Os episódios apontam para problemas de produção e manutenção, dizem especialistas, que não veem um padrão óbvio por trás dos diversos incidentes.
Onda de casos
O fabricante americano de aviões está sob escrutínio desde que, a 5 de janeiro, um Boeing 737 MAX 9 operado pela Alaska Airlines precisou fazer uma aterragem de emergência depois de uma parte da fuselagem se ter rompido. O incidente foi resolvido com sucesso, mas autoridades de segurança dizem que poderia ter sido catastrófico.
A United Airlines também teve problemas recentes, incluindo casos em que um avião perdeu uma roda logo após a descolagem, outro que saiu da pista durante o taxiamento e um terceiro que retornou ao aeroporto de partida após um incêndio no motor.
Na última semana, a Southwest Airlines teve dois incidentes separados envolvendo aeronaves da Boeing, um deles foi um incêndio no motor.
Uma confluência de incidentes como esses é "bastante rara" na aviação, disse o especialista no setor Bertrand Vilmer, que afirmou que os vários problemas "anormais" refletem "um alinhamento de planetas desfavorável".
Possíveis causas
Especialistas em aviação geralmente buscam três explicações possíveis para os problemas.
Pode ser um defeito de projeto, como nos dois acidentes fatais com jatos 737 MAX, em 2018, na Indonésia, e em 2019, na Etiópia, atribuídos a um defeito num sistema de estabilização de voo.
Um defeito de produção foi apontado por observadores da aviação como a provável causa do incidente da Alaska Airlines, que envolveu um Boeing 737 MAX 9 entregue em outubro.
Um relatório preliminar do Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos EUA, publicado em fevereiro, constatou a ausência de quatro parafusos destinados a ajudar a fixar o painel que se soltou.
E uma terceira possível causa seria a manutenção insuficiente. Enquanto o projeto e a produção são de responsabilidade do fabricante, a companhia aérea é responsável por manter o avião após recebê-lo.
"Uma vez que a aeronave é entregue, a Boeing não tem mais nada a ver com ela" em relação à manutenção, disse Richard Aboulafia, da AeroDynamic Advisory, acrescentando que "há um problema de manutenção em todo o mundo".
Vilmer observa que, nos Estados Unidos, a manutenção de aviões está sob a responsabilidade do órgão regulador, a Administração Federal de Aviação.
Forma mais segura de transporte?
Apesar da recente onda de incidentes, especialistas da área destacam um histórico de segurança forte no geral.
"Não tivemos uma única fatalidade em toda a indústria aérea dos EUA em mais de uma década, apesar de milhões de pessoas estarem a voar", afirmou Aboulafia. "Isso é incrível".
Aboulafia descreve a viagem de avião moderna como "a forma mais segura de transporte já criada” pelo ser humano, lembrando que "todos os dias, centenas de pessoas são mortas nas estradas".
A concorrente da Boeing, a Airbus, também teve dificuldades. Centenas de aviões produzidos pela empresa europeia estão a ser retirados de serviço para que seja verificada a "contaminação" microscópica por metais em motores fabricados pela Pratt & Whitney.
A Airbus teve, ainda, uma disputa pública com a Qatar Airways relacionada à degradação das superfícies externas dos aviões.
No entanto, foram menos os problemas desse tipo na Airbus e nenhum incidente que tenha chamado tanta atenção quanto o da Alaska Airlines, indicaram os especialistas.
"Cada incidente ocorrido em aviões da Boeing este ano transformou-se em manchete, sugerindo que os aviões da Boeing não são seguros", disse em nota no mês passado a firma de investigação de equidade Bernstein.
"A realidade é que o número de incidentes nos EUA em aviões Airbus e Boeing até agora este ano é proporcional ao número de aviões nas frotas das companhias aéreas dos EUA", explicou.
A frota comercial dos Estados Unidos atualmente é composta por cerca de 4.800 aeronaves, 60% delas da Boeing, de acordo com a Cirium, uma empresa de análise de aviação.
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