"Quem inventou o chocolate?", "Qual é a origem da palavra chocolate?", "Como o chocolate é feito?". Quando entramos no edifício do The Chocolate Story, um dos espaços museológicos do WOW Porto, questões como estas são deixadas no ar, através de um corredor onde podemos também aprender como se escreve chocolate nos mais diversos idiomas do mundo. É dessa forma que devemos começar por aprender: xocoatl. Para os que já conhecem um pouco da história deste alimento único, a palavra não causará estranheza. Na língua asteca, xocoatl significa "água amarga", era assim que aquela civilização o chamava.
Antes disso, o processo de transformar as favas de cacau em algo comestível, neste caso, bebível, já tinha sido feito pelos olmecas e pelos maias. Ou seja, as civilizações mesoamericanas inventaram o consumo desta bebida, que preparavam, depois de colher, fermentar, torrar e moer as favas de cacau, misturada com água e pimenta. Um elixir que combatia o cansaço, que era usado em rituais e cujas favas serviam até de moeda de troca.
Até que os espanhóis chegaram no século XV e, quando invadiram a América Central, deram início à longa relação que a Europa - e, depois, o resto do mundo - desenvolveu com o chocolate. O resto é história. E é essa história que podemos descobrir ao percorrer este novo espaço de Vila Nova de Gaia.
Do xocoatl ao chocolate, muitas alterações foram feitas à receita original da bebida sagrada dos povos originários da América Central. Os europeus começaram a consumi-la quente e com açúcar. Começaram também a comercializar o cacau, levando o seu cultivo para outros continentes. O cacaueiro espalhou-se para África e Ásia, mas sempre fiel às suas latitudes. O chocolate passou de um alimento energético para uma indulgência luxuosa. Só no século XIX é que ganhou a forma de tablete.
Hoje, o chocolate mais barato que compramos no supermercado é, provavelmente, da responsabilidade de uma grande empresa que o produz de forma industrial. Mas, um pouco por todo o mundo, existem empresas que o tentam produzir de forma artesanal e sustentável, o chamado "bean to bar" (da fava à tablete) - sobe o preço mas também a qualidade.
Há um mundo de sabores e combinações possíveis por trás do chocolate, mas tudo se pode resumir numa afirmação: "só existem dois tipos de chocolate, o que eu gosto e o que eu não gosto". Pedro Araújo, chefe, chocolate taster e responsável pelo The Chocolate Story, começa com esta frase o workshop de iniciação à degustação de chocolate que participamos, depois de percorrer o museu. É possível aliar os dois programas numa só experiência, o que recomendamos, principalmente, para os chocólatras e para quem se preocupa com aquilo que consome.
Como conseguimos avaliar o chocolate que estamos a consumir? A primeira experiência que tivemos no workshop foi degustar um pedaço de chocolate 90% de cacau de nariz tapado. Aí sentimos todo o amargor do cacau - nunca nos podemos esquecer de que o cacau é amargo e ácido. E que a fava é branca e não castanha. "O chocolate fica castanho devido ao processo de torra", lembra Pedro. Quando respiramos pelo nariz, conseguimos detetar outros aromas que ajudam a complementar o sabor.
Voltamos ao cacau, retiramos a casca de uma fava e provamos o que está lá dentro. Seguramos um fruto com as mãos e aprendemos também que existem muitas variedades de cacau: o criollo é o mais raro, o amelonado é o mais comum.
Continuamos a experimentar outros tipos de chocolate: 85%, 70%, chocolate de leite, branco. Pelo meio, nessa viagem gustativa, o amargo do cacau desaparece e é o doce do açúcar que passa a dominar o palato. Alguma coisa se perdeu pelo meio, parece que estamos mais longe do cacau, da planta cultivada há tantos séculos, das favas retiradas de dentro do fruto que depois são fermentadas, secas, selecionadas, torradas, descascadas, moídas, conchadas e, finalmente, temperadas. Quem diria que uma simples tablete de chocolate encerasse em si tantos processos?
Finalmente, passamos para outro campeonato: os grand crus. É o termo usado para os chocolates únicos, produzidos com favas de cacau selecionadas, em que na embalagem devem informar, tal como no vinho, o país, a região e o ano da colheita. Provamos um quadradinho e voltamos a sentir o gosto do cacau, mas também de fruta madura. Afinal, o cacau é um fruto e o chocolate deveria estar, idealmente, mais próximo da sua origem. Numa viagem que começa e termina no cacau. E aí percebemos que nada sabíamos sobre chocolate. Há um novo mundo para desbravar e degustar.
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