No meu imaginário, Badajoz era apenas uma pequena cidade espanhola perto de Elvas, onde, quando eu era criança, os meus pais iam comprar caramelos e brinquedos. Nunca me despertou grande interesse, nem vontade de a visitar, contudo surgindo a oportunidade de passar lá dois dias, não disse que não, e ainda bem, porque descobri que estava completamente errada!

Um pouco de história

Por volta de 875 d. C., numa época em que a Península Ibérica era dominada pelos mouros, Badajoz foi construída sobre um assentamento visigótico num monte conhecido como Cabezo de la Muela, e a partir daí cresceu até se tornar na cidade que hoje conhecemos. Cruzada pelo rio Guadiana, a sua localização estratégica marcou tanto a sua história e arquitetura que até a sua catedral possui ameias. No entanto, o tempo dos tiros de canhão (felizmente) já lá vai e a cidadela muçulmana e os seus baluartes são agora jardins e miradouros por onde podemos passear despreocupados.

Existem várias rotas sugeridas que permitem aproveitar cada recanto da cidade. A Rota da Alcazaba que percorre o monumento ícone de Badajoz e o seu local de nascimento, é uma das mais interessantes. Esta fortaleza do século XII é a maior de Espanha e foi construída no topo de uma colina de forma a aproveitar o declive acentuado por baixo das muralhas e o rio como medidas de defesa. Podemos entrar na Alcazaba por qualquer uma das suas quatro portas, mas a mais usada é a Puerta del Capitel, próxima da Plaza Alta.

No seu interior podemos ver a cidade mourisca original, bem como o Museu Arqueológico Provincial, o Palácio dos Duques da Roca e várias torres como a Torre de la Atalaya, conhecida como Espantaperros porque, reza a lenda, os infiéis (designados por "cães”), fugiam assustados, cada vez que tocava o sino desta torre.

Badajoz
Convento de São José, em Badajoz. créditos: The Travellight World

Uma cidade de fortalezas e praças coloridas

Esta cidade da Estremadura espanhola é na verdade uma terra de fortalezas e catedrais, com uma História importante, impressionantes edifícios medievais, mouriscos e modernos, praças coloridas e restaurantes que enchem o ar com aromas de especiarias e músicas alegres.

Badajoz deu ao mundo conquistadores, como Pedro de Alvarado, mas o seu filho mais famoso, foi sem dúvida, o pintor Luis de Morales, a quem os seus contemporâneos chamavam de "o Divino" pelo seu grande talento e por ter predileção por temas religiosos. Até Felipe II quis conhecê-lo quando passou por Badajoz em 1580. É justo, por isso, que a sua escultura esteja no coração da cidade, na Plaza de España. Em frente do Paço Municipal e da sua bonita fachada.

O outro grande edifício desta praça é a Catedral de San Juan, que alguns pensam ter começado a ser construída no século XIII e outros no século XV; Seja como for, foi concebida com uma enorme torre de 41 metros e tem ameias como um castelo, pois era necessário defendê-la do vizinho português.

No seu interior, chama a atenção o retábulo-mor barroco, o coro e o candeeiro central, com 102 braços e um peso de 3.700 quilos! Ao fundo, fica o Museu da Catedral, onde podemos apreciar obras de Luis de Morales.

Uma das ruas coloridas de Badajoz
Uma das ruas coloridas de Badajoz. créditos: The Travellight World

Saindo da Plaza de España pela Calle de José López Prudêncio, passa-se pelo convento das Carmelitas Descalças, um edifício do século XVIII e chega-se até à encantadora Plaza de Cervantes, com a sua calçada preta e branca ao estilo português, mais conhecida como Plaza San Andrés, por causa da igreja que fica no canto sudoeste da praça.

Se por outro lado se subir da Plaza de España por San Juan até a Iglesia de la Concepción, — uma curiosa igreja do século XVIII com planta circular atribuída a Ventura Rodríguez, cuja cúpula pode ser vista de quase qualquer lugar da cidade — chegamos até a Plaza Alta, a mais emblemática e mais instagramável da cidade.

O edifício com quatro arcos são os antigos Paços do Concelho, construídos no estilo mudéjar. Era nesta praça que ficava o antigo souk árabe, bem ao lado do muro. No século XV o recinto passou a acolher feiras, touradas e festas populares. As chamadas Casas Coloradas, que ocupam dois dos lados da praça, com a sua fachada única pintada de vermelho, preto e branco, datam do século XVII. No primeiro sábado do mês, decorre aqui uma feira de artesanato e antiguidades.

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Las Casas Coloradas, na Plaza Alta, a mais instagramável de Badajoz. créditos: The Travellight World

Próximo desta área (e um pouco por toda a cidade, na verdade) encontramos vários murais de arte urbana que merecem igualmente atenção.

Passando a Torre de Espantaperros, chega-se aos Jardines de La Galera, um dos mais belos da cidade. É um jardim botânico com 90 espécies de plantas dos cinco continentes.

Na pequena Plaza de la Soledad fica uma Ermita que foi consagrada em 1935, quando a imagem da padroeira de Badajoz foi retirada da catedral e à sua direita encontra-se a Casa de las Tres Campanas, um dos mais belos edifícios da cidade, construído por ordem da família Ramallo em 1899. Foi o primeiro a ter elevador na Extremadura (em 1917) e, durante grande parte do século XX, a loja de brinquedos mais emblemática de Badajoz. Hoje é um hotel.

Ali bem perto, outra maravilha arquitectónica — a Giraldilla!

Um edifício de estilo regionalista andaluz, construído entre 1927 e 1930, que reproduz a famosa torre sevilhana. A escultura que coroa esta Giralda em Badajoz não é a da Fé Vitoriosa, mas a de Mercúrio, deus do Comércio, porque o edifício era originalmente um armazém.

À direita fica o Museu Provincial de Belas Artes, a galeria de arte mais importante da região.

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La Giraldilla, um edifício de estilo regionalista andaluz, que reproduz a famosa torre sevilhana, em Badajoz. créditos: The Travellight World

A Puerta de Palmas, é uma das portas mais imponentes da cidade, foi construída em 1551 e as suas duas torres eram uma prisão real: no exterior são unidas por um duplo arco semicircular com o brasão de armas de Carlos V e no interior existe um nicho com a imagem de Nossa Senhora dos Anjos.

Da Puerta de Palmas pode se ir até ao parque Castelar, localizado no antigo olival e pomares do convento de Santo Domingo. Este é mais um dos pequenos pulmões verdes da cidade, com muitas árvores e água.

Atravessando o parque e descendo a Calle Gómez de Solís chega-se à Calle Menacho, uma rua onde existem mais de 140 lojas, que foram agrupadas na associação Centro Comercial Abierto Menacho. É um excelente lugar para fazer compras e escolher souvenirs para trazer para casa.

A próxima atração é o Baluarte de Santiago, um monumento do século XVIII, que chama a atenção pelas suas muralhas bem conservadas. Bem próximo fica a Plaza de la Libertad, onde se encontra o Museu del Carnaval de Badajoz, de entrada livre, que vale a pena visitar para conhecer a coleção dos bonitos e elaborados trajes criados a cada ano pelos comparsas (grupos carnavalescos), as letras das murgas (bandas de música carnavalesca) e a história desta festa em Badajoz.

Avançando pela vizinha Ronda del Pilar e virando na Avenida de Europa, chega-se à Plaza de la Constitución e a um novo parque. No meio, existe um enorme edifício cilindrico de cor avermelhada, com uma espécie de tampa — é o Museu Extremeño e Ibero-Americano de Arte Contemporânea (MEIAC).

Não muito longe, encontramos o Baluarte de Santa María ou de la Laguna (assim chamado porque os seus fossos podem ser inundados em caso de ataque) e o de La Trinidad. Ambos foram palco de batalhas em 1812 quando o exército anglo-português saqueou Badajoz — na época ocupada pelas tropas francesas — num dos episódios mais sangrentos da Guerra da Peninsular.

Saindo do recinto fortificado e entrando no Parque de la Legión, descobrimos mais um espaço verde da cidade que nos oferece vistas dos baluartes, da cidadela e das margens do ribeiro Rivillas. Podemos caminhar ao longo do passeio central ou sentar-nos para apreciar a paisagem.

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A Puerta de Palmas é um dos ex-libris de Badajoz. créditos: The Travellight World

A Plaza de San Atón é uma das praças mais conhecidas e populares de Badajoz. É um verdadeiro ponto de encontro e é também o local onde acontecem os cortejos de carnaval da cidade. Num dos seus cantos vemos a Igreja de San Juan Bautista, que embora não pareça, é uma das mais antigas da cidade. O Teatro López de Ayala é outro destaque da praça. Construído em 1886, este palco monumental acolhe as murgas carnavalescas e as actuações de todos os grandes artistas que passam por Badajoz.

Para saborear

Uma visita a qualquer cidade não fica completa até experimentarmos a culinária local e Badajoz também não decepciona nesta área. Os amantes de carnes curadas vão apreciar a famosa linguiça Patatera, que é feita com carne de porco e batata; e pratos tradicionais como a sopa de antruejo (feita com carne de porco, chouriço, cebola, pão ralado, alho e vinagre) e doces como as perrunillas (um tipo de biscoito redondo feito com manteiga, canela e limão).

Para tapas, o melhor é parar na Taberna La Casona Baja ou no Gastrobar El Tronco. Na Plaza Alta, encontraremos La Casona Alta e La Cacharrería, e na vizinha Plaza de San José, a Bodega San José.

Para algo mais sofisticado, os restaurantes indicados são o El Sigar e o Marchivirito.

À volta

Nos arredores da cidade de Badajoz há também vilas encantadoras, como Albuquerque, Fregenal de la Sierra, Llerena, Zafra e, claro, Olivença, que merecem uma visita.

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Tchau!

Travellight

Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World

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