Assim, numa manhã de final de verão, decidimos apanhar o barco no centro histórico, e, dez minutos depois, estávamos na reserva natural de Lokrum. Além da beleza exótica do seu Jardim Botânico e de revigorantes banhos de mar em pequenas praias de seixos arredondados – muitas delas sinalizadas como nudistas – ou numa espécie de lagoa salgada conhecida por “Mar Morto”, esta ilha convidou-nos a trilhos de floresta, a uma visita ao Mosteiro Beneditino e à Fortaleza Francesa de 1806. Por muito tempo propriedade privada, esta ilha, no final do século XIX, pertencia ao arquiduque Maximiliano da Áustria, que contribuiu para a inclusão de espécies de flora e fauna exóticas.
Reza a lenda que Ricardo Coração de Leão, rei da Inglaterra, salvou-se aqui de um naufrágio em 1192, quando voltava das cruzadas, prometendo construir a catedral de Dubrovnik como agradecimento. Mas de outras disputas se falam por estas bandas, ou não guardasse esta pequena ilha o trono mais cobiçado de sempre… e agora conquistado pelo Viajante X!
Em verdade, este é mais um dos lugares escolhidos para gravar “Game of Thrones”, transpondo-nos, assim, para Qarth, a principal cidade portuária, na costa sul de Essos, defendida por muralhas e portões resistentes, que ficaria isolada atrás do Deserto Vermelho, quando na realidade tudo se passava a sudoeste de Dubrovnik, nesta ilha de Lokrum, que afortunadamente pisávamos. No Mosteiro Beneditino, além das suas ruínas, é possível explorar uma parte da abadia que conta com um museu interativo sobre a série.
Numa pausa para banhos e piquenique, aproveitamos uma agradável sombra à beira do “Mar Morto” para desfrutar da serenidade e paz de Lokrum. O Viajante X claramente cansado da sua árdua jornada pela tomada do trono, adormeceu ao som desta curiosa e mágica leitura:
- Um mercador de Qarth disse-me uma vez que os dragões vinham da Lua - disse a loura Doreah enquanto aquecia uma toalha perto da fogueira. Jhiqui e Irri eram da mesma idade de Dany, jovens dothrakis tomadas como escravas quando Drogo destruiu o khalasar do pai delas. Doreah era mais velha, com quase vinte anos. Magíster Illyrio encontrara-a num palácio dos prazeres em Lys.
Molhados cabelos prateados caíram-lhe em frente aos olhos quando Dany virou a cabeça, curiosa.
- Da Lua?
- Ele disse-me que a Lua era um ovo, Khaleesi - respondeu a jovem lysena. - Antes havia duas luas no céu, mas uma delas aproximou-se demais do Sol e rachou com o calor. Mil milhares de dragões jorraram de dentro dela, e beberam o fogo do Sol. É por isso que os dragões exalam chamas. Um dia a outra Lua também beijará o Sol, e então rachará, e os dragões regressarão.
As duas jovens dothrakis riram.
-És tola, escrava de cabelos de palha - disse Irri. - A Lua não é um ovo. A Lua é deus, mulher esposa do Sol. É sabido.”
A Guerra dos Tronos, George R. R. Martim, As Crónicas de Gelo e Fogo (Vol I)
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