Os cinco tripulantes do submersível desaparecido no domingo, quando iniciou uma viagem turística aos destroços do Titanic, no Atlântico Norte, morreram na implosão da embarcação, segundo os destroços encontrados pelas equipas de resgate esta quinta-feira (22).

"Os destroços são consistentes com uma perda de pressão catastrófica da câmara" do Titan, cuja comunicação foi perdida no domingo, duas horas depois do início da imersão, informou o contra-almirante da guarda-costeira dos Estados Unidos, John Mauger, que transmitiu os pêsames às famílias.

A bordo estavam o milionário britânico Hamish Harding, presidente da empresa Action Aviation; o paquistanês Shahzada Dawood, vice-presidente da Engro, e seu filho, Suleman - ambos também de nacionalidade britânica; o experiente mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet; e Stockton Rush, CEO da OceanGate Expeditions, a empresa que opera o submersível, e que cobrava 250 mil dólares por turista.

Assim que se soube o desfecho desta tragédia, o Wall Street Journal revelou que a Marinha dos Estados Unidos detectou um sinal que indicava a provável implosão do submersível já no domingo, pouco depois do seu desaparecimento.

"Estes homens eram verdadeiros exploradores, que partilhavam um forte espírito aventureiro e uma paixão profunda por explorar e proteger os oceanos do mundo", informou, em comunicado, a OceanGate, ao lamentar a morte dos tripulantes do submersível.

Os governos do Reino Unido e do Paquistão expressaram assuas condolências pela morte dos tripulantes do submersível.

"Trágica notícia a perda daqueles que estavam a bordo do submarino Titan, incluindo três cidadãos britânicos, após uma operação de busca internacional", disse o Secretário dos Negócios Estrangeiros britânico, James Cleverly, no Twitter.

"O governo do Reino Unido está a apoiar de perto as famílias afetadas e expressa as nossas mais profundas condolências", acrescentou.

"As nossas mais profundas condolências à família Dawood e às famílias dos outros tripulantes pela triste notícia sobre o destino do submarino Titan no Atlântico Norte", declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, agradecendo "os esforços multinacionais na busca pela embarcação".

Na manhã desta quinta-feira, um ROV (sigla para veículo de controlo remoto em inglês) encontrou "um campo de destroços" espalhados a menos de meio quilómetro do Titanic, a quase 4 mil metros de profundidade e a 600 km da costa. Entre os destroços encontrados está a cauda do submarino, explicou Mauger numa conferência de imprensa.

Além disso, outras quatro grandes peças confirmaram a "implosão catastrófica" do submarino, que tinha 6,5 metros de comprimento. Desde o início das operações de salvamento que nenhuma das bóias sonares presentes na água havia detectado algo fora do normal, de acordo com a guarda-costeira dos Estados Unidos.

Talvez por isso, os socorristas estavam confiantes até ontem de manhã de que poderiam encontrar os passageiros com vida, apesar de terem passado as 96 horas de oxigénio de emergência de que a embarcação dispunha.

Dúvidas

"Muitas perguntas permanecem sobre como, por que e quando ocorreu" o acidente com o submersível, disse Mauger, destacando que as investigações continuam.

Em tempo recorde, os socorristas montaram uma operação "complexa" que envolveu navios e aviões de vários países, incluindo Canadá, Estados Unidos, França, além de empresas privadas, com recurso a ROVs.

As comunicações entre o submarino e o navio-tanque de apoio Polar Prince, da empresa canadiana Horizon Maritime, foram perdidas no domingo, 1 hora e 45 minutos após iniciar um mergulho que deveria durar cerca de sete horas nas águas geladas do Atlântico Norte.

A detecção de ruídos subaquáticos na área de buscas na terça-feira à noite e na manhã de quarta-feira reavivou as esperanças de encontrar o submersível, direcionando as buscas dos navios e aviões envolvidos na operação para perto dos destroços do Titanic.

O transatlântico mais famoso do mundo afundou em 1912 após colidir com um icebergue na sua viagem inaugural entre a Inglaterra e Nova Iorque com 2.224 pessoas a bordo, das quais cerca de 1.500 morreram.

Desde que foram encontrados, em 1985, os seus destroços, que estão a quase 4 mil metros de profundidade e a 600 km da terra firme, se tornaram um local de fascínio para aventureiros e turistas endinheirados.

Viagem "apavorante"

Tom Zaller, diretor-executivo da empresa que organiza a exposição do Titanic, contou à AFP a sua experiência há 23 anos num mergulho semelhante ao de domingo para visitar o naufrágio mais famoso da história.

"Conforme descemos mais e mais, fica mais escuro" e "mais frio". Depois de assistir ao vídeo que gravou de si mesmo no fundo do mar, reparou que "estava completamente apavorado".

"Fiquei doze horas naquele submersível com tudo a acontecer conforme o previsto", disse, mas "nem consigo imaginar" o que é ficar vários dias trancado numa cabine onde não há espaço para se mexer ou ir ao WC.

Segurança

Nos últimos dias, veio a público um relatório sobre as possíveis falhas de segurança do submersível.

O ex-diretor de operações marítimas da OceanGate Expeditions, a empresa fabricante do submersível, David Lochridge, demitido por ter questionado a segurança do Titan, mencionou num processo judicial o "projeto experimental e não comprovado" da embarcação.

Segundo Lochridge, uma parte da frente do dispositivo foi concebida para resistir à pressão a uma profundidade de 1.300 metros, e não a 4 mil metros.