Primeiro, temperam-se as carnes, separam-se as batatas, incluindo a coa — um tubérculo da família da batata-doce —, o feijão verde e as bananas. Depois, tiram-se as pedras (que ficaram a aquecer cerca de 40 minutos) do "forno": um buraco no meio da terra que ajuda a conservar o calor.
O dia está um pouco cinzento e, ao longo da manhã que já lá vai, conseguimos sentir tanto frio como calor. É assim a inconstância do tempo entre as montanhas de Cusco, tal como é certa a beleza que rodeia a remota unidade turística onde nos encontramos.
Enquanto admiramos a paisagem ao redor do Las Qolqas Eco Resort, a curiosidade faz-nos aterrar outra vez na terra, pois queremos saber quais são os passos que se seguem na preparação da até então, para nós, desconhecida pachamanca.
Com tantos séculos de sobrevivência, técnica peculiar e popularidade (no Peru), como é que não conhecíamos este prato? É entre a grandeza das montanhas e a novidade que descobrimos — que se prepara na terra e existe há mais de um milénio —, que confirmamos, uma vez mais, o quão rico é o mundo e o quão somos pequenos face à sua imensidão. Mais uma viagem, mais uma transformação. Nunca voltamos iguais e esse é o outro lado fascinante de viajar.
De regresso à terra (ou ao preparado), percebemos que os cozinheiros já não vão tirar mais pedras do buraco. Agora, começam a colocar neste os alimentos e não o fazem de forma aleatória. Em baixo, ficam os que demoram mais a cozinhar e, em cima, os que exigem menos tempo. Ou seja, no fundo do "forno" as batatas e as carnes e, no topo, as ervas.
Os cozinheiros intercalam os ingredientes com pedras quentes: criam uma camada, por exemplo, com o frango, cobrem-no com pedras, colocam batatas, mais pedras e por aí.
Com tudo já a cozinhar, cobre-se o buraco com panos brancos húmidos (ou folhas de bananeiras) e, depois, pega-se na pá e tapa-se o buraco.
Como se trata de uma receita milenar, há que respeitar a tradição. Assim, depois de enterrada a carne, uma senhora deita flores por cima e um senhor rega à terra com cerveja. É uma lembrança para os entes queridos e para agradecer à "mãe terra".
Enquanto o preparado cozinha na pacha (terra em quéchua), aproveitamos para conhecer o resort.
Situado em Ollantaytambo, porta de entrada para o Vale Sagrado de Cusco, o Las Qolqas Eco Resort disponibiliza diferentes tipologias de alojamento: bungalows para duas, quatro ou oito pessoas.
Entre as montanhas, o espaço ainda conta com um spa composto por um circuito de sauna, duche ao ar livre e onsen (banho quente). Quem quiser pode ainda reservar uma massagem ou uma sessão de reflexologia podal.
A nossa visita pelo Las Qolqas termina no bar-restaurante Pututu onde se pode descobrir a cozinha tradicional peruana ou tomar um cocktail.
Cerca de 45 minutos depois, voltamos à pacha para desenterrar o nosso almoço que, posteriormente, será servido no pátio do restaurante em estilo buffet para provarmos as diferentes carnes e legumes ao nosso ritmo.
A pachamanca é mais do que um prato para almoços familiares de fim de semana ou datas especiais, é uma celebração cultural e ritual. Em alguns lugares, esta especialidade é preparada de forma comunitária para celebrar a época da colheita e agradecer a terra.
Acredita-se que este prato tenha nascido entre os anos 500 e 1000, sendo, por isso, pré-inca.
Em português, o nome desta especialidade que deriva da combinação de duas palavras de origem quéchua pacha (terra) e manka (pote) significa pote de terra.
Devido à sua importância histórica, o prato é celebrado anualmente no primeiro domingo de fevereiro por todo o país. A pachamanca é igualmente Património Cultural do Peru.
O SAPO Viagens visitou o Peru a convite da TUI Care Foundation
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