O Douro explodia em vida neste início de junho. Infinitos tons de verde para onde quer que olhássemos, muitas roseiras a dar cor à paisagem, andorinhas a rasgar o céu e vinhas frondosas onde, de perto, já eram visíveis uvas em crescimento. Aqui tudo apela aos sentidos e à contemplação.
Há lugares com a capacidade de sintetizar a alma de uma região. A Quinta do Portal, em Sabrosa, é um destes sítios. Percorremos com curiosidade a estrada que leva à Casa das Pipas, emoldurada pelas vinhas que se expandem em 95 hectares por outras propriedades: as quintas dos Muros, do Confradeiro, da Abelheira e da Manuela. Entrámos na casa de xisto, abraçada pelo verde, e fomos recebidos com cordialidade e simpatia.
Esperava-nos o quarto de nome Viosinho, uma das castas de vinho branco mais famosas do Douro que nos iria conquistar, mais tarde, ao jantar. Decoração elegante e simples, cama king size muito confortável e vista para a piscina e para as vinhas.
A Casa das Pipas é uma das unidades de enoturismo da Quinta do Portal e conta com 13 quartos. Na mesma propriedade, há outra unidade, a Casa do Lagar, um antigo lagar de azeite que foi transformado numa agradável casa de campo com quatro quartos, ideal para famílias.
Os passeios pela quinta teriam de ficar para o dia seguinte, uma vez que era altura de rumarmos ao restaurante. Estava prestes a começar um verdadeiro festim aos sentidos a partir do menu preparado pelo chef Milton Ferreira.
Não sabíamos o que nos esperava e fomos sendo surpreendidos a cada novo prato. Desde as entradas à sobremesa, íamos conversando com o chef através dos sabores apresentados. Ali cabe a tradição da gastronomia do Norte e do Douro – os enchidos, o polvo, a vitela, a ligação à terra –, mas também cabe a inovação e o sentido de superação de Milton Ferreira. “É uma cozinha de sentimentos e em constante evolução”, contou-nos o chefe, no fim do jantar.
Em simultâneo, íamos comprovando a qualidade dos vinhos da Quinta do Portal com a perfeita harmonização feita para o jantar em causa. Do suave rosé ao delicioso branco reserva de 2017, passando pelos tintos equilibrados, até chegar ao moscatel cítrico, também conseguimos perceber a mensagem do enólogo Paulo Coutinho. Não é por acaso que os vinhos da Quinta do Portal têm arrecado vários prémios internacionais.
No dia seguinte, após um bom pequeno-almoço, seguimos para a visita ao armazém de envelhecimento de vinho da quinta. O edifício foi desenhado pelo arquiteto Siza Vieira, feito com materiais típicos da região, como xisto, mas onde a cortiça também tem um papel de destaque. Tudo ali foi pensado para que os vinhos envelheçam nas melhores condições, o que lhe valeu o Prémio de Arquitetura do Douro 2010/2011.
Ao entrarmos no primeiro piso do edifício, é o cheiro intenso a vinho do Porto que sentimos, em primeiro lugar. Depois, a vista tenta abarcar os tonéis e as barricas dispostos com uma exatidão milimétrica. Aqui, os vinhos fortificados podem envelhecer sem pressas, sendo que a temperatura vai oscilando naturalmente de acordo com as estações do ano. “No inverno, está entre os oito e nove graus, e no verão pode chegar aos 18”, explicou-nos José, o nosso guia.
Descemos nove metros até ao próximo piso para conhecer o lugar onde descansam os vinhos tintos. Abre-se uma porta, olhamos para cima e ficamos com a ideia da dimensão do edifício e das várias camadas de xisto, cortiça e capoto. Última paragem: o terraço. Do alto, contemplamos as vinhas a perder de vista, calcando relva. O telhado verde absorve a humidade e ajuda a regular a temperatura do armazém.
No final da visita, somos convidados a mais uma prova dos néctares ali produzidos, na loja e sala de provas. Os vinhos desta empresa são vendidos em 37 países. As principais castas de tintos da Quinta do Portal são a Touriga Nacional, a Tinta Roriz, a Tinta Barroca, a Touriga Franca e o Tinto Cão, enquanto que dos brancos são o Moscatel, Viosinho, Malvasia Fina e Gouveio. É uma das poucas quintas vinícolas do Douro que ainda pertence a uma família portuguesa, a família Mansilha Branco.
Além de poder desfrutar da área da piscina, é possível fazer caminhadas pelos 15 hectares da Quinta do Portal, conhecer a horta, que serve o restaurante com produtos frescos, e deixar-se levar pelo ambiente bucólico e romântico da propriedade.
Não precisamos sair dali para sentir o Douro, mas, se quisermos sair, as aldeias de Celeirós e Provesende e a vila de Sabrosa estão a uma curta distância da Quinta do Portal, bem como o miradouro de São Domingos. Lá do alto, contemplamos a paisagem arrebatadora que nos surpreende sempre que voltamos a esta região única.
Quando é que regressamos?
O SAPO Viagens visitou a Casa das Pipas a convite da Quinta do Portal
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