Se já foi mordido pelo bichinho das viagens, é normal que após ler certos artigos fique motivado a trocar o seu emprego das nove às cinco por um trabalho remoto que só exija uma ligação à internet.
Matthew Lubin, autor do blogue Booze, Food, Travel: Drink, Eat and See Everything, confessou ao Insider que nem sempre é fácil. Durante um ano, Mathew viajou pelo Japão, Vietname, Cambodja, Taiwan, Coreia do Sul e Itália.
À publicação, o autor explica que já tinha um emprego que lhe permitia trabalhar à distância. No total, eram 50 horas por semana. Para poder cumprir com as suas responsabilidades laborais enquanto estava em viagem, Mathew teve que garantir que tinha um espaço de trabalho confortável e internet confiável, pois tinha que estar on-line durante as 20 horas e as 06 horas da manhã.
Para trabalhar, o blogger passava os dias em casa, na maioria apartamentos apertados, sem quase interagir com pessoas.
Outro exemplo que andar a viajar pelo mundo nem sempre é um mar de rosas é o caso do autor do blogue Travels of Adam, Adam Groffman. Para explorar o mundo, Adam poupou cerca de 17 mil euros. Em pouco mais de um ano, 15 meses, Adam ficou sem dinheiro. Como para ele ainda era cedo para voltar para casa, investiu numa carreira como escritor freelancer. Para tal, fez um estágio em marketing digital em Berlim, Alemanha.
A verdade é que na maioria das situações para se conseguir viajar pelo mundo sem se ficar de bolsos vazios é necessário trabalhar a tempo inteiro. Caso não queira trabalhar e andar mesmo só a viajar terá de ter boas poupanças ou bons patrocínios para se conseguir sustentar durante um ano ou mais.
“As férias de sonho nem sempre são tão boas como nos dizem”
Se partilhar a sua vontade de largar o seu emprego rotineiro para viajar pelo mundo, é provável que algumas pessoas transmitam a ideia de que o processo de se tornar nómada digital é simples. Prepare-se. Vai parecer que basta procurar entre as imensas ofertas de trabalho remoto aquela que paga o suficiente para conseguir viajar à vontade, claro, dormindo em hostels e a fazer couch surfing. Terá também que estar disposto a adotar um estilo de vida modesto e aventureiro. Assim vai começar a perceber que nem sempre as férias ou estar em viagem é tão perfeito como parece. Não é só boa vida.
A verdade é que a maior parte das ofertas de trabalho remoto que existem, como a escrita de conteúdos para SEO, tendem a ser irregulares e a pagar salários baixos. Uma boa hipótese é ensinar inglês on-line, contudo, é preciso dominar bem esta língua. Ao dar aulas de inglês através de uma empresa pode ganhar cerca de 13 euros por hora, contudo, criar uma base de alunos consistente leva o seu tempo. Também pode pesquisar se existem ofertas para outros idiomas, no entanto, deverão ser em menor quantidade. Mas há mais trabalhos remotos que não exigem experiência significativa, porém também não pagam muito.
É por isso que o ensino à distância tende a ser a opção mais procurada, pois, comparativamente aos outros, é dos melhores pagos. Mas não se esqueça que se for empregado por um empresa terá que cumprir com horários, mesmo que seja à distância, o que vai fazer com que tenha menos tempo livre para viajar. Dar aulas também vai implicar que tenha um espaço privado com uma ligação de Internet segura e estável. Se estiver a viajar pelo mundo e a hospedar-se em hostels vai concluir que, afinal, nem sempre é fácil.
Outro facto importante a reter é que a maioria das pessoas que trabalham enquanto viajam têm competências técnicas relacionadas ao web design ou à programação. Competências nestas áreas permitem que os viajantes tenham salários mais altos e horários mais flexíveis. Mas como nada é simples, lidar com clientes, caso seja um trabalho independente, poderá ser complicado, especialmente se os fusos horários forem diferentes.
E não basta fazer dinheiro para se manter em viagem. Há que pensar no regresso a casa.
A menos que tenha um ótimo salário, poderá ser difícil poupar enquanto viaja. Na altura que o blogger Groffman viajou, "poupar não era um grande objetivo (ainda era jovem)". Hoje, arrepende-se um pouco. "Tinha feito sentido ter uma conta de poupanças para emergências e ter continuado a poupar enquanto fazia algum dinheiro como nómada”.
Será fácil poupar se ficar em países com um baixo custo de vida, mas nem todos querem ficar durante muito tempo nesses lugares.
E depois há os impostos…
Matthew Lubin dá o exemplo dos cidadãos americanos que, como em Portugal, devem declarar todos os anos os seus rendimentos ao IRS. Os americanos a não residir no país podem beneficiar do Foreign Earned Income Exclusion (FEIE) que lhes dá isenção de impostos caso os seus rendimentos não ultrapassem os 89.350 euros.
Ao beneficiarem do FEIE, os não residentes não poderão descontar durante esse ano fiscal para a reforma. Assim, por cada ano que viajarem, estes americanos não vão descontar para a reforma e terão que compensar nos anos seguintes.
Os viajantes podem não reivindicar o FEIE e continuar a descontar para a reforma, porém, terão de pagar impostos como se estivessem a viver nos EUA, ou seja, mais uma despesa.
O blogger recorda que muitos jovens americanos têm o crédito de estudante para pagar, o que implica outra despesa a ter em conta, se for o caso. Afinal, a dívida não irá desaparecer se não for paga.
O trabalho e as despesas da viagem de Matthew Lubin
Mathew Lubin ainda partilha com o Insider os rendimentos e despesas que teve durante o ano que viajou. Com um salário bruto a rondar os 2.850 euros, Mathew tinha como custos fixos uma renda que variou entre os 344 e os 690 euros. O valor da renda variou conforme a cidade e o tipo de alojamento (apartamento ou hotel) e não incluiu as despesas com a água, gás e eletricidade.
Na maioria das cidades, Mathew Lubin optou por alugar apartamentos através da plataforma Airbnb. Em cada lugar, o blogger ficou no mínimo 20 dias. Nem todos os apartamentos tinham cozinha.
Quanto à alimentação, não variou muito em relação ao que gasta nos Estados Unidos, mas admite ter gasto um pouco mais, pois comia sempre fora aos fins de semana e, por vezes, mimava-se um pouco com boas refeições que custavam entre os 17 e os 45 euros. No geral, terá gasto cerca de 172 euros por mês.
As cidades onde comeu mais fora foram Saigão (Ho Chi Minh), Vietname, e Taipé, Taiwan. Tudo porque nestas cidades não tinha cozinha.
É provável que tenha sido com as telecomunicações que teve menores custos. Na maioria dos lugares contou com o WI-FI. Em Tóquio, por exemplo, ficou hospedado num apartamento que tinha pocket WI-FI, que permite que os smartphones liguem-se à rede sem precisarem de um cartão SIM. Só na Coreia do Sul e em Taiwan é que teve de comprar cartões SIM. Em ambos os países, os serviços custaram menos de 13 euros.
Os gastos com os transportes também variaram. Em Tóquio, cada deslocação desde a sua casa à estação Shinjuku custava 2.50 euros. Já em Seoul, uma viagem de transporte custava menos de um euro e em Taipé cerca de 0.50 cêntimos. Foi aos fins de semana qua gastou mais dinheiro com transportes, pois, quando ficava na rua até mais tarde, tinha de regressar de táxi.
Durante os fins de semana, Mathew aproveitava para fazer turismo, gastando cerca de 86 euros por dia com tours, táxis, refeições, entre outros.
Quanto aos voos, a maioria custou menos de 260 euros (bilhetes só de ida). Só os voos de Seoul para Roma e de Veneza para Tóquio foram superiores, porém, os valores não são revelados. Mathew explica que alguns voos podiam ter ficado mais baratos caso tivesse reservado com maior antecedência. O primeiro voo, de Newark para Tóquio, foi comprado com milhas.
O blogger também teve algumas despesas relacionadas com a saúde. Antes de partir, gastou algumas centenas de dólares com medicamentos, vacinas e seguros de viagem. Durante a viagem, também teve algumas despesas com saúde, porém menores.
Durante o ano, Mathew fez férias duas vezes: nove dias no Cambodja que custou cerca 450 euros, incluindo voos e visto e uma semana em Itália com os pais, que, por isso, ficou mais barato.
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