Foi precisamente às 10:00 que Teresa Guedes, diretora do zoo de Santo Inácio, abriu as portas deste amplo parque em Vila Nova de Gaia, encerrado desde 16 de março devido à pandemia de covid-19. Com surpresa, foi também a essa hora que começou a ver algumas famílias a chegarem para visitar os 600 animais de 250 espécies.

Com postos de álcool gel e desinfetante espalhados por vários pontos do parque, recomendação de uso de máscara, marcações de distanciamento na zona do bar (que só serve em 'take-away'), o reptilário e o túnel dos leões encerrados, Teresa acredita que este é “um voto de confiança dos visitantes”.

“Possivelmente, são pessoas que nos conhecem e que veem o zoo como um dos espaços ideais a vir. É amplo, ao ar livre, os caminhos são largos e temos 15 hectares para as pessoas se deslocarem. Por isso, reúne as condições que neste momento todos procuram”, disse à Lusa.

Se antes da reabertura, aquilo que Teresa Guedes mais sentia falta era das “gargalhadas das crianças”, hoje, já deu para “matar um bocadinho as saudades”.

Às 10:30, hora de os tratadores alimentarem as três leoas e o leão do zoo de Santo Inácio, a agitação e alegria de Diogo Bártolo, de 5 anos, era notória e contagiante.

Diogo veio acompanhado dos pais, Ana Cabral e Manuel Bártolo, que, depois de seis semanas em casa, escolheram o parque para a “primeira grande saída após a quarentena”.

“Costumamos vir cá com bastante frequência e é um espaço amplo, por isso, dá sempre para estar afastado e manter o distanciamento social. Também dá para o Diogo aproveitar o dia, porque vamos passar aqui bastantes horas ao ar livre”, contava Ana, enquanto o pequeno Diogo admirava e acompanhava todos os passos do leão.

A alguns metros do habitat dos leões, José Fernandes, de 71 anos, tentava, com o mapa do parque aberto, encontrar a sua localização. Viu num anúncio do jornal que o zoo reabria hoje e não hesitou em fazer uma visita.

“Dá para espairecer e respirar ar livre. No fundo, sair um bocadinho de casa”, contou à Lusa José Fernandes, antes de se aproximar da vedação para admirar o corpulento búfalo a comer.

Durante estes quase dois meses, Teresa Guedes teve de aprender a gerir a parte emocional e a parte financeira. Com 40 trabalhadores e 600 animais, que, por mês requerem, só em alimentação e cuidados médico-veterinários, 15 mil euros, foi ao “fundo de maneio” que se agarrou.

“O ano de 2019 correu muito bem, aliás, foi o melhor ano de sempre. Tivemos 170 mil visitantes e isso também nos permitiu gerir estes meses”, afirmou a responsável.

Nos meses de abril, maio e junho, o zoo de Santo Inácio recebia cerca de 30 mil crianças, com as quais já não pode contar. Tal como com os turistas, que representavam, em média, 18% das visitas.

Com “baixas perspetivas” para o futuro que se avizinha, Teresa Guedes está já a contar com “uma quebra de 50% a 70% de visitantes durante este ano”, por esse motivo, decidiu reavivar a campanha de apadrinhamento dos animais.

“As pessoas ficam ligadas a uma espécie. O apadrinhamento tem um valor de 50 euros e as pessoas podem visitar o zoo durante todo o ano e as vezes que quiserem”, explicou.

Desde que lançaram a campanha, há cerca de duas semanas, já angariaram “bastante”, aliás, o valor angariado serviu já para cobrir um terço dos custos com a alimentação dos animais.

“As pessoas não param, continuam a querer ajudar-nos e, como se vê, já há pessoas a visitar o zoo e é sinónimo disso, querem divertir-se e ajudar-nos”, admitiu à Lusa.

Foi precisamente para se divertirem, e sobretudo, para celebrarem o primeiro aniversário de Sofia que Ricardo e Liliana Magalhães vieram ao zoo.

“Antes da pandemia já tínhamos pensado trazê-la cá porque ela gosta muito de animais e calhou bem o aniversário dela ser no dia da reabertura”, contou Liliana Magalhães.

Também o zoo Santo Inácio iria celebrar o seu 20.º aniversário no dia 01 de junho com uma exposição sobre a sua história, “a primeira pedra” e as “primeiras obras”, mas a pandemia não permite que tal aconteça.

Em vez disso, vão celebrá-lo nas redes sociais, na expectativa que a muita gente “chegue” e que no próximo ano, o aniversario seja “uma festa em grande”.