O relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) apresenta um panorama desolador sobre o futuro do planeta, caso o aquecimento global não seja contido.
No documento, os especialistas concluem que o ser humano é, "de maneira indiscutível", responsável pelas mudanças climáticas e alertam que não há outra opção a não ser reduzir, drasticamente, as emissões de gases causadores de efeito estufa.
"Precisamos reverter esta tendência", disse Diann Black-Layne, a principal negociadora sobre o clima da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS, na sigla em inglês) e embaixadora de Antígua e Barbuda na ONU, conforme um comunicado divulgado durante a noite da passada segunda-feira, dia 09 de agosto.
"O facto é que, se limitarmos o aquecimento a 1,5°C, corremos o risco de um aumento do nível do mar de meio metro. Mas, se impedirmos que o aquecimento chegue a 2°C, podemos evitar um aumento do nível do mar de três metros no longo prazo. O nosso futuro está aqui em causa", frisou.
A AOSIS agrupa 39 Estados de todo mundo, entre os quais, Cuba, Jamaica, República Dominicana, Fiji, Maldivas e Timor Leste. Estes países insistem na necessidade de se adotar medidas radicais para limitar o aquecimento a 1,5°C, conforme estabelecido no Acordo de Paris de 2015.
De acordo com o relatório do IPCC, o mundo vai atingir este nível em 2030, ou seja, dez anos antes do que o previsto nos cálculos feitos em 2018.
E, mesmo que se consiga limitar o aquecimento a +1,5°C, ondas de calor, inundações e outros eventos extremos sofrerão um aumento "sem precedentes", tanto na sua magnitude e frequência quanto local e época do ano em que ocorrem, adverte o IPCC.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, declarou que as emissões de gases causadoras do efeito estufa derivadas dos combustíveis fósseis e do desmatamento estão a "asfixiar" o planeta.
"Não há tempo para esperar, nem lugar para desculpas", frisou Guterres.
Aprovado na última sexta-feira (6) por 195 países, o primeiro relatório de avaliação do IPCC em sete anos analisa cinco cenários de emissões, do mais otimista ao mais pessimista.
Em todos os relatórios, a temperatura do planeta alcançaria o limite de +1,5ºC em relação à era pré-industrial por volta de 2030. Antes de 2050, este limite seria superado, chegando inclusive a +2ºC, se as emissões não forem reduzidas drasticamente.
Isto representaria o fracasso do Acordo de Paris, que pretendia limitar o aquecimento global a abaixo de +2ºC, ou, se possível, de +1,5ºC.
Entre estas projeções sombrias, o IPCC traz um resquício de esperança.
No melhor cenário, o aquecimento poderá voltar ao limite de +1,5ºC, se as emissões forem reduzidas drasticamente e se for absorvido mais CO2 do que o emitido.
O IPCC afirma, porém, que as técnicas que permitem recuperar em larga escala o CO2 na atmosfera ainda estão a ser estudadas.
Comentários