Uma manada de cavalos garranos refresca-se num pequeno lago. São cavalos selvagens com um vasto território de mais de mil hectares da reserva da Faia Brava por onde andam livremente.

Faia Brava
créditos: andarilho.pt

Só o macho andava um pouco mais distante. Os restantes pastavam junto à berma da lagoa. Um potro ganhava agilidade no meio da água mas tinha a audição apurada porque reagia ao barulho do motor da máquina fotográfica.

Os cavalos garranos são autóctones e estão em risco de extinção. A gestão da Faia Brava ajuda a preserva a espécie, mas também conta com o serviço deles.

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“Estas reservas podem também dar uma vertente mais positiva a este tipo de território que está mais abandonado e sujeito a fogos. Ao ter uma gestão ativa do património natural conseguimos que o espaço esteja mais protegido, mais resiliente, por exemplo, contra os incêndios. Há cerca de 15 anos introduzimos o cavalo garrano. Além de ser uma espécie autóctone em vias de extinção, as manadas fazem um trabalho meritório ao pastarem dentro da reserva e reduzirem a carga combustível.”

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A explicação é de  Marco Ferraz, colaborador da Associação Transumância e Natureza, uma ONG de ambiente que faz a gestão do espaço. Comemoraram 20 anos em Junho passado. “A Faia Brava é uma área protegida privada. A gestão é de uma entidade sem fins lucrativos, uma ONG de ambiente.” Ainda nas palavras de marco Ferraz este tipo de gestão “abre oportunidades, até no que respeita ao envolvimento dos cidadãos, de pessoas que podem apoiar a conservação da natureza. Desde a sua criação. Com o apoio de mecenas, sócios e amigos do projeto, para aquisição de terras no sentido de aumentar a área onde se faz este trabalho de conservação da natureza”.

O desafio começou com a aquisição de 30 hectares por um grupo de biólogos com o objetivo de preservar um casal de águia Bonelli e britangos que residem nas escarpas do vale do Côa e são espécies em risco de extinção. Este é um dos poucos lugares em Portugal onde nidifica a águia de Bonelli.

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Águia de Bonelli ©ATN créditos: ATN

Em 2003, um incêndio devastou toda a zona e obrigou-os a alterar a perspetiva de preservação ambiental. Era necessária maior ambição. Rapidamente perceberam que que de pouco serve preservar um ninho se a área envolvente não for protegida. Muitos dos terrenos estavam ao abandono com o êxodo da população que começou na década de 60 para França. Com apoios internacionais foram adquiridos mais propriedades que ultrapassam agora os mil hectares.

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A Reserva Faia Brava foi a primeira Área Protegida Privada a ser classificada pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e organiza visita guiadas. No entanto, está aberta a visitação. “É um espaço que está aberto. É lógico que há regras, mas é um espaço aberto ao público. Privilegiamos que as pessoas façam uma visita guiada e orientada e, dessa forma, contribuem com os serviços de um guia que os vai a ajudar a interpretar o trabalho que está a ser desenvolvido. No entanto, há trilhos que são de livre acesso.”

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É uma área que vale a pena conhecer porque acaba por se revelar um laboratório vivo que pode ser inspirador também para outras áreas.

Um dos acessos é o Trilho dos Biólogos com uma extensão de 2,5km. Foi próximo deste percurso pedestre que encontrámos os cavalos selvagens.

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Num outro trilho, Marco Ferraz levou-nos até ao local onde estava uma manada de vacas maronesas. O touro vinha à frente, mas terá havido um desafio com um touro mais jovem porque estava com um corno partido.

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Comportamentos que não mudam ao longo de milénios e que, de algum modo, estão retratados nas gravuras rupestres do vale do Côa. Estamos próximos de alguns núcleos e até do ponto de vista icónico. “Com a reintrodução do cavalo selvagem ou do extinto auroque. Nós temos vacas maronesas que geneticamente é a vaca mais próxima do auroque.”

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No final do Trilho dos Biólogos temos um excelente miradouro. Espreitámos a parte mais profunda do Vale do Côa. É um ambiente selvagem. Escarpas, encostas íngremes, onde o homem não se aventurou. Apenas próximo do rio para desenhar as gravuras.

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A beleza de um ambiente rude, a diversidade de espécies e o trabalho de salvaguarda ecológico são os elementos que mais cativam a atenção dos visitantes no testemunho de Marco Ferraz – “no fundo é irmos para algo selvagem. O que eu sinto é que as pessoas estão num safari e estão em contacto com elementos da natureza, ao vivo”.

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Marco Ferraz, colaborador da Associação Transumância e Natureza créditos: andarilho.pt

No entanto, sublinha Marco, “a vida numa reserva não é como num zoo. Nós temos uma ideia por onde andam as manadas, onde nidificam as grandes aves, mas não podemos dar a garantia que as vamos ver. Andamos próximo do espaço que habitam, vamos perceber o trabalho de gestão do lugar e isso traz às pessoas algo de muito interessante.”

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Além do trabalho realizado pela Associação Transumância e Natureza para a preservação da reserva, há poucos sinais de intervenção humana. Do antigo cultivo da terra restam algumas construções agrícolas, acampamentos e o olival. Por outro lado, a associação procura ainda envolver as comunidades locais. “Trabalhamos sempre com parceiros locais. Agricultores e pastores, no sentido de melhorarem as práticas no sentido de uma produção mais ecológica.

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Na Faia Brava também mantemos algumas atividades tradicionais. É o caso do olival com o qual produzimos mais do que um azeite biológico, é um azeite selvagem. Tudo isso pode ser inspirador como modelo de gestão de territórios de baixa densidade.”

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A deslocação pode ser complementada com uma visita às gravuras rupestres e  tem passagem obrigatória por Algodres, Vale de Afonsinho e Vilar de Amargo, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Aqui pode ver dois núcleos museológicos. O de Algodres dedicado à agricultura e o de Vilar de Amargo sobre etnografia.

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Museu em Algodres créditos: andarilho.pt

Em Algodres pode ver ainda igreja que data do século XIV ou XV e subir ao alto, da Santa Bárbara que faz parte da história das sete irmãs que construíram sete capelas para se verem umas às outras. De Santa Bárbara vemos mais duas.

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Vista para Cidadelhe créditos: andarilho.pt

No lado oposto da Faia Brava, no concelho de Meda, a localidade mais próxima é Cidadelhe.

Faia Brava, selvagem e livre no vale do Côa faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.