No período, a ilha contabilizou apenas oito casos de COVID-19 e não tem nenhum paciente desde setembro de 2020. Também não houve hospitalizações ou mortes durante a pandemia, de acordo com as autoridades locais.

Dependente da região de Valparaíso, a Ilha de Páscoa viveu os últimos meses num isolamento quebrado apenas pelos aviões de abastecimento. Por este motivo, o povo originário rapa nui votou sobre voltar a receber os turistas ou manter as condições atuais.

Toda a comunidade indígena - 60% dos quase 10.000 habitantes do território insular do Chile - estavam convocados para decidir o futuro turístico, e por consequência económico, da ilha remota.

Há décadas, os habitantes baseiam o desenvolvimento da ilha na atração de turistas de todo o mundo.
Apenas 972 pessoas exerceram a opção de voto - menos de 20% da população rapa nui com condições de comparecer às urnas - num conselho da comunidade Ma'u Henua, administradora do parque nacional Rapa Nui, que fez a pergunta "Quer a abertura da ilha (ao turismo) em janeiro?".

A opção "não" recebeu 649 votos e o "sim" 320, além de três votos nulos, anunciou a comunidade nas redes sociais. A autoridade local não se pronunciou sobre o resultado.

A decisão final, no entanto, será da autoridade de saúde regional de Valparaíso ou do ministério da Saúde, que não explicaram se pretendem levar o resultado da votação em consideração.

"A receita da ilha é a sua indústria turística. É a fonte que movimenta a economia", explicou à AFP Salvador Atan, vice-presidente da comunidade Ma'u Henua, administradora do Parque Nacional Rapa Nui.

População dividida

O dia em Hanga Roa, capital da ilha, foi marcado pela afluência da população às urnas, instaladas sob barracas ou ao ar livre.

Hugo Atan, funcionário do município, explicou à AFP que não está convencido ainda de que a ilha possa abrir as portas ao turismo internacional até que a pandemia esteja controlada a nível mundial, por isso, votou não.

"Acho que (a Ilha de Páscoa) pode viver (sem abrir), só temos que nos reinventar e recordar o que os nossos pais e os nossos avós fizeram antes. Eles sobreviveram (sem turismo)", afirmou.

Uri Erisa Tuki Teave considerou que a sobrevivência da ilha e da sua população passa por voltar a uma economia baseada na indústria do turismo, como ocorria antes da pandemia.

"É muito simples, há quase dois anos estamos fechados, os recursos diminuíram de tal forma que chegam apenas para sobreviver", disse à AFP, acrescentando que seguindo as recomendações sanitárias e vacinando-se não há porque temer a volta dos turistas.

A comunidade está perante um dilema, segundo Atan: a pequena capacidade do sistema de saúde para minimizar contágios com a chegada de turistas e a situação económica de um território que depende exclusivamente desta receita para sobreviver.

A Ilha de Páscoa tem 73,1% da população vacinada contra o coronavírus, mas o centro médico de Hanga Roa - capital da ilha - não possui uma área para os cuidados intensivos, mas sim ventiladores.

Além disso, apenas uma ambulância enviada há um mês do continente está equipada para tratar um paciente em risco de vida por COVID-19.

"Até ao fim do ano temos que fazer um passo a passo para acostumar novamente a comunidade ao uso da máscara, à vacinação do povo rapa nui e de todos que moram aqui, porque com isso vamos minimizar os efeitos da COVID", declarou Atan.

Este líder comunitário, assim como as autoridades locais, mostrou-se favorável à reabertura da ilha em janeiro para os turistas.