Por André Rubim Rangel
A par de Tenerife (a mais visitada de todo o arquipélago), Gran Canaria é considerada a mais popular das ilhas Canárias, que recebe anualmente mais de 3,6 milhões de turistas. Uma ótima opção é alugar um carro e percorrer, facilmente e em poucos dias, toda a ilha, conhecendo alguns dos seus principais lugares.
Uma boa altura para conhecer e percorrer Gran Canaria é, por exemplo, já por volta do 8 de setembro, feriado na ilha por se celebrar o seu santo patrono – neste caso: Virgen del Pino. Já no dia 11 de setembro comemora-se a Fiesta del Charco, cujas origens remontam ao tempo dos antigos habitantes da ilha e em que a curiosa tradição dita que os celebrantes se atirem ao lago inteiramente vestidos, apanhem peixes com as mãos e atirem água uns aos outros. Esta festa ocorre no Puerto de la Aldea (em San Nicolás de Tolentino).
De seguida, propomos um roteiro de cinco dias, com itinerário e sugestões.
Dia 1: Ingenio, Barranco de Guayadeque, Cocodrilo Park Zoo, Agüimes e Playa del Inglés
Comecemos pelo bonito centro histórico de Ingenio, uma cidade situada na comarca sudeste da ilha caracterizada pelas casas de arquitetura tradicional canária. É precisamente no seu centro antigo, no parque Néstor Alamo, que se encontra a palmeira mais alta (com 30 metros) de todo o arquipélago canarino, constituído por 7 ilhas e 5 ilhotas. Ingenio é uma localidade que nasceu da cana-de-açúcar, com o seu auge agrícola e económico no séc. XVI. Este município é também conhecido por abranger três monumentos naturais da ilha: os barrancos de Guayadeque e Draguillo e a reserva natural da Caldera de los Marteles, uma caldeira vulcânica já extinta e a 1.500 metros sobre o nível do mar. O barranco de Guayadeque, mergulhado numa paisagem agreste, destaca-se pelos seus 15km de extensão e pelas suas imensas grutas naturais, a par de distintas casas encovadas no barranco, que separa a Ingenio da vila de Agüimes, uma bonita povoação com um centro medieval pitoresco e vielas estreitas de casarios de cor ocre e terracota.
Uma excelente opção para desfrutar em Agüimes é o Cocodrilo Park Zoo, com mais de 22.000 m2 e mais de 500 espécies de animais (só em 2017 juntaram-se mais 50 espécies invasoras) – entre as quais 200 de aves –, muitas delas roubadas (de particulares, apanhadas em vendas ilegais) ou simplesmente encontradas pelo Serviço de Proteção da Natureza. Este é o único centro de resgate de animais exóticos das Canárias. O animal icónico deste zoo é – como se constata pelo próprio nome – o crocodilo (alguns do rio Nilo) / o jacaré, havendo ali duas dezenas deles, ou mais, e sendo um deles o Guancho: considerado o maior crocodilo do Nilo na Europa. Uma experiência verdadeiramente aliciante e possível neste espaço é a interação direta com aves (como o lindíssimo tucano, entre outras): dentro de uma área enredada o visitante pode circular bem junto delas e tocar-lhes, caso consiga. Outra grande atração neste parque – co-propriedade do Estado que contribui com 12.000 euros anuais (o resto da receita adquire-se com a venda de entradas) – é o tigre de Bengala: são três, cedidos por uma companhia circense.
De referir, ainda, que anualmente em setembro Agüimes enche-se de animação com o seu evento local mais importante: o “Festival del Sur”, um festival internacional de teatro com a participação de várias companhias da Europa, América do Sul e África.
O sol põe-se e é tempo de chegar ao alojamento em regime de «tudo incluído», o Hotel Beverly Park, onde se pode comer um extraordinário prato espanhol, o “Fideuá” cozinhado na hora: trata-se de um esparguete amarelo com frutos do mar (uma variação da paella de marisco, em que se substitui o arroz pela massa). Delicioso! O hotel, bem localizado, fica a poucos metros a pé da famosa Playa del Inglés, que – situada entre as praias de Maspalomas e de San Agustín – é considerada, atualmente, o maior complexo de férias de Espanha. Aqui se encontram imensas atividades de praia, centros comerciais, vários restaurantes de comida local e internacional, discotecas e enormes hotéis.
Dia 2: mergulho em Playa de Amadores, Puerto de Mogán e Parque Holiday World
Nada melhor do que começar o dia com uma aula de mergulho livre e poder apreciar o magnífico mundo submarino, observando variadas e lindíssimas espécies de corais e de peixes, nomeadamente “la vieja”: um bonito peixe autóctone das Canárias. Uma experiência única e com o apoio do centro Buceo Zeus Diver – releve-se o grande profissionalismo e competência dos seus instrutores –, localizado em Maspalomas. A partir dali, com todos os inscritos, faz-se a viagem de jeep até uma das mais bonitas praias de Gran Canaria – Playa de Amadores – para o respetivo mergulho.
Toda a parte da tarde desse dia merece ser reservada para a estância mais atraente e encantadora de toda a Gran Canaria: o Puerto de Mogán, com uma deslumbrante rede de canais de água marinha, razão pela qual é conhecido por “Pequena Veneza”. Ali se encontra, sobretudo na sua marina e porto de pesca – em formato de ‘U’ –, uma água tão cristalina que até se vê o fundo do mar e todo o colorido dos peixes a nadar. É mesmo genial, a par da beleza tamanha das ruelas com arcos todos floridos que ilustram as casas caiadas e cobertas de trepadeiras, que resultam em autênticos postais e imagens, para os amantes de fotografia. O Puerto de Mogán possui uma praia aconchegante, abrigada entre falésias, com acesso por pacatas pontes pedestres.
Para terminar o dia, este ou qualquer outro, a sugestão é apelativa: o parque de diversões Holiday World (em Maspalomas norte), com roda gigante, bowling, carrosséis, entre outros equipamentos de entretenimento.
Dia 3: Las Palmas de Gran Canaria, Arucas, Cueva Pintada de Gáldar, Cenobio de Valerón e Puerto de las Nieves
De referir que, de acordo com o reinado espanhol, esta sua região autónoma do arquipélago canariense tem um estatuto compartilhado tanto a nível de províncias bem como de capitais, sendo elas duas e, simultaneamente, Las Palmas de Gran Canaria e Santa Cruz de Tenerife.
A Vegueta, na extremidade de Las Palmas de Gran Canaria, data dos tempos da conquista espanhola e é constituída pelo centro histórico, a catedral basílica de Santa Ana (séc. XV), o mercado e a população que reside naquela área, onde se incluem dois monumentos que merecem também uma visita: a Casa de Cólon – dedicada a Cristóvão Colombo, onde ficou alojado nessa que era a mansão do governador (séc. XV) – e o Museu Diocesano de Arte Sacro, integrado no espaço da catedral e contendo uma esbelta varanda típica canária em madeira (séc. XVII). Olhando a elaborada beleza arquitetónica de alguns edifícios no centro, não ficamos indiferentes perante a imponente fachada do Teatro Pérez Galdós nem o trio de majestosos quiosques (da música, modernista e de informação turística), situados no Parque de San Telmo. E há algo que os ligam de uma ponta à outra: a charmosa Calle Mayor de Triana, uma das maiores ruas da capital, bastante comercial (e também pedonal).
Prosseguindo viagem chega-se a Arucas, possivelmente a mais poderosa do ponto de vista agrícola e económico do norte da ilha, dominada pela grandiosa igreja neogótica de San Juan Bautista, construída em pedra de lava e com a torre mais alta do arquipélado canariense (60 metros). Ela destaca-se literalmente.
Segue-se Gáldar – a maior cidade do norte de Gran Canaria –, já a Noroeste, um pouco acima de Santa María de Guía (onde se encontra o Cenobio de Valerón) e o respetivo parque arqueológico e museu de Cueva Pintada de Gáldar. Esta gruta – descoberta em 1873 – localiza-se numa terra que significa “cidade real” e que foi, outrora, a capital da ilha antes de Las Palmas de Gran Canaria: Gáldar foi um importante centro da civilização aborígene ou dos antigos canários, por isso mesmo Cueva Pintada contém pinturas de motivos geométricos dessa mesma era, além vestígios dum casario indígena. Sabe-se que a Cueva Pintada formava parte de um povoado de mais de 50 casas e covas artificiais, fechadas entre os séculos VI e XVI. E a beleza de Gáldar não se fica por aqui, mas distribui-se pelo casario colorido e encavalitado pelo sopé do vulcão do Pico de Gáldar.
Descendo a costa da ilha que faltava percorrer chega-se a Agaete, com o seu barranco (onde crescem várias árvores de fruto e plantas/árvores subtropicais), bem como ao Puerto de las Nieves. Este é um porto lindíssimo, uma pitoresca vila piscatória que se sublima pelo contraste entre algumas casas brancas – com portas e janelas a azul, na linha marítima a mãos com o azul do mar – e o escuro do imponente conjunto rochoso-vulcânico que envolve esta baía, com praia de areia cinza. Quem passa por este resort, mesmo que de passagem, sente um bom ambiente e uma atmosfera própria. Muitos visitantes ali chegam e dali partem de ferry, que faz ligação para as restantes ilhas canárias.
Dia 4: Cráter de Bandama, Teror, Artenara, Roques Bentayga e Nublo, Presa de Chira, San Bartolomé de Tirajana e Fataga
A viagem deste dia – prevista para cerca de 212 km intercalados com muitas paragens – começa bem cedo, pois os caminhos são mais íngremes e serpenteados até chegar ao cume da ilha, no seu eixo central, com vistas de cortar a respiração. Sugere-se a subida pela via rápida GC-1 (na costa este, que liga ao aeroporto) e antes de se chegar a Las Palmas de Gran Canaria virar, na indicação rodoviária, para o centro. A primeira paragem é a caldeira de Bandama, uma cratera vulcânica com 1km de diâmetro e 200 metros de profundidade, situada numa zona de vinhedos. Na base da cratera encontram-se palmeiras, laranjeiras e figueiras, enquanto as encostas dão lugar a eucaliptos e agaves. O Pico de Bandama, a 569m. de altitude, é um ótimo mirador e onde, em dias límpidos, se conseguem avistar as ilhas vizinhas.
Continuando estrada fora, eis Teror, com a sua povoação de belas casas canárias de arquitetura colonial – com varandas talhadas em madeira e pedra – e com a sua basílica, do séc. XVIII, mais no alto (já se referenciou, no início, a sua particular devoção e grande festa à padroeira da ilha, proclamada pelo Papa Pio XII, em 1914). Reza a lenda que a Virgem Maria apareceu, em 1481, a alguns pastores no cimo dum pinheiro, daí ser chamada de Nuestra Señora del Pino, fazendo deste lugar a capital religiosa de toda a ilha, onde se deslocam multidões de peregrinos, sobretudo na primeira semana de setembro, por ocasião das festas maiores da Gran Canaria.
Depois, passagem pela aldeia de Artenara, aninhada na encosta da montanha, com muitas casas escavadas na rocha e ocupando cavernas do tempo pré-histórico. E prosseguindo surgem os Roques de Bentayga (1.412m.) e de Nublo (1.813m.), encimado com uma enorme agulha de basalto com 80 metros de altura. Ambos integram o Pico del Pozo de las Nieves, com 1.949m. de altitude. Estes picos eram considerados sagrados pelos aborígenes, que aí deixaram muitas gravuras, celeiros e locais de culto.
Mantendo a descida no centro (em direção ao sul), deparamo-nos com Tejeda, a segunda menor aldeia da ilha e cujo cruzeiro é um símbolo marcante na Gran Canaria: assinala, precisamente, o centro geográfico da ilha. Esse cruzeiro, esculpido em pedra, é a conhecida Cruz de Tejeda e está esculpido num desfiladeiro a 1.580 metros de altitude. Tejeda, localizada na encosta duma antiga cratera vulcânica, está cercada por socalcos com plantações de milho, pomares e horta.
Mais abaixo, passando-se pela cratera e barranco de Tirajana, temos a histórica vila de San Bartolomé de Tirajana, capital administrativa das regiões costeiras de Maspalomas e Playa del Inglés. Esta região, que constitui o maior município da ilha, é afamada pela produção de licores e aguardantes. Este percurso indicado termina com Fataga, um pequeno povoado situado no “Vale das Mil Palmeiras”. Estamos perante uma graciosa aldeia de montanha, entre penhascos, com pacatas casas rurais e palmeirais, que no seu barranco é possível fazer um passeio de lazer. Próximo desta aldeia estão as “presas” (albufeiras) de Chira e de Las Niñas.
Dia 5: Los Palmitos Park e visita às dunas, farol e centro de Maspalomas
Falar de Los Palmitos Park é falar de um dia mais descontraído no melhor da natureza animal, aquática e floral, reunidos num só espaço e nesta ilha de Gran Canaria. Sem dúvida alguma que este é um zoo diferente de todos os outros: pode não ser o melhor (apenas tem umas duas dezenas e pouco de espécies de aves e animais, sem contar com as do seu ‘Blue Reef Aquarium’) nem o maior territorialmente, porque não o é, mas tem algo a mais distinto de todos os outros que lhe revigora qualidade e beleza inqualificável: três fantásticos jardins – um só de inúmeras borboletas, outro só de variadas orquídeas e outro ainda só de diversos cactos selvagens, uns mais pequeninos outros gigantescos –, além de um aquário, da piscina de golfinhos com exibições diárias e da ilha dos primatas. Tudo isto junto torna este parque ornitológico especial.
Antes de terminar, há que falar desta esbelta zona onde se situa Los Palmitos Park e outras das atrações já antes recomendadas: Maspalomas. Trata-se de uma faixa de 2.000 hectares com 17 km de um litoral esplêndido, cujas dunas – um espaço natural protegido com a categoria de «Reserva Natural Especial» – encantam ao longo de “quilómetros de areias esculpidas pelos ventos” (expressão do guia American Express), com várias espécies raras de plantas – algumas endémicas canarienses. Em toda esta área localizam-se cinco estâncias balneárias, com suas praias, entre as quais a de Maspalomas: a mais luxuosa e com o maior campo de golfe da ilha. Ela destaca-se também pelo seu antigo farol (construído em 1886) e que chama a atenção no alto dos seus 65 metros.
Agradecimentos: Patronato de Turismo de Gran Canaria. Hotel Beverly Park. Restaurante El Herreño (Las Palmas de Gran Canaria). Zoos Cocodrilo Park e Palmitos Park. Buceo Zeus Dive Center. Holiday World
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