Primeiro, temperam-se as carnes, separam-se as batatas, incluindo a coa  — um tubérculo da família da batata-doce  —, o feijão verde e as bananas. Depois, tiram-se as pedras (que ficaram a aquecer cerca de 40 minutos) do "forno": um buraco no meio da terra que ajuda a conservar o calor.

O dia está um pouco cinzento e, ao longo da manhã que já lá vai, conseguimos sentir tanto frio como calor. É assim a inconstância do tempo entre as montanhas de Cusco, tal como é certa a beleza que rodeia a remota unidade turística onde nos encontramos.

Enquanto admiramos a paisagem ao redor do Las Qolqas Eco Resort, a curiosidade faz-nos aterrar outra vez na terra, pois queremos saber quais são os passos que se seguem na preparação da até então, para nós, desconhecida pachamanca.

coa  — um tubérculo da família da batata-doce
coa  — um tubérculo da família da batata-doce Coa. No Peru existem mais de mil variedades de batatas. créditos: Ana Oliveira

Com tantos séculos de sobrevivência, técnica peculiar e popularidade (no Peru), como é que não conhecíamos este prato? É entre a grandeza das montanhas e a novidade que descobrimos — que se prepara na terra e existe há mais de um milénio —, que confirmamos, uma vez mais, o quão rico é o mundo e o quão somos pequenos face à sua imensidão. Mais uma viagem, mais uma transformação. Nunca voltamos iguais e esse é o outro lado fascinante de viajar.

De regresso à terra (ou ao preparado), percebemos que os cozinheiros já não vão tirar mais pedras do buraco. Agora, começam a colocar neste os alimentos e não o fazem de forma aleatória. Em baixo, ficam os que demoram mais a cozinhar e, em cima, os que exigem menos tempo. Ou seja, no fundo do "forno" as batatas e as carnes e, no topo, as ervas.

Pachamanca
Pachamanca Preparação pachamanca créditos: Ana Oliveira

Os cozinheiros intercalam os ingredientes com pedras quentes: criam uma camada, por exemplo, com o frango, cobrem-no com pedras, colocam batatas, mais pedras e por aí.

Com tudo já a cozinhar, cobre-se o buraco com panos brancos húmidos (ou folhas de bananeiras) e, depois, pega-se na pá e tapa-se o buraco.

Pachamanca
Pachamanca Preparação de Pachamanca créditos: Ana Oliveira

Como se trata de uma receita milenar, há que respeitar a tradição. Assim, depois de enterrada a carne, uma senhora deita flores por cima e um senhor rega à terra com cerveja. É uma lembrança para os entes queridos e para agradecer à "mãe terra".

Pachamanca
Pachamanca Pachamanca créditos: Ana Oliveira

Enquanto o preparado cozinha na pacha (terra em quéchua), aproveitamos para conhecer o resort.

Situado em Ollantaytambo, porta de entrada para o Vale Sagrado de Cusco, o Las Qolqas Eco Resort disponibiliza diferentes tipologias de alojamento: bungalows para duas, quatro ou oito pessoas.

Entre as montanhas, o espaço ainda conta com um spa composto por um circuito de sauna, duche ao ar livre e onsen (banho quente). Quem quiser pode ainda reservar uma massagem ou uma sessão de reflexologia podal.

A nossa visita pelo Las Qolqas termina no bar-restaurante Pututu onde se pode descobrir a cozinha tradicional peruana ou tomar um cocktail.

Cerca de 45 minutos depois, voltamos à pacha para desenterrar o nosso almoço que, posteriormente, será servido no pátio do restaurante em estilo buffet para provarmos as diferentes carnes e legumes ao nosso ritmo.

A pachamanca é mais do que um prato para almoços familiares de fim de semana ou datas especiais, é uma celebração cultural e ritual. Em alguns lugares, esta especialidade é preparada de forma comunitária para celebrar a época da colheita e agradecer a terra.

Pachamanca
Pachamanca Desenterrar a Pachamanca créditos: Ana Oliveira

Acredita-se que este prato tenha nascido entre os anos 500 e 1000, sendo, por isso, pré-inca.

Em português, o nome desta especialidade que deriva da combinação de duas palavras de origem quéchua pacha (terra) e manka (pote) significa pote de terra.

Devido à sua importância histórica, o prato é celebrado anualmente no primeiro domingo de fevereiro por todo o país. A pachamanca é igualmente Património Cultural do Peru.

Pachamanca
Pachamanca Pachamanca no prato créditos: Ana Oliveira

O SAPO Viagens visitou o Peru a convite da TUI Care Foundation