"Está na hora de reinventar o vinho verde tinto. Curiosamente, a alteração climática favorece-nos nisso, porque conseguimos maiores maturações, temos mais sol", disse, em entrevista à agência Lusa, o presidente da CVRVV há 22 anos, que abandonará o cargo em abril.
Reconhecendo que "o vinho verde tinto como está atualmente não é um sucesso de mercado", o responsável da CVRVV considerou que é necessário, primeiro, "reinventar o vinho e depois fazer o seu ‘marketing’", já que "o problema do vinho verde tinto é um problema do próprio vinho, mais do que apenas do 'marketing'".
"Temos que o alterar. Como? Certamente indo buscar outras castas, certamente indo buscar outras técnicas de vinificar", admitiu na entrevista à Lusa, apontando às alterações climáticas e a fenómenos como a insolação, que aumentam o grau alcoólico.
Se nos anos 90 do século passado havia "grandes fenómenos de geada e de granizo", nos últimos anos "a geada praticamente desapareceu do Minho".
"Temos algum granizo e temos fenómenos de insolação. A insolação nunca existiu no Minho, é um fenómeno novo. Ou seja, o excesso de calor e o excesso de incidência do sol sobre os cachos", explicou, o que obriga a "gerir melhor a água" e a "escolher plantas que estejam mais adaptadas a um clima novo", o que pode favorecer os tintos.
Para o presidente da CVRVV, o vinho verde tinto tem, ao mesmo tempo, "de se libertar da gastronomia local, da restauração e do turismo local" sem deixar de ser "associado às tradições da região", devendo ser "apresentado mundialmente como um tinto, mas com características únicas".
"A seguir temos que encontrar uma forma de comunicação própria que tem de ser muito distinta do branco. O tinto não pode ser jovem, leve e fresco", defendeu Manuel Pinheiro.
Atualmente, o vinho verde branco representa cerca de 85% da produção da Região dos Vinhos Verdes, sendo os restantes 15% atribuídos ao tinto (maior expressão) e ao rosé (menor expressão).
O responsável sugeriu olhar a Norte, para a Galiza, já que os galegos "têm uma produção de vinho tinto pequena mas com grande valor e grande sucesso, com garrafas a preços médios na casa dos 20 euros".
"Eles usam castas próprias e estão a ter sucesso a ter vinhos tintos que são muito finos, muito elegantes, e que se distinguem dos tintos do sul de Espanha 'pesadões', e que se distinguem também do vinho verde tinto, que é muito étnico", detalhou.
Manuel Pinheiro admitiu que a Galiza "está a inovar e está a fazer bem feito em tintos".
"Julgo que renovar os nossos tintos passa por testar aqui algumas castas galegas, testar aqui alguns processos e perceber como é que eles fazem e se podemos melhorar", reconheceu.
O responsável da CVRVV disse ainda que o mercado galego não tem "nenhuma" expressão para a região portuguesa dos vinhos verdes, algo que é recíproco, apesar do rio Minho ser "uma fronteira sobretudo administrativa" e não "de climas nem de solos".
"É justo dizer que os portugueses não bebem vinhos galegos e os galegos não bebem vinhos portugueses. Estamos os dois a perder boas oportunidades, é um disparate duplo. Se calhar é mais desconhecimento do que conservadorismo", sugeriu.
Para Manuel Pinheiro, o Norte de Portugal e a Galiza "podiam multiplicar em muito a sua competitividade se trabalhassem mais em equipa e se trocassem mais informações".
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