Milhares de pessoas reuniram-se esta quinta-feira (11) em várias praças espalhadas pela Bolívia para mascar folha de coca, uma planta sagrada para os indígenas, que se tornou a matéria-prima da cocaína e que o governo tenta libertar desse estigma perante o mundo.
O evento principal ocorreu em La Paz, com a participação do presidente, Luis Arce. Rodeado de cultivadores de coca ("cocaleros"), o governante colocou algumas folhas na boca e relançou a campanha internacional para que a planta não seja vista apenas como uma substância ilegal: "É uma prioridade nacional. Iniciamos uma campanha para desclassificar a folha de coca como narcótico."
No Dia do "Acullico" (ato de mascar a coca, em quéchua), Arce prometeu intensificar o uso da planta na medicina e na produção de bebidas, pastilhas elásticas, sabonetas e outros produtos.
Acredita-se que os sucos da folha atenuam a fome e eliminam o cansaço. "Em todos os cantos da Bolívia, até mesmo as pessoas de classe média consomem diariamente", disse à AFP Mery Villalba, uma das líderes dos cocaleros.
Desde 1961, a folha de coca, por ser matéria-prima para a produção de cocaína, é catalogada como substância controlada. Em 2013, a Bolívia, de maioria indígena, aderiu às convenções internacionais contra as drogas com a condição de permitir o ato de mascar coca com fins ancestrais e medicinais no seu território.
A Lei da Coca permite o cultivo de 20 mil hectares para consumo interno com fins legais. Todavia, no seu relatório mais recente, o Departamento das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) estimou a área cultivada em quase 30 mil hectares, o que significa que parte da produção acaba por alimentar o narcotráfico.
O líder indígena e ex-presidente Evo Morales lembrou a data rodeado dos seus apoiantes, no Trópico de Cochabamba. Distanciado de Arce, Morales afirma que o governo protege o narcotráfico.
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