O Centro Interpretativo das Gares Marítimas de Lisboa abre ao público em fevereiro de 2025, tornando acessíveis a toda a população os 14 painéis de Almada Negreiros, restaurados, fazendo daquele um polo cultural que liga Alcântara a Belém.
O Centro Interpretativo “Os Murais de Almada nas Gares Marítimas” foi ontem apresentado em Lisboa pelo ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, e pelos promotores do projeto, a Administração do Porto de Lisboa, a Câmara Municipal de Lisboa e a Associação Turismo de Lisboa.
Os painéis de Almada Negreiros constituem o maior conjunto de pintura mural portuguesa do século XX e a expressão máxima do modernismo português, como destacou o ministro.
Localizado na Gare Marítima de Alcântara, este centro interpretativo permitirá a fruição daquelas obras de arte por todos os cidadãos e por turistas, dinamizando simultaneamente o seu conhecimento, sobretudo para o público escolar.
Ao longo de nove salas do piso zero estará disponível extensa informação sobre os murais de Almada Negreiros - que podem ser visitados na Gare Marítima de Alcântara (oito painéis), e na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos (seis) – mas também sobre a história da construção das gares marítimas e o seu papel histórico e social.
Para Miguel Pinto Luz, a possibilidade de os lisboetas e todos aqueles que visitam a cidade acederem a estas obras “magníficas” é algo “absolutamente incomparável com tudo o resto que tenha sido feito”.
“Enquanto ministro das Infraestruturas, é muito bom ver que o porto de Lisboa já não está de costas voltadas para a cidade. O porto de Lisboa hoje tem que ter uma relação simbiótica com a cidade, e os lisboetas têm que ter acesso a isto, não pode estar fechado nas quatro paredes e, portanto, Almada [Negreiros] tem que estar representado neste novo centro interpretativo, para dar acesso a todos os lisboetas àquilo que vai ser o novo porto de Lisboa, um porto que não são só contentores, não é só atividade económica, mas é também virado para o Rio Tejo”, afirmou, em declarações aos jornalistas.
Este projeto inclui não só o restauro dos próprios murais, mas também a criação de todo o centro interpretativo, “um espaço museológico que representa também aquilo que era a atividade portuária na década de 1940”, acrescentou o ministro.
No futuro centro interpretativo, o visitante poderá ficar a conhecer o contexto de construção e decoração dos Terminais de Navegação, a relação entre o arquiteto Pardal Monteiro, autor dos edifícios, e o artista Almada Negreiros, os estudos de Almada Negreiros para as pinturas murais nas Gares Marítimas e os diferentes momentos políticos e históricos que atravessaram o funcionamento das Gares, incluindo a II Guerra Mundial, a emigração, as partidas para a Guerra Colonial e o processo de descolonização com o regresso dos portugueses das ex-colónias.
Será explicado igualmente o contexto da encomenda das obras ao artista e a polémica gerada à época com o resultado final, distante dos objetivos propagandísticos da ditadura.
Como destacou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, “o que está ali retratado é a Lisboa humilde que Almada queria mostrar, mas que o Estado Novo queria esconder: a vida do cais, a verdadeira realidade de Lisboa está ali. Esta é uma obra do povo de Lisboa”
Será ainda exposta a presença artística de Almada Negreiros na cidade de Lisboa, nomeadamente os espaços onde é possível encontrar outras obras suas, bem como a sua documentação sobre as Gares Marítimas, depoimentos, entrevistas, notas, fotografias e reproduções de obras e documentos.
Carlos Moedas considerou, em declarações à margem da cerimónia, este “um dia histórico e importante para Lisboa, porque é esta ligação entre a cultura e o turismo”.
“Estamos aqui a inaugurar este centro interpretativo de Almada Negreiros, com 3,5 milhões que vêm dos turistas e eu penso que é muito importante no momento em que vemos às vezes a criação de alguma fricção em relação a um setor tão importante para a economia como é o turismo, que o turismo contribua para os lisboetas”.
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