A curiosidade popular designou-as de Aljubes e Vieiros, Lapas, Covas, Buracos e Buracas “da Moura”. São cavidades que se abrem nas fragas e que a tradição diz terem extensões lendárias, não raras vezes desconhecidas. Sabe-se que eram minas antigas, contudo, desconhece-se a época e os metais que exploraram, assim como os métodos e tecnologias de desmonte.

O passado mineiro, que é referência na memória comunitária ou património local, é cada vez mais valorizado em diferentes regiões do país. É o caso de Monforte da Beira, cuja Junta de Freguesia demonstrou interesse em entender a relevância do universo de minas que se desenvolvem à volta do “Castelo”, um castro que remonta aos finais da Idade do Bronze. A equipa do Geopark Naturtejo Mundial da UNESCO, em colaboração com a Associação de Estudos do Alto Tejo que faz o inventário dos sítios mineiros desde a década de setenta, tem vindo a identificar este como um património geo-arqueológico relevante para a região, com lugares tão significativos como o Conhal do Arneiro, na freguesia de Santana, e o Complexo Mineiro da Presa-Covão do Urso, em Penamacor, extensas e importantes áreas mineiras que remontam, pelo menos, ao período Romano. Mas o que se sabe sobre os antiquíssimos poços e galerias mineiras que se abrem, com assombro, nas fragas e montes, é ainda muito pouco.

O Festival da Paisagem do Geopark Naturtejo. integrado na Semana Europeia dos Geoparques UNESCO, terminou no passado fim de semana com o arranque dos trabalhos de investigação realizados por uma equipa do Grupo de Espeleologia e Montanhismo. Com grande experiência no mapeamento e desobstrução dos fojos romanos de Valongo, aquele que poderá ter sido o maior complexo mineiro subterrâneo do Império Romano, o Grupo espera a publicação de importante obra em dois volumes sobre as descobertas realizadas, já no próximo mês. Tendo o apoio da Naturtejo, EIM, da Junta de Freguesia de Monforte da Beira e da Associação de Estudos do Alto Tejo, a equipa liderada por André Leite e Pedro Aguiar, e acompanhada pelo geólogo Carlos Neto de Carvalho e pelo arqueólogo Francisco Henriques, fizeram uma visita de prospecção às principais cavidades subterrâneas da região.

Em Monforte da Beira, ocorre a maior concentração destas antigas minas, tendo a equipa visitado cinco delas. Com uma origem ainda não decifrada, estas minas tiveram uma última fase de exploração para minérios de ferro. Na década de 50, muitas pessoas da aldeia trabalharam nestas minas que, inclusivamente, ainda são referência na sua toponímia. Já nas imediações das Portas de Ródão e em plena área protegida surge, com uma vista espantosa sobre o fosso do Arneiro, o Buraco da Faiopa. Com provável exploração romana, esta cavidade foi observada pelo arqueólogo Francisco Henriques na década de setenta. Cinquenta anos depois, Francisco desceu de novo à mina para guiar o Grupo de Espeleologia e Montanhismo, naquela que se revelou ser a mais extensa e complexa mina visitada pela equipa até ao momento. Depois de duas horas de prospecção, era visível a alegria no rosto enlameado do conhecido investigador da região: “recordei com alegria os meus tempos de juventude, com energia renovada”, referiu à boca do Buraco.

Os trabalhos multidisciplinares de topografia, geologia e arqueologia continuarão a decorrer nos próximos meses, nestas e em outras cavidades mineiras antigas conhecidas na região do Geopark Naturtejo. “Será um contributo para o conhecimento milenar do aproveitamento dos recursos naturais e uma oportunidade de valorização patrimonial”, reconheceu Carlos Neto de Carvalho.