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O Carnaval de São Paulo "é mais organizado e com mais infraestrutura" que o do Rio de Janeiro, reivindica Júnior Dentista, diretor de uma conhecida escola de samba da metrópole paulista que sonha em rivalizar, um dia, com o grande espetáculo carioca.
"O nosso [Carnaval] cresceu muito, tanto financeiramente como no atrativo para pessoas de fora, e virou uma indústria que gera muito emprego direto e indireto", resume à AFP Dentista, diretor da Mocidade Alegre, atual bicampeã de São Paulo.
Apesar da capacidade menor que a da Sapucaí no Rio, o sambódromo paulistano apostará tudo nos desfiles nesta sexta e sábado, transmitidos ao vivo na televisão e na internet, pouco antes de começarem os do Rio.
Deusdete Gonçalves, de 80 anos e que desfila desde os 52 na Mocidade, reconhece, no entanto, que o Carnaval paulistano ainda está longe da qualidade do Rio. O carioca tem fantasias e coreografias "mais evoluídas", diz.
Carnaval de rua
Além dos desfiles das escolas de samba, o país conta com o Carnaval de rua. Por vários dias e noites, os blocos reúnem milhões de foliões fantasiados em apresentações de música ao ar livre.
E São Paulo afirma liderar o pódio neste "campeonato", com um número recorde de 767 blocos de rua inscritos, acima dos 579 em 2024 e dos 482 do Rio de Janeiro neste ano.
Alê Youssef, cofundador do bloco Académicos do Baixo Augusta - que se apresenta nas redes sociais como "o maior de São Paulo" - assegura que o Carnaval de rua transformou a cidade.
Agora há "uma vida cultural muito rica, que antes ficava dentro das casas e dos clubes", afirma Youssef, de 50 anos, durante um ensaio do bloco perante seis mil pessoas.
"O Carnaval levou a nossa cultura às ruas e fez uma cidade melhor, mais humana e inclusiva", acrescenta.
Se o Carnaval carioca se destaca pela energia dos blocos que tocam entre o público, o de São Paulo tem como protagonistas os trios elétricos: camiões com potentes equipamentos de som e palcos onde artistas e DJs apresentam-se enquanto percorrem as ruas.
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Polémica
As autoridades de São Paulo também encarregam-se de promover as festividades.
"Está chegando o maior Carnaval de rua do Brasil!", publicou no início de fevereiro a autarquia paulistana nas redes sociais, uma mensagem que provocou reações sarcásticas.
"Melhor que contar... bora mostrar?", respondeu a autarquia de Olinda, Pernambuco, cidade famosa pelos enormes desfiles de bonecos gigantes.
"Obrigada pela homenagem", ironizou a da vizinha Recife, berço do Galo da Madrugada, o maior bloco do mundo, segundo o livro Guinness dos recordes, que em 2023 reuniu 2,5 milhões de pessoas.
No Rio de Janeiro, muitos foliões também gostam de falar mal do Carnaval de São Paulo.
"Aqui é alegria espontânea. Olha esse cenário, essas pessoas, esse astral do Rio! São Paulo não tem isso", opina Mónica Ieker, de 50 anos, enquanto celebra o aniversário em um "bloquinho" carioca fantasiada de cogumelo junto às amigas.
Até alguns paulistanos defendem a eterna rival. "Sou de São Paulo, mas prefiro o Rio: aqui tem praia, embora São Paulo tenha mais blocos", admite Douglas Santos, de 36 anos, coberto de glitter na praia de Ipanema.
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