Cerca de 1.400 espécies pintam a paisagem das traseiras de uma casa pequena e modesta, também ela adornada de plantas, que são uma constante na Quinta das Mil Flores, a par da calma, onde nem os carros se ouvem.
Annabelle não tem pressa quando fala das diversas plantas que foram brotando durante os últimos nove anos naquele jardim, criado na aldeia do Sobreiro, em Pedrógão Grande, Leiria.
Dá a provar "o caviar dos limões", o ‘citrus australasica', mostra as mais de 60 ervas aromáticas que tem, fala dos diversos projetos que quer fazer avançar no terreno ou conta a história de determinada flor, da qual sabe quase sempre o nome na ponta da língua, o comum e o científico.
Durante o ano, a antiga modelo norte-americana divide a sua vida entre Pedrógão Grande e o castelo de Thoiry, em França, onde vive com o seu marido, o conde Paul de La Panouse, com quem se casou há mais de 40 anos.
Na tranquilidade do campo, Annabelle passa parte do tempo a pensar no seu jardim, que foi ganhando dimensão e variedade ao longo dos anos, com a diversidade a percorrer todo o lugar, desde a horta (com mais de 100 vegetais diferentes) até à zona dos citrinos (cerca de 70 espécies).
Annabelle nasceu com o nome Anne Burleigh, no Minnesotta, nos Estados Unidos da América. Chegou a ser modelo e foi nessa condição que conheceu Portugal, nos anos 1960, quando passou por Albufeira, na altura "uma pequena vila piscatória".
Pouco tempo depois, encontrou Paul de La Panouse e casou com o conde francês em 1976. Foi já com o título de condessa que voltou a Portugal, há nove anos, à procura de "melhor clima", por sofrer de artrite.
Viu o anúncio de um terreno na aldeia de Sobreiro, Pedrógão Grande, e decidiu comprar. Desde então que se dedica ao jardim, com a ajuda de locais e de especialistas em paisagismo.
Depois de comprado o primeiro terreno, adquiriu propriedades vizinhas e, à medida que surgiam ideias para o jardim, ia "fazendo mais e mais e mais".
Na Quinta das Mil Flores, que pode ser visitada entre as 14:00 e as 18:00 e que também funciona como espaço hoteleiro, Annabelle já investiu mais de 600 mil euros, assumindo-se como arquiteta, paisagista e designer do espaço, desdobrando-se em conversas sobre as plantas dos projetos ou obras que irá fazer.
De momento, o foco da condessa francesa vai para dois terraços e um terreno inclinado, onde quer criar "um jardim de rosas" com 400 espécies diferentes, entre roseiras modernas, antigas e botânicas (espontâneas).
"Isto funciona por paixão. Eu vejo uma planta que gosto e compro. Depois, encontro plantas igualmente interessantes da mesma família e compro", explica, referindo que é uma "colecionadora nata".
Apesar de alguma burocracia que não lhe agrada, Annabelle gosta de Portugal, das pessoas "simpáticas" e da paisagem verde que encontrou em Pedrógão Grande.
"As pessoas pensam que Portugal é seco, porque é quente. Mas há lagos e rios, praias bonitas arranjadas e tudo cresce aqui como loucos", sublinha.
"Aprecio a calma e o clima e a forma muito relaxada de se viver. Normalmente, vivo num castelo com, talvez, 1.000 metros quadrados e temos mais de 450.000 visitantes por ano, perto de Paris. Isto é calmo, definitivamente mais calmo", realça.
Pelo jardim, gosta que os cinco sentidos estejam sempre em funcionamento: "cheirar, ouvir, tocar, provar e contemplar", explica.
Sentada debaixo da sombra de uma árvore, a ouvir o som dos pássaros num dia quente de verão, Annabelle pergunta: "Isto não é o céu?".
Para a condessa, o jardim será sempre um processo em construção: "os visitantes perguntam-me quando vai estar terminado e eu digo: ‘o jardim vai estar acabado quando eu morrer’".
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