Há quem prefira ficar a conhecer uma cidade pelas suas livrarias, igrejas ou miradouros. Porque não através das árvores?
Embora ainda existam ruas em Lisboa sem elas, a cidade tem mais de 600 mil árvores, pertencendo a 200 espécies. Uma forma de as descobrir, e aprender a reconhecer, pode passar por fazer uma visita guiada, organizada pelo município, a um dos seus espaços verdes menos conhecidos.
A visita tem lugar na Quinta Condes dos Arcos, nos Olivais, onde também funcionam o viveiro municipal e as escolas de jardinagem e de calceteiros de Lisboa, e tem como objetivo dar a conhecer as 28 árvores mais notáveis existentes no seu perímetro, algumas das quais é comum encontrar nas ruas da cidade.
O percurso inicia-se junto a uma grevílea (árvore que pode chegar aos 30 metros de altura e cujas flores na primavera se assemelham a escovas amarelas) e, duas horas depois, termina na anciã ginkgo biloba (espécie que parece ter chegado a nós praticamente tal como existia há mais de 150 milhões de anos). Pelo caminho, passamos por árvores tão comuns nas ruas da capital como a ameixoeira de jardim (por vezes confundida com a cerejeira) e o plátano (uma das espécies mais frequentes em Lisboa, a par do lódão-bastardo e do pinheiro-manso), assim como por outras mais raras, da exótica paineira (reconhecível pelo seu tronco espinhoso) à sedutora flor-de-merenda (uma árvore de pequeno porte cujo tronco liso e contorcido lembra por vezes a anatomia humana).
Falar de árvores implica convocar sensações, parecenças e lugares, como nos previne, logo à partida, Nuno Serra, engenheiro agrónomo da Câmara Municipal de Lisboa e o nosso guia esta manhã. Tanto é que, ao longo do percurso, com pouco mais de 1,5km, a passagem por algumas das árvores irá suscitar nomes de avenidas e partes da cidade que lhes estão associadas. É difícil abordar os jacarandás, por exemplo, sem mencionar a Avenida Dom Carlos I ou a Avenida da Torre de Belém, onde as árvores surpreendem, por esta altura do ano, o olhar com o tom azul-violeta das suas flores. Acontece o mesmo com as ginkgos e a sua outonal explosão de amarelo em diferentes pontos da cidade, como o Jardim das Amoreiras.
Estas manifestações de cor obedecem a um trabalho invisível de planeamento que é responsável pela escolha do arvoredo urbano, e leva em conta diversos critérios, das necessidades de manutenção de cada espécie arbórea à qualidade da sua sombra (cuja graduação é um exercício quase literário), para só dar dois exemplos.
Numa altura em que se fala cada vez mais da importância das árvores para a qualidade de vida nas cidades (do ar que respiramos à amenização das elevadas temperaturas no verão), pode ser útil ficar a conhecê-las um pouco melhor, a começar naquilo que o próprio município, através da experiência acumulada dos seus técnicos, já aprendeu sobre a especificidade de cada espécie e pode partilhar com o público nesta visita guiada.
Como visitar
A Quinta Conde dos Arcos é um parque urbano aberto ao público durante todo o ano. O percurso das 28 árvores está sinalizado e pode ser feito livremente (com o auxílio de um mapa e de códigos QR em cada árvore) ou integrado numa visita guiada organizada pela Escola de Jardinagem de Lisboa. A próxima visita guiada tem data marcada a 24 de agosto (com inscrições até dia 21). Mais informações na página da Câmara Municipal de Lisboa.
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