O objetivo do Acordo de Paris é manter o aquecimento "muito abaixo" de +2°C, em +1,5°C se possível, em relação à era pré-industrial, um limite que se tornou o objetivo principal.

Mas a primeira série de "Contribuições Determinadas Nacionalmente" (NDC) dos signatários levava o planeta a um aumento de 3-4°C.

Desde então, houve alguns avanços, mas a última avaliação da ONU, tendo em conta os compromissos assumidos pelos países, aponta para um aquecimento "catastrófico" de +2,7ºC.

Na melhor das hipóteses, chegaria a +2,2°C, se consideradas as "vagas" promessas de neutralidade de carbono no meio do século.

China

A China gera um quarto das emissões mundiais de gases de efeito estufa. Em 2016, o país comprometeu-se a reduzir a sua intensidade de carbono (emissões de CO2 em relação ao PIB) em 60-65% até 2030 e a atingir o pico de emissões "por volta de 2030".

Com o país a caminho de atingir esse pico antes de 2030, o presidente Xi Jinping surpreendeu a todos em 2020 ao anunciar uma meta de neutralidade de carbono para 2060.

Mas a China, que está prestes a aumentar a sua produção de carbono em 6% para lidar com a escassez de eletricidade, não apresentou o NDC revisado e os observadores estão a esperar por mais detalhes para avaliar os seus compromissos.

Estados Unidos

Segundo maior emissor do mundo, os Estados Unidos comprometeram-se, durante a presidência de Barack Obama, a reduzir as emissões em 2025 entre 26-28% em relação aos níveis de 2005.

O presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo, ao qual regressou com Joe Biden no início de 2021, que reforçou as metas de uma queda de 50-52% até 2030.

Este objetivo não ultrapassa os +2ºC, mas é insuficiente para +1,5ºC, segundo o grupo Climate Action Tracker (CAT), que considera que Washington não cumpre a sua parte.

União Europeia

A União Europeia (UE) comprometeu-se em 2015 a reduzir as emissões de CO2 em pelo menos 40% até 2030 em relação a 1990 e, em dezembro passado, aumentou para "pelo menos 55%".

Este objetivo está alinhado com +2ºC, de acordo com o CAT.

O Reino Unido, já fora da UE, aumentou a sua ambição com um novo patamar de redução das emissões em "pelo menos 68%" em 2030 face a 1990. Segundo o CAT, este objetivo é compatível com um mundo a +1,5ºC.

Índia

Como a China, o compromisso inicial da Índia baseia-se numa redução da intensidade de carbono, de 33-35% para 2030 com relação ao nível de 2005.

Desde então, a Índia não apresentou um novo NDC, nem indicou os seus planos.

Rússia

A Rússia, que aderiu formalmente ao Acordo de Paris apenas em 2019, apresentou o primeiro NDC no final de 2020.

Nele, recupera os antigos compromissos de limitar as emissões em 2030 a 70% do nível de 1990, ou seja, uma redução de 30%.

Para o CAT, é muito insuficiente.

O presidente Vladimir Putin mais tarde prometeu intensificar a luta contra o aquecimento e evocou uma meta de neutralidade de carbono para 2060.

Japão

O Japão comprometeu-se em 2016 a reduzir as emissões em 26% até 2030 em comparação com a situação em 2013. A nova contribuição em março de 2020 não alterou este número.

O primeiro-ministro Yoshihide Suga, que chegou ao poder depois, reforçou os compromissos. O novo NDC de outubro de 2021 eleva a meta para uma queda de 46% até 2030, em linha com um planeta a +2°C, de acordo com o CAT.

E o resto do G20?

Entre os demais grandes países emissores, Brasil, México, Austrália, Coreia do Sul e Indonésia apresentaram compromissos revistos, mas sem reforçar os objetivos, segundo especialistas.

Na verdade, os novos NDCs do México e do Brasil levariam a um aumento das emissões, de acordo com um relatório recente da ONU.

Em contraste, Argentina, África do Sul e Canadá definiram metas mais ambiciosas.

A Arábia Saudita apresentou o novo NDC no dia 23 de outubro, alegando queo mesmo duplica os compromissos, mas ainda não foi avaliado por especialistas.

A Turquia acaba de anunciar a ratificação do Acordo de Paris, abrindo caminho para a apresentação do seu primeiro NDC.

O G20, cujos dirigentes reúnem-se este fim de semana em Roma, é responsável por três quartos das emissões globais, por isso, a ação deste grupo é fundamental para evitar um aquecimento abaixo de +1,5ºC.

Neutralidade de carbono

O Acordo de Paris também evoca o objetivo de "equilíbrio" entre as emissões e a absorção de gases de efeito estufa "ao longo da segunda metade do século".

Sob pressão da ONU, mais e mais países estão a comprometer-se com essa neutralidade de carbono, a maioria até 2050, enquanto outros até 2045 ou 2060.

Excluindo promessas vazias, 49 países, que respondem por 57% das emissões globais (incluindo a União Europeia e os Estados Unidos), comprometeram-se formalmente com isso, de acordo com o último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

De qualquer forma, seja para atingir a neutralidade de carbono ou para limitar o aquecimento a +1,5°C, são necessários planos coerentes e confiáveis no curto prazo para reduzir as emissões de CO2 em 45% até 2030, insiste a ONU.