Carpaccio de língua de vaca e Raia com molho de caldeirada. Ainda bem que a tradição não é o que era no The Mix

Ana Oliveira

7 nov 2023 11:14

Este artigo tem mais de um ano

Já dizia o ditado que "os olhos também comem" e no restaurante The Mix, em Cascais, deliciamo-nos com a apresentação dos pratos, as combinações de sabores e com a vista para o mar.

Ainda que tenhamos visitado o The Mix num dia de sol de outono, é seguro dizer que é visitável todo o ano. Sob o comando do Chef Sebastian Fritye, o restaurante, situado no Farol Design Hotel, que fica nas falésias de Cascais, aposta numa cozinha mediterrânica e faz-nos chegar à mesa pratos arriscados com produtos que só esperamos comer na casa da mãe ou dos avós.

Farol Design Hotel

Morada: Av. Rei Humberto II de Italia 7, 2750-800, Cascais
Telefone: +351 21 482 34 90 ou +351 21 486 43 83
Email: farol@farol.com.pt

E esqueçam os sabores tradicionais. Quer seja a língua de vaca, a enguia, a raia ou o robalo, chegarão à mesa como nunca os saboreamos antes.

Aberto ao público em geral e não somente para os hóspedes da unidade, um almoço ou jantar no The Mix funciona como um mergulho no Atlântico que nos leva à essência da tradição portuguesa e nos faz chegar à superfície com algo totalmente novo e fresco. É verdade que encontramos referências da gastronomia tradicional nacional no menu, no entanto, o que nos é servido são surpreendentes novas versões que ao olhar até parecem distantes dos pratos portugueses mais típicos.

Reinterpretar a língua de vaca e fazer da caldeirada um molho sofisticado digno de uma cozinha de fine dining parece-nos um exercício desafiante e, por isso, é o que mais queremos provar da ementa. Assim, entramos no The Mix de mente aberta e preparados para mergulhar sem medo na cozinha de Fritye.

Começamos logo com uma surpresa no couvert: manteiga de lavagante, para além da de limão confitado e percebes, rissol de camarão e ostra bombom de guacamole e tajin. Se fosse em casa, sei que saltava uma das entradas que chegariam à mesa: língua de vaca, porém, a curiosidade de descobrir a criação de Sebastian Fritye falou mais alto.

Oriundo da Roménia, Fritye, que cresceu na Áustria, inspirou-se na cozinha mediterrânica para criar os seus pratos de autor, reinterpretando pratos da cozinha tradicional portuguesa e fazendo das estrelas da ementa produtos pouco utilizados na cozinha contemporânea. Mais do que proporcionar uma boa refeição, o chef procura que os pratos fiquem na memória de quem os experimenta.

Habitualmente apresentada de forma pouco convidativa na mesa, a língua de vaca chega-nos aqui em forma de carpaccio coberta com verduras e salpicada com caviar.

Nem receamos experimentar, aliás, temos vontade (não está com o comum aspeto áspero e grosseiro). Ao mesmo tempo, é servida enguia fumada acompanhada por tomate biológico, vinagreta de estragão, morango e alface do mar cristalizada.

Já surpreendidos com as entradas, passamos para os pratos principais: "Raia com molho de caldeirada, pimentos recheados, lulinhas e batata" e "Robalo assado ao sal com esparregado de acelgas e berbigão". Ambos pratos com produtos familiares mas que, neste restaurante, se apresentam de forma sofisticada.

Para finalizar, tarte de queijo com frutos vermelhos e a reinterpretação do chef do tradicional arroz doce: em espuma com gelado, geleia de limão bergamota e physalis.