ao qual regressámos passados 3 meses da nossa estadia em Zanzibar. Por aqui, ainda houve tempo para ver uma fortaleza do século XVIII, provar frutas exóticas no grande Mercado Municipal (este já com um estilo mais semelhante aos países anteriores) e acabar o dia com uma imperial e um fino, os primeiros da viagem.
Tudo enquanto caminhávamos (maioritariamente) em calçada portuguesa e interrompido por uma paragem numa pastelaria da Delta Cafés, onde relembrámos o sabor dos pastéis de nata, palmiers, mil-folhas e sumos Compal.
Mas este “regresso a casa” era algo que nenhum dos dois estava particularmente interessado, e rapidamente seguimos para outros planos.
2 horas de ferry levaram-nos da calçada portuguesa maputense até à ilha da Inhaca, um pequeno paraíso com apenas 12 km de uma ponta à outra.
Tem uma vila acolhedora com restaurantes onde se come marisco fresco a um terço dos preços portugueses, e praias selvagens no Índico, de água morna e transparente. Precisamente numa destas, vestimos barbatanas e uma máscara e estivemos uma hora dentro de água, rodeados por peixes coloridos e corais de todos os feitios que só tinha visto no filme do Nemo.
Também a pouco mais de uma hora da capital, mas por terra, encontrámos a Reserva Especial de Maputo. É uma reserva natural enorme com planícies e vários lagos, e que está recheada de animais selvagens como elefantes, girafas, zebras e hipopótamos, espalhados por paisagens muito especiais.
Mas falta falar de onde mais tempo passámos neste mês moçambicano que está a acabar. Foi um mês de menos viagens, em que nos dedicámos e fomos acolhidos como voluntários num projeto em Marracuene, cerca de 30 km a norte de Maputo.
Chama-se Projeto Esperança e destina-se a apoiar crianças problemáticas, de pobreza extrema e muitas delas detentoras de HIV, contribuindo, entre outros, para a sua alimentação e educação. Ajuda, hoje em dia, mais de 300 jovens e conta com 3 centros.
Vivendo em Marracuene encontrámos uma realidade mais próxima do que nos habituámos nestes meses de viagem. Uma avenida principal alcatroada conecta com Maputo, através das carrinhas lotadas que tanto se vêem em África, e que aqui se chamam de “chapa”, ou dos “myloves” , um novo conceito para nós, consistindo em carrinhas que levam 30 a 40 pessoas (em pé ou sentadas na borda) numa caixa aberta.
No centro da vila juntam-se restaurantes locais, mercearias e vendedores em toalhas estendidas no chão, bem como os principais bancos e pequenas lojas (de tudo e mais alguma coisa), que alimentam quilómetros de estradas de areia labirínticas à volta.
As ruas são mais sujas e (parecem) desorganizadas, e as habitações na sua maioria pequenas e pobres.
Viver em Marracuene é ouvir Changana nas ruas em vez de língua portuguesa (embora todos a falem de forma perfeita); é ziguezaguear pelo lixo e pelas galinhas perdidas na estrada em vez de ter calçada portuguesa; é estar a 30 minutos de “mylove” de distância da praia; é almoçar repolho com (muito) arroz e jantar peixe fresco do mercado em vez dos restaurantes internacionais; é não poder confiar no Maps para encontrar um estabelecimento; e é acordar ao nascer do sol com o barulho de crianças a divertirem-se.
Mas a verdade é que, quando íamos passar uns dias à “cidade”, havia sempre uma parte de nós que queria apanhar o chapa de volta para a vida de Marracuene.
Projeto Prá frente
O Projeto Prá Frente foi criado por dois jovens engenheiros, com a intenção de conhecer (e partilhar) uma perspetiva completa do Sudeste Africano, focando-se não só no seu património deslumbrante, mas também nas suas pessoas e naquilo que tem para oferecer para o futuro.
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