Reportagem por Emmanuelle Trecolle / AFP

Quem nunca sonhou em se isolar numa ilha tropical deserta, longe de tudo e de todos? É o que propõe a administração das Terras Austrais e Antárticas Francesas em Tromelin, uma pequena ilha a leste do Madagáscar, no meio do Oceano Índico.

Por meio de turnos de três meses, a iniciativa visa garantir a presença francesa neste território ultramarino de um quilómetro quadrado no Oceano Índico, manter a pista de aterragem e desenvolver programas de estudo e conservação.

"Atualmente há poucas oportunidades" de viver numa ilha deserta, explica o chefe da missão, Emmanuel Cajot, um ex-militar apaixonado por botânica e especialista em todos os ofícios da construção. Com 43 anos, está na sua segunda, e última, missão de três meses nesta ilha.

"Voltar? Por que não? Mas não agora, quero conhecer outras ilhas", diz.

"Quando somos recrutados, supõe-se que somos capazes de resolver problemas ou encontrar soluções alternativas", explica.

A par da enfermeira Erell Petrou e da agente ambiental Camille Legrand, o ex-soldado chega ao fim dos seus três meses de isolamento nos próximos dias. O navio de reabastecimento "Marion Dufresne" chega com os próximos três residentes de Tromelin.

A ilha, com uma altura máxima de sete metros, está coberta de "veloutiers", pequenos arbustos de onde sobressaem as cabeças dos atobás-de-pés-vermelhos, uma das sete espécies de aves existentes na área.

Atobás-de-pés-vermelhos
Um atobá-de-pés-vermelho (assim chamado por ter as patas vermelhas) aninhado com a sua cria na ilha de Tromelin créditos: Patrick Hertzog / AFP

Nada corta a visão de um lado para o outro da ilhota. Apenas alguns coqueiros se destacam no extremo norte da ilha que leva ao acampamento base, uma grande construção cercada por outras mais pequenas.

Divisão de tarefas

A chegada do "Marion Dufresne" de três em três meses é uma festa e um desafio para os três habitantes da ilha, que veem o seu isolamento terminar, mas também têm de lidar com cerca de vinte pessoas enquanto recolhem as suas bagagens, asseguram a transmissão de informações e tarefas e recebem toneladas de mantimentos de helicóptero: comida, água, materiais de construção, etc.

Enquanto Emmanuel vem e vai entre a pista de aterragem e o acampamento, carregando tubos de PVC, Erell, de 46 anos, descarrega caixas de alimentos congelados ou em conserva que os visitantes ajudam a guardar no armazém.

Enfermeira de profissão há 23 anos, explica que se deixou seduzir pela "versatilidade do cargo", que lhe permitia tirar partido de outras competências e pela ideia de "viver numa ilha deserta".

Com humor, quase lamenta que ninguém tenha precisado de atendimento médico durante a estadia, mas acrescenta que não ficou desocupada. Desde o início, "as tarefas diárias foram divididas": cada um tinha o seu dia para cozinhar e limpar as áreas comuns para evitar "conflitos".

"Mas isso não impedia a ajuda mútua", acrescenta.

Tromelin
De 3 em 3 meses, um navio reabastece a ilha de mantimentos e transporta os 3 novos habitantes. créditos: Patrick Hertzog / AFP

Ela envolveu-se especialmente nas tarefas atribuídas a Camille: contar as tartarugas verdes que vinham desovar nas praias ou os ninhos de uma espécie de ave que vive na ilha ou "espantar" os atobás que querem desovar na pista de aterragem que, apesar de não ser utilizada, deve ser mantida desobstruída em caso de emergência.

"Sem hipóteses de fuga"

Mestre em biologia de organismos, Camille, 26 anos, volta em três meses para cumprir a segunda parte do contrato. A jovem ensina aos passageiros do "Marion Dufresne" como detectar os pequenos seres marítimos que nessa época se escondem por baixo de cada galho ou localizar os blocos de coral para não perturbá-los.

Camille já passou um inverno nas ilhas Crozet, também no Oceano Índico, antes de chegar a Tromelin. "Em Crozet, gostava de ir às cabanas", situadas a poucas horas a pé, para "sair do contexto da base". "Estou feliz por sair, mas também feliz por voltar", afirma. Em Tromelin, "não há hipóteses de fuga", explica.

Grandes partes da ilha, formada por corais quebrados pelas ondas, são reservadas para a nidificação de pássaros. Na base, além dos espaços comuns - refeitório, biblioteca e ginásio - , cada um possui um pequeno quarto branco com cama, escrivaninha, armário e pia.

"Não morei em Tromelin, trabalhei em Tromelin", explica Erell. "É uma aventura que estou feliz por ter vivido, ainda mais por ser o meu último turno como enfermeira", declara.

Os três serão levados de helicóptero para a ilha francesa da Reunião e o "Marion Dufresne" continuará a sua rota para o sul em direção a Crozet e Kerguelen.