A estreia de composições sobre textos dos dois escritores, pelo quarteto do guitarrista André Fernandes, o novo projeto de Júlio Resende e Salvador Sobral, a "arte urbana" de André da Loba e o trabalho de reclusos do Estabelecimento Prisional de Lisboa, que também evocam a obra de Pessoa, são algumas das iniciativas dos "Dias do Desassossego" e das suas manifestações paralelas.
A programação, desenvolvida pela Casa Fernando Pessoa e pela Fundação José Saramago, abre no dia 16, quando passam 94 anos sobre o nascimento do Nobel português da literatura, e termina no dia 30, quando se completam 81 anos sobre a morte do autor de "Mensagem".
Os "Dias do Desassossego" abrem com a peça "A ilha desconhecida", de Saramago, pelo grupo de teatro Trigo Limpo, da Associação Cultural e Recreativa de Tondela (ACERT), na Casa dos Bicos, em Lisboa, sede da Fundação José Saramago (FJS).
"'A ilha desconhecida' navega pela história de um homem que queria um barco, para procurar uma ilha desconhecida, de um rei que lho concedeu, de uma mulher da limpeza que afirmava: 'Se não sais de ti, não chegas a saber quem és'", e nasce da relação de amizade entre a ACERT e a FJS, como "um objeto teatral que transcende a dimensão literária e desafia quem a vê a procurar as suas ilhas desconhecidas", segundo a organização.
No dia 20, o Quarteto de André Fernandes estreia, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal São Luiz, duas composições, sobre obras de Saramago e Pessoa, que nascem de interrogações que os livros suscitam aos músicos: "Que sons nascem dessas leituras?".
O quarteto é formado por André Fernandes (guitarra), Demian Cabaud (contrabaixo), Marcos Cavaleiro (bateria), José Pedro Coelho (saxofone) e inclui a voz de Sara Badalo.
No dia 29, estreia-se o Ensemble Jovem José Saramago, de Marisa Silva (piano), Manuel de Almeida Ferrer (violino), Gonçalo Lélis (violoncelo) e Tiago Amado Gomes (voz), na Casa dos Bicos, com duas peças de Fernando Lopes-Graça para textos de Pessoa e Saramago.
O ciclo "Dias do Desassossego" encerra no dia 30, também com música, na Casa Fernando Pessoa, que celebra o seu 23.º aniversário, com o programa "Alexander Search em concerto", o novo projeto dos músicos de jazz Júlio Resende e Salvador Sobral, a partir de poemas escritos por Pessoa em inglês que foram musicados: "As canções precisam de ser cantadas, como os poemas com mais de cem anos precisam de ser ditos".
Fernando Pessoa viveu os últimos 15 anos no primeiro piso direito do n.º 16, da rua Coelho da Rocha, em Lisboa, edifício que acolhe, desde 1993, a Casa Fernando Pessoa. No dia 30, a entrada na Casa é gratuita, e há uma visita guiada às 15:00.
Em paralelo a este ciclo, realiza-se o projeto de "arte urbana" do ilustrador André da Loba "Pessoa e Saramago nas ruas de Lisboa", no Pátio do Tijolo, ao Príncipe Real, em colaboração com a Galeria de Arte Urbana, da Câmara de Lisboa.
André da Loba vai "fixar o seu trabalho", "visível a quem passa, mas também [durante] o processo de criação", adianta a organização.
Da programação paralela faz também parte o projeto de declamador Filipe Lopes, no Estabelecimento Prisional de Lisboa. Um grupo de reclusos "vai trabalhar com a obra de Fernando Pessoa, revisitando-a e reescrevendo partes dela", nos dias 21 a 26, culminando o processo na construção conjunta de um texto, a apresentar em recital, a outros reclusos e às suas famílias.
Os "passeios literários" têm início no dia 19, à tarde, pelos bairros do Príncipe Real e da Estrela, até à Casa Fernando Pessoa, e prosseguem a 20 pela "Lisboa de Saramago".
Os percursos são retomados nos dias 26, com Saramago, e 27, com a temática pessoana, sob o mote "Outra vez te revejo".
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