O Hotel Parque Serra da Lousã, em Miranda do Corvo, é um refúgio no meio da natureza, uma lufada de ar puro e uma verdadeira pausa da correria e do caos das cidades. Integrado no Parque Biológico da Serra da Lousã, permite-nos viver uma experiência mágica a poucos metros de animais selvagens, como os ursos pardos, lobos, raposas e linces. Mas com todas as comodidades que um hotel de quatro estrelas proporciona.
Cuidar do corpo, mente e espírito. Assim se pode resumir toda a experiência que uma estadia neste hotel nos oferece. Dentro e fora de portas. Conheçamos o lado de dentro. O hotel dispõe de 40 quartos, restaurante, sala de reuniões, sala de leitura, piscina interior, Spa com sala de massagens, sauna, jacuzzi, banho turco e ginásio. Conta ainda com um campo de ténis e um campo de squash. Cada quarto é dedicado a um deus da mitologia greco-romana, uma ligação com o Templo Ecuménico Universalista que encontramos no alto da Serra da Lousã e de que falaremos mais à frente.
A decoração é simples e o branco abunda nos espaços comuns como que a lembrar que a calma e a tranquilidade reinam por aqui. O espaço tem muita luz e sente-se a boa energia da natureza circundante. Depois de uma noite relaxante e de um pequeno-almoço revigorante, é o exterior, pintado de verde, que convida para um passeio. O Parque Biológico merece uma visita prolongada.
O Espaço da Mente é a primeira paragem. Trata-se de um museu etnográfico que homenageia as diferentes visões da liberdade que estão na base da civilização humanista.
Já no exterior, encontramos a quinta pedagógica, um autêntico museu vivo das raças da agro-pastorícia tradicional portuguesa. Por aqui, podemos ver vacas da raça arouquesa, barrosã, cachena, marinho e minhota, bem como cabras anã e bravia. Podemos também ver as simpáticas ovelhas da Serra da Estrela branca e preta e porcos, além de galináceos, perus, porcos da índia e coelhos. Mas é o parque selvagem que queremos descobrir, ansiosos por ver animais que nunca vimos.
Pelo caminho, encontramos um labirinto de árvores de fruto com 320 árvores de espécies distintas, como cerejeiras, pessegueiros, amendoeiras, nogueiras e marmeleiros. Há também um centro hípico que promove a prática da equitação.
O parque selvagem, que funciona desde 2009, apresenta-se como a maior amostra da fauna selvagem do nosso país, ocupando uma área de 33 mil metros quadrados de Reserva Ecológica Nacional. Tem como objetivo principal ajudar na conservação das espécies que habitam ou habitaram o território português. Cabe a cada um de nós ajudar e uma das formas é visitando este parque. O bilhete para adultos custa 7 euros, mas há diversos descontos para famílias.
Apesar de estarem em cativeiro, os animais estão completamente integrados num ambiente de floresta. O espaço é tão amplo que, por vezes, é difícil reconhecê-los no meio da vegetação. Há que ter um pouco de paciência e algum tempo, mas conseguimos ver aves de rapina, como as águias, as corujas e o bufo real, ursos pardos, que se encontram extintos em Portugal, linces, lobos, raposas, javalis, gamos, veados e corços. As suas ‘casas’ estão todas identificadas com informações úteis sobre a espécie em causa. Ao nível da flora, encontramos castanheiros, carvalhos e medronheiros, por exemplo.
Outra forma de ajudar este parque é apadrinhando um animal, um gesto que custa 60 euros por ano e permitirá ajudar na prevenção da fauna e flora e, ao mesmo tempo, contribuir para a sustentabilidade do projeto.
Depois de uma caminhada que pode durar entre duas a três horas, eis que a fome já aperta e é hora de visitar o restaurante Museu da Chanfana. É reconhecido que Miranda do Corvo é o berço da chanfana, pelo que neste espaço se faz a devida vénia à gastronomia tradicional assente na carne de cabra velha, de porco e ainda na caça e na pesca. A chanfana, os negalhos e a sopa de casamento são confecionados de acordo com a receita genuína e os métodos mais tradicionais. Terão sido as monjas do Mosteiro de Santa Maria de Semide, fundado no século XII no concelho, a criar estas receitas.
Atualmente, o restaurante que prima pela elegância, qualidade e requinte, é procurado por pessoas que vêm de todo o país para provar estas curiosas iguarias. São pratos com sabores intensos e fortes que não agradam a todos, mas a ementa possui muitas outras opções de carne e peixe, que irão proporcionar uma experiência gastronómica inesquecível. Os sabores da região e a simpatia das suas gentes são a nota dominante.
Nas carnes, o destaque vai para as plumas de porco preto na grelha (10,50€), para o supremo de pato corado com cinco pimentas (10,50€) e para o bife (14,50€) ou as costeletas de veado (15€). No peixe, destaque para o lombo de bacalhau em crosta de broa de milho (13,50€), o bacalhau lascado com batatinhas asadas no sal e azeite de alho (12€) e para o misto de lulas e camarão tigre na grelha (16,50€). Há ainda opções vegetarianas, como as massinhas salteadas em azeite e alho com legumes estufados (8,50€) e o crepe com recheio de legumes (9€).
Elegi o bacalhau lascado para esta minha experiência no Museu da Chanfana e, em alternativa às batatas, pedi migas, que é algo que aprecio bastante. O bacalhau estava cozinhado no ponto e as migas absolutamente divinais. No final, para sobremesa, não poderia deixar de experimentar outra receita secular, a nabada (3€) que, como o próprio nome indica, é feita à base de nabo. A versão tradicional leva amêndoa e há outra opção que leva noz. Escolhi a original e, apesar de saber a couve, que pode parecer estranho, é muito saborosa e aconchegante como uma sobremesa deve ser. Foi o remate ideal para terminar esta refeição bem calorosa.
Terminado o almoço, apetece continuar a desfrutar desta natureza tão encantadora. Opções não faltam por aqui. Conhecer a aldeia de xisto de Gondramaz, a única situada no concelho, é obrigatório. Esta aldeia preserva ainda a capela de Nossa Senhora da Conceição, um lavadouro e um parque de merendas. A paisagem, as cores e os sons são arrebatadores.
E, no alto da serra da Lousã, espera-nos o Templo Ecuménico Universalista, uma pirâmide com as dimensões do Templo de Salomão, vocacionada para o diálogo entre todas as religiões. Está recheado de pormenores com simbologia espiritual e é um convite ao silêncio e à reflexão, independentemente de estarmos ou não ligados a alguma religião. O percurso pode ser feito a pé, a partir do Parque Biológico, uma caminhada com inclinação de cerca de 600 metros e que pode demorar cerca de 45 minutos. Em alternativa, é possível chegar ao templo de carro. Há indicações a partir do centro de Miranda do Corvo. O bilhete custa 4€, mas se for comprado em conjunto com o do parque, fica por 8,5€.
Tanto o hotel como o parque, o restaurante e o templo são propriedade da Fundação Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional (ADFP), uma instituição de solidariedade social sem fins lucrativos, com 32 anos de existência. Além da vertente turística, possui outras valências a nível social, de saúde, cultura e desporto, entre outras. O seu propósito é apoiar pessoas desfavorecidas, que sofrem de deficiência ou exclusão. A maioria dos colaboradores do parque, por exemplo, são pessoas com deficiência ou doença mental e vítimas de exclusão laboral.
Por Helena Simão, blogger do Starting Today
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