Bilhete-postal enviado por Tiago David
Fui a Milão acompanhar os MTV Europe Music Awards 2015. Entre reportagens, concertos e correrias, há sempre oportunidade para conversas. Ir sozinho tem as suas vantagens.
24 de outubro. 10h54. Estação de Comboios do Aeroporto de Malpensa, Milão. Filas enormes para tirar bilhetes. Faltam apenas quatro minutos para o comboio partir para o centro de Milão. Atrás de mim, um rapaz impaciente - "tal como eu deve querer apanhar este comboio", pensei e acertei.
- Vais no próximo comboio?, perguntou
- Sim.
- Sabes tirar bilhete?
- Não... é a minha primeira vez.
- Posso tirar? Tiro dois, para mim e para ti, para tentarmos chegar a tempo.
- Ok, obrigado.
E lá me tirou o bilhete e desatou a correr. Corri também enquanto tentava tirar o dinheiro da carteira. Mas a correria foi em vão, o comboio tinha acabado de fechar as portas, o que significava ter de esperar mais de 30 minutos pelo próximo.
Ainda a recuperar o fôlego, começámos a falar. Aquelas coisas da treta: "como te chamas, que idade tens, de onde vens, para onde vais, o que fazes da vida, é a primeira vez em Milão?". E por aí fora.
Ele disse-me o nome, mas confesso que não percebi. Nasceu em Srinagar - capital, durante o verão, do estado de Jammu e Caxemira -, na Índia, e estuda em Zurique. Estava em Milão pela segunda vez para visitar colegas e trazia uma mochila cheia de livros.
Lá entrámos no comboio e começámos a falar sobre música, não fosse eu fazer reportagens na cerimónia dos MTV EMA.
"Como é que num mundo cheio de boas vozes há espaço para cantores como os One Direction?", reflectia, perguntando-me o que ouviam os portugueses. "O mesmo. Os artistas pop que estão nos tops americanos, britânicos ou italianos, também são os mais ouvidos em Portugal", disse-lhe. Aproveitei também a oportunidade para falar de alguns cantores e bandas portuguesas. "Como gostas de metal, ouve Moonspell. Mas os cantores mais conhecidos são fadistas, como a Mariza ou a Ana Moura", contei, tentando-lhe explicar o que era o Fado.
- E há algum cantor português conhecido em todo o mundo, tipo uma Rihanna?, perguntou.
- Sim, a Nelly Furtado. Não é uma Rihanna, mas...
- Ah, conheço. Nem é a pior (risos).
Da música, saltámos para o mundo das séries televisivas. Confesso, fui eu que puxei o tema - queria saber a opinião dele sobre "Segurança Nacional" e as mensagens deixadas em alguns graffitis da série. "Não vejo muitas séries, gosto apenas de ver comédias tipo 'A Teoria do Big Bang' porque são simples e dá para descontrair". "E 'Segurança Nacional', vês?", perguntei. "Não. Mas vi as mensagens deixadas por artistas de rua nas paredes e adorei. A série está repleta de preconceitos, mas não é das piores", sublinhou.
E a viagem lá foi passando. Chama-se Omar Wani e tem 25 anos. Estudou hidro-ciência e engenharia na Universidade Técnica de Dresden e no Instituto Water Education da UNESCO. Atualmente estuda no Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, onde também trabalha.
Resumindo: O melhor de uma viagem não são as fotografias que dão dezenas "gostos" no Instagram, não é o hotel, muito menos os souvenirs. O melhor é o que os sentidos captam, o que a memória guarda. O melhor é a descoberta do novo. O melhor é a saudade que fica e o desejo de voltar.
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