Inaugurado em 2002, o Porto d’Abrigo foi o primeiro equipamento do género no país e, durante muitos anos, o único a receber animais marinhos para reabilitação, sobretudo tartarugas marinhas e cágados, mas também focas, lontras e, mais raramente, golfinhos, disse à Lusa o diretor de Conservação do parque, Élio Vicente.

Tal como num hospital, o Porto d’Abrigo tem uma enfermaria de cuidados intensivos, onde os animais que podem estar fora de água, como cágados, lontras e algumas tartarugas, permanecem caso necessitem de cuidados especiais, e enfermarias exteriores com piscinas em vez de camas, para onde os animais vão quando passam para o recobro.

Como os animais que ali chegam são selvagens e se desconhece se possuem algum tipo de vírus, bactérias ou parasitas, todo o cuidado é pouco, razão pela qual a equipa que trata deles não contacta com os outros animais do parque, tendo que se equipar e desinfetar cada vez que ali entra, num ambiente de “quarentena permanente”, acrescentou.

Segundo Élio Vicente, muitos dos animais que passam pelo Porto d’Abrigo ficaram presos em redes de pesca, mas há também aqueles que são abalroados por embarcações ou cortados por hélices de barcos, atropelados por carros (no caso dos cágados), chegando também ali animais “que foram retirados dos seus ‘habitats’ naturais e não deviam ter sido”.

Já no caso dos mamíferos marinhos, como as lontras, focas ou golfinhos, podem necessitar de cuidados devido a problemas de saúde semelhantes aos dos humanos: desde infeções, a infestações de parasitas, problemas no parto, oftalmológicos ou até cancros, sublinhou aquele responsável.

No final de maio, chegou ao Porto d’Abrigo do Zoomarine um cágado, depois de a equipa coordenada pela enfermeira veterinária Antonieta Nunes ter sido contactada por um particular cujo sogro, que cuidava do cágado há 50 anos, faleceu, levando a que a família procurasse um local que recebesse o cágado, que está num processo de reabilitação que se antevê longo até que possa regressar ao seu ‘habitat’.

“Vai passar um período de reabilitação longo, que inclui também uma reabilitação comportamental, pois esteve muito tempo em cativeiro”, explicou aquela responsável, acrescentando que o objetivo é que o animal adquira “um comportamento normal para a sua espécie”.

Assim, um dos objetivos é criar alguma distância entre os humanos e o animal para que este não os procure, “nem à procura de alimento, nem à procura de conforto ou de carinho”, sendo necessário garantir “que o animal não associa o alimento aos humanos”, referiu.

Numa das piscinas exteriores está “Salina”, uma tartaruga marinha que foi encontrada há cerca de um ano presa nas redes de um pescador, que contactou o Zoomarine para que fosse tratada. Quando ali chegou, estava anémica e com uma lesão no estômago que revelou ser um anzol que lá ficou preso.

Prestes a ser devolvida ao meio natural, em julho, “Salina” é um das centenas de animais que o Porto d’Abrigo reabilitou, numa média de 25 animais por ano, processo que tem uma “elevada” taxa de sucesso, salientou Antonieta Nunes.

Depois de recuperados, os animais são, na maioria das vezes, devolvidos ao mar algarvio, quando aquele é o seu ‘habitat’, mas também podem ser transportados para outros países que sejam as suas áreas de distribuição natural, pois pode acontecer serem arrastados até à costa algarvia pelas correntes marítimas.

“Nas situações mais dramáticas, em que os animais ficam paralisados, cegos ou estão demasiado dependentes dos humanos, então, nesse caso, são entregues ao Estado português, que decide o seu destino final, pode ser um centro de acolhimento definitivo ou um santuário”, concluiu Élio Vicente.