Fonte autárquica, que fez o anúncio, explicou que está em causa uma propriedade rural com dois edifícios do século XIV e XVII, sendo que o mais antigo inclui um exemplar do armário que a comunidade israelita designa como "Aron Hakodesh" ou "Ekhal" e ao qual habitualmente se atribui caráter sagrado. Esse estatuto deve-se ao facto de a peça se destinar especificamente a guardar a Tora, o manuscrito em pergaminho que replica os textos hebraicos na base do Judaísmo e que é utilizado em todas as celebrações litúrgicas dessa comunidade religiosa.
"Em Ovar já se sabia da existência destas construções e do próprio armário sagrado há muito tempo, mas até aqui nunca houve a coragem de avançar com um projeto que permitisse a sua recuperação e divulgação ao público", declarou hoje à Lusa o presidente da autarquia, Salvador Malheiro.
Na compra do edificado e do seu mobiliário especial a Câmara Municipal vai investir 125.000 euros, com o que o autarca pretende "recuperar um património que se encontra muito degradado, mas que é único no concelho".
Salvador Malheiro defende, aliás, que, dada a antiguidade e o valor histórico-cultural dos bens a adquirir, "Ovar vai passar a integrar a Rota da Judiaria", atraindo ao concelho um novo segmento de turistas portugueses e estrangeiros, e "contribuindo assim para o desenvolvimento económico local".
O edifício que acolhe o Aron Hakodesh - neste caso um armário em pedra embutido na parede - está localizado nas proximidades do Largo da Capela de S. Geraldo, na freguesia de S. Vicente Pereira, e é um exemplar da arquitetura vernacular quinhentista. Tem disposição em “L”, abrange uma área para habitação e destina outra a funções agrárias, pelo que inclui também uma atafona e um moinho de água.
Já a construção mais recente, localizada na zona poente da propriedade, estará menos relacionada com a cultura judaica, mas ainda preserva sinais do antigo quarto e biblioteca do pároco católico e juiz Domingos Oliveira Martins (1890-1951) - que deixou o imóvel em herança ao seu sobrinho, o também padre António da Silva Martins.
Comentários