O quarteirão cultural de Gaia apresenta uma nova exposição. Desta vez, é o “Universo Dalí” que abriu ao público, no Museu Atkinson. Trata-se de uma mostra que apresenta a vida e a obra de um dos mais emblemáticos artistas do século XX.
As origens, a mudança para o surrealismo, o sonho americano, a incursão na publicidade, a secreta conversão ao catolicismo, a reinterpretação de Goya, o filme da Walt Disney: tudo numa fascinante e irreverente trajetória patente no Museu Atkinson.
A mostra leva o visitante por um percurso inédito sobre o surrealista espanhol e convida a uma viagem pelo universo multifacetado de um dos maiores génios da arte, através de desenhos, esboços, pinturas, esculturas e trabalhos comerciais e publicitários.
Ao todo, são mais de 200 peças, das quais se destaca uma seleção de fotografias de Robert Descharnes, fotógrafo francês e amigo de Dalí, captadas entre 1955 e 1985, as quais oferecem um raro vislumbre da vida pessoal do artista, em momentos íntimos e no seu ambiente familiar.
O filho do fotógrafo, Nicolas Descharnes, atual detentor de todo o espólio do pai e considerado um especialista em Dalí, esteve presente na inauguração da exposição. Ao usar da palavra, definiu Dalí como “geneticamente espanhol, intelectualmente francês, esteticamente italiano e comercialmente americano” e reforçou a importância da obra fotográfica aqui exibida: “pelas fotografias do meu pai, pode manter-se viva a memória deste génio”.
A exposição, que surge no ano em que se assinala o centenário do surrealismo, tem ainda mais uma obra intrigante e que mereceu destaque no momento da inauguração. “Visão do Inferno em Fátima” tem uma réplica numerada nesta mostra patente no WOW e vem desvendar a ligação de Dalí a Portugal e a sua religiosidade católica quase desconhecida.
Carlos Evaristo, perito em iconografia sacra, explicou a obra e revelou ter sido “uma encomenda feita a Dalí, em 1959, para representação do terceiro segredo de Fátima”. Dalí tomou cerca de três anos a finalizar a pintura e nesse âmbito “visitou Fátima, encontrou-se com a Irmã Lúcia e converteu-se ao catolicismo, tanto que depois acabou por devolver à Igreja o dinheiro que tinha recebido pela obra”. Para finalizar a excentricidade à volta desta pintura, é ainda acrescentado que “a obra permaneceu, desconhecida, durante quase três décadas debaixo do colchão de uma freira”.
Salvador Dalí, nascido em 1904, em Figueres, no nordeste da Espanha, tornou-se uma personalidade global, com uma presença única e um estilo inconfundível. “Esta exposição é uma oportunidade imperdível para explorar o legado de um dos artistas mais emblemáticos do século XX e descobrir o homem por trás do mito. É uma coleção que revela a versatilidade do Museu Atkinson, que pretende trazer ao Porto notáveis exposições de cariz internacional, tocando os mais diversos espectros da arte, da clássica à contemporânea”, ressalta Adrian Bridge, diretor geral do grupo Fladgate Partnership, onde se insere o quarteirão cultural.
A exposição “Universo Dalí” conta com a colaboração de Nicolas Descharnes e de Carlos Evaristo, da Fundação Oriana. A curadoria esteve a cargo de Andreia Esteves, responsável pelo Museu Atkinson e pelas parcerias internacionais do WOW.
“Universo Dalí” está patente até 31 de outubro e pode ser visitada diariamente, das 10h às 19h, com bilhetes a 15€ (crianças por metade do valor).
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