"Pareceu-nos difícil incluir no guia um restaurante que indicou de forma clara que não o desejava, que não queria fazer parte da grande família de estrelas do Michelin", explicou Claire Dorland-Clauzel, integrante do comité executivo do grupo.
Esta é a primeira vez que acontece um caso deste género. "Sébastien Bras informou que foi uma decisão familiar, refletida com cuidado. O próprio explicou que estava a entrar numa nova etapa da sua vida. Nós respeitamos decisões familiares", disse a representante do guia.
Em setembro, Bras, cujo restaurante na cidade francesa de Laguiole integra o grupo dos 27 estabelecimentos com três estrelas de França, anunciou que não queria aparecer na edição de 2018 "em acordo com toda a família".
Na ocasião, o guia respondeu que a remoção não poderia ser automática, visto que a Michelin tem "independência" no momento de atribuir as estrelas.
"Retirar o Le Suquet da lista não foi uma decisão fácil, tivemos que refletir algum tempo", admitiu Claire Dorland-Clauzel, que não acredita que outros chefs sigam os passos de Bras.
"Temos mais pessoas a desejar entrar no guia do que ao contrário. Muitos chefs afirmaram que ser incluído na lista é um reconhecimento, uma honra, um impulso enorme para o estabelecimento, para a notoriedade, para o seu volume de negócios", comentou.
A agonia da perfeição
"Talvez eu tenha menos notoriedade, mas assumo", disse em setembro Sébastien Bras, que herdou o restaurante do pai.
O chef, que prometeu que o cliente não vai notar a diferença no restaurante, afirmou que sair da lista significa liberdade.
"Vou sentir-me livre, sem ter de perguntar se as minhas criações agradam ou não os inspetores do Michelin", completou.
O chef acrescentou ainda que as visitas dos inspetores são uma fonte de stress.
"Somos inspecionados entre duas a três vezes por ano. Não sabemos quando. Cada prato que sai pode ser inspecionado. Ou seja, a cada dia, um dos nossos 500 pratos pode ser julgado", explicou Bras à AFP.
Na sua reflexão, o chef admitiu que, como todos os profissionais da gastronomia, ele recorda-se do suicídio em 2003 do chef de três estrelas Bernard Loiseau. "Mas não me sinto desta maneira", garantiu.
Antes de Bras, vários chefs franceses renunciaram as suas três estrelas, como Alain Senderens, que , em 2005, anunciou que não aguentava mais a agonia da perfeição, mas permaneceu no guia apenas com uma estrela, e Joël Robuchon, que em 1996, quando estava no auge, fechou as portas do seu estabelecimento alegando stress. Atualmente, no entanto, é o chef com mais estrelas do mundo.
Em Espanha, Ferran Adrià encerrou o seu restaurante de três estrelas El Bulli em 2010, alegando que estava cansado de trabalhar 15 horas por dias e por querer encontrar outras fontes de inspiração.
Fonte: AFP
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