Uma nova lei local proibiu a partir desta semana o aluguer de apartamentos para estadias de menos de um mês, deixando fora de jogo boa parte dos 36 mil alojamentos locais da cidade.
A nova lei permite o aluguer de quartos apenas se o anfitrião morar no apartamento e estiver presente durante a estadia dos visitantes, que não podem ser mais de dois ao mesmo tempo e não podem trancar a porta do quarto. Para isso, o anfitrião terá de registar-se na Câmara Municipal e pagar 145 dólares a cada dois anos.
As autorizações, no entanto, são concedidas a conta-gotas. Dos mais de 3.800 pedidos feitos até agora, menos de 300 foram aprovados. A multa para os infratores varia de 1.000 a 7.500 dólares e não afeta os utilizadores do serviço.
A autarquia quer acabar com o que chama de "prática ilegal, que gera barulho, lixo e problemas de segurança”, tanto para os visitantes quanto para os residentes.
"Muitos edifícios residenciais não têm seguranças adequados para lidar com viajantes", alega o escritório de aplicação especial da legislação, encarregado de fazer cumprir a norma, aprovada em janeiro de 2022, após anos de tentativas de regular esse mercado.
"Não são bem-vindos"
“A cidade envia uma mensagem clara a milhões de potenciais visitantes que terão menos opções de hospedagem em Nova Iorque: não são bem-vindos”, afirma em comunicado enviado à AFP Theo Yedinsky, diretor de Política Global do Airbnb, uma das maiores plataformas que operam no mercado.
Numa cidade com rendas de cerca de 5 mil dólares mensais, um dos objetivos da nova lei é que muitos desses alojamentos locais sejam colocados no mercado e aliviem a escassez crónica de habitação na cidade. Mas muitos acreditam que a medida irá criar uma crise maior.
A organização Rhoar, que reúne pequenos proprietários de, no máximo, dois imóveis, afirma que eliminar os alugueis por curto prazo "irá ameaçar a capacidade dos proprietários de pagar as hipotecas, podendo criar uma crise adicional na habitação”.
Esse é o caso de Tricia T., 63, que preferiu não revelar o sobrenome. Ela alugava a parte de baixo da sua casa, de dois andares, no Brooklyn. Recém-aposentada, se deixar de receber os 3 mil dólares mensais, em média, dos alugueis, talvez tenha de voltar a trabalhar, disse à AFP.
"Quase todos os membros da organização compraram casas julgando que teriam o direito de fazer o que quisessem” com elas.
“Todos aguardam para ver o que irá acontecer a partir de agora, porque ninguém acredita que isso seja uma mudança permanente”, destacou Tricia, enquanto a sua organização tenta uma exceção para pequenos proprietários de apartamentos turísticos.
"Tiro no pé"
Nma cidade que, em 2019, recebeu 66,6 milhões de visitantes e gerou 283 mil empregos, segundo dados do Office of the State Comptroller, a nova lei pode contribuir para aumentar o preço dos hotéis e afastar as pessoas com menos recursos.
“Tem muito visitante jovem em Nova Iorque que não pode hospedar-se num hotel ou frequentar os restaurantes daqui", ressaltou Joe McCambley, de 66 anos, ex-utilizador do Airbnb, que acredita que a cidade está a cometer “um grande erro e a dar um tiro no pé”.
"Estão a eliminar a concorrência. Alguém está a pagar aos políticos para fazerem isso", afirmou o filho de Joe, Luke McCambley, 33 anos, que alugou o seu próprio apartamento durante a pandemia para complementar a renda.
Segundo um relatório elaborado pelo professor da Universidade de Boston, Michael Salinger, para o Airbnb, a nova norma não se justifica economicamente, nem irá resolver um dos problemas que pretende corrigir: o da escassez de habitação na cidade.
Salinger considera a norma "um duro golpe" na economia local ligada ao turismo e em milhares de nova-iorquinos e pequenas empresas de bairros periféricos que dependem destas rendas e da receita do turismo para sobreviver.
Embora mais restritiva, Nova Iorque segue cidades como São Francisco (que limita esse tipo de aluguer a 90 dias por ano, no máximo) na regulamentação do setor, que mudou a cara do centro histórico de muitas cidades turísticas nos últimos anos.
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