O francês Yann Levasseur viaja pelo menos uma vez por ano para um país diferente à procura de uma experiência de surf. Depois de Marrocos, escolheu agora a praia do Baleal, em Peniche.
"É a primeira vez que estou em Portugal. Vim para surfar durante alguns dias. Estou a gostar das ondas, do tempo, apesar de hoje não estar muito bom, e das pessoas", contou à agência Lusa.
Com os voos de baixo custo para Portugal, na Ericeira e em Peniche há cada vez mais adeptos das ‘escapadinhas’ de fim de semana, apesar de a média das estadias se manter entre os cinco e os sete dias, referem Ricardo Leopoldo e Nuno Gonçalves, presidentes, respetivamente, das associações de Escolas de Surf e Surf Camps de Peniche e da Ericeira.
Em Peniche, é mais frequente receber suíços, alemães, ingleses e franceses, enquanto na Ericeira há sobretudo alemães, austríacos, holandeses, noruegueses, suecos e finlandeses. Porém, começam a surgir também japoneses, cazaquistaneses, mongóis e indonésios em Peniche e americanos, australianos ou turistas da América Latina na Ericeira.
Vêm sobretudo à procura de "boas ondas, de sol e de clima ameno e do espírito acolhedor dos portugueses", segundo os também empresários ligados às escolas e alojamentos de surf, e são capazes de gastar mais de 100 euros por dia.
Nos três dias de estadia, Yann Levasseur conta gastar 300 euros neste período de época baixa, sem contar com os gastos de hotel.
Uma aula de surf custa entre 25 e 30 euros, mas o custo de uma dormida variante consoante a época do ano e o tipo de alojamento. Segundo uma pesquisa em www.booking.com, o preço por noite vai desde cerca de 30 euros num alojamento de baixo custo até 190 euros num hotel de quatro estrelas.
Estes turistas contribuem com milhões de euros para a economia - não só em escolas e alojamentos de surf, mas também na restauração e no comércio.
Ricardo Leopoldo diz que pela sua empresa passam por ano cerca de três mil turistas. Já Nuno Gonçalves refere que fatura só na sua empresa cerca de 100 mil euros por ano e aponta para 200 a 300 turistas por semana na Ericeira.
A etapa de Peniche do mundial de surf é exemplificativa. Durante os dez dias em que a prova decorreu em 2015, os 100 mil visitantes geraram lucros na economia estimados em 10,6 milhões de euros, segundo um estudo encomendado pela câmara.
O turismo de surf está também a criar postos de trabalho, a desenvolver a indústria e a atrair investimentos, para os quais muito contribuíram, em Peniche, a realização da etapa do mundial de surf desde 2009 e, na Ericeira, a criação em 2011 da Reserva Mundial de Surf, a primeira da Europa.
Na Ericeira, por exemplo, estima-se que existam três mil postos de trabalho diretos e indiretos, 22 lojas de venda de acessórios para desportos de ondas e 11 fábricas de produção de pranchas.
Em Peniche, o presidente da câmara, António José Correia, estima em mais de 25 milhões de euros os investimentos que surgiram nos últimos quatro anos e outros novos estão a caminho calculados em 3,5 milhões de euros.
Em Peniche existem 50 escolas de surf e na Ericeira 25, segundo dados disponibilizados à Lusa pelas capitanias dos portos de Peniche e de Cascais.
Peniche conta com mais de 4.100 camas e uma capacidade para alojar 7.000 turistas entre unidades de alojamento local (360, com capacidade instalada de 3.000 camas), unidades hoteleiras (560, com capacidade para 1.000 camas) e parques de campismo e caravanismo, de acordo com o município.
Mafra tem 3.000 camas e capacidade para quatro mil turistas só em 566 estabelecimentos de alojamento local, grande parte dos quais se situam na Ericeira e apostam no surf.
Surf cresce como produto turístico em Portugal
Associações, escolas e autarquias atestam que Portugal é cada vez mais um destino de turistas praticantes de surf, que procuram aulas, provas ou experiências autónomas, dinamizando negócios durante todo o ano em diferentes zonas do país.
No Algarve, o turismo do surf “aumentou de forma muito significativa nos últimos cinco anos, impulsionando novos negócios nas áreas do alojamento, escolas da modalidade e serviços de apoio”, refere à Lusa o presidente da Associação de Escolas de Surf da Costa Vicentina, Samuel Furtado.
“Apesar de o surf ser uma atividade com maior incidência fora do período de verão, verifica-se na Costa Vicentina uma permanência de praticantes de vários países do norte da Europa, ao longo de todo o ano, com efeitos muito significativos na economia dos concelhos”, frisa.
O presidente do Clube de Surf de Viana do Castelo e responsável pelo Centro de Alto Rendimento de Surf do Cabedelo explica que também a norte “o surf é procurado todo o ano”. Entre os turistas estrangeiros, destacam-se os espanhóis, mas também holandeses e franceses.
“Desde há cinco anos que se nota maior expressividade de turistas que vêm aprender surf e ver provas, mas também há aqueles que vêm surfar autonomamente”, afirma João Zamith, lembrando, porém, que mesmo antes da chegada das companhias aéreas ‘low-cost’ havia procura nesta área.
Na Escola de Surf de Matosinhos, a Surfaventura, 70% dos clientes são estrangeiros oriundos de França, Itália e Alemanha, conta a funcionária Ercília Oliveira. A ‘explosão’ turística, para a qual contribuiu o ‘boom’ das ‘low-cost’, ocorreu nos últimos dois anos.
Já na Escola Surfgreencoast, em Espinho, 40% da clientela vem do estrangeiro, principalmente de França, Alemanha e Holanda, e a tendência é haver “cada vez mais clientes turistas”, prevê Gonçalo Pina, responsável pela escola.
Também neste caso se aponta a chegada das ‘low-cost’ como fundamental: “Com o Aeroporto de Sá Carneiro e o Porto a crescer muito a nível turístico, Espinho acaba também por crescer”.
A Figueira da Foz, que recebeu por quatro vezes a elite mundial da modalidade, tem vindo a direcionar os investimentos para as famílias que ali se deslocam e possui cerca de 150 praticantes habituais ao longo do ano, "número que no verão triplica", diz o presidente da Associação de Desenvolvimento Mais Surf, Eurico Gonçalves.
A associação, com uma das três escolas de surf que têm instalações fixas na zona da praia do Cabedelo, promove pelo quarto ano consecutivo o Gliding Barnacles, festival que junta surf, arte, música e vinho, e quer desenvolver "um produto diferenciador".
A Associação de Bodyboard Foz do Mondego, de acordo com dados de 2016, tinha 472 alunos registados, com idades entre os seis e os 64 anos, entre praticantes habituais e outros provenientes de instituições de solidariedade social, alunos estrangeiros do programa Erasmus e de municípios da região.
O presidente da direção, Nuno Trovão, afirma que a atividade "tem aumentado nos últimos anos" (cresceu cerca de 26% desde 2014). Em 2016 "não houve tanto crescimento como noutros anos, mas está estável".
No município, o surf tem vindo a fazer florescer negócios na hotelaria (nos últimos anos foram criados seis unidades, a maioria hostels) e, na vila de Buarcos, nasceu em 2010 a Janga, empresa de roupa específica e acessórios que apostou na internacionalização.
Na Nazaré, o presidente da Câmara, Walter Chicharro, fala em “bons indicadores por parte da restauração e hotelaria”, que nos dias da etapa internacional Nazaré Challenge, em dezembro, “estiveram completamente cheios”.
Registaram-se no concelho aumentos de visitas ao Farol (250 mil entradas pagas nos últimos 24 meses), de passeiros do ascensor (de 600 mil passeiros em 2013 para 900 mil em 2016) e de vendas de ‘merchandising’ da marca “Praia do Norte” (com um volume de negócios inferior a seis mil euros em 2014 e próximo dos 50 mil euros em 2016).
À boleia das ondas gigantes surgiram “novas empresas ligadas ao surf, um aumento da ocupação do Centro de Alto Rendimento”, crescendo “uma comunidade de estrangeiros, oriunda de variadíssimos países, que reside na vila, no mínimo, seis meses por ano”.
Em Peniche e na Ericeira (Mafra), as associações de escolas de surf e ‘surf camps’ indicam que a média das estadias está entre cinco e sete dias. Na Ericeira, Reserva Mundial de Surf, estima-se que existam três mil postos de trabalho diretos e indiretos no setor, 22 lojas de venda de acessórios para desportos de ondas e 11 fábricas de produção de pranchas.
Em Peniche, o presidente da câmara, António José Correia, estima em mais de 25 milhões os investimentos dos últimos quatro anos e outros novos estão a caminho, calculados em 3,5 milhões.
Nos Açores o fenómeno é motivado pelas provas de apuramento para o mundial realizadas na Ribeira Grande, a zona mais procurada.
O presidente da Associação dos Açores de Surf e Bodyboard recordou que o surf estava ligado aos clubes da ilha de São Miguel, tendo surgido em 2016 o primeiro espaço especificamente vocacionado para esta atividade. Atualmente há três, associados a empresas de animação turística que promovem aulas de surf para turistas, batismos, entre outros.
Francisco Melo estima que existam como praticantes a tempo inteiro, só na ilha de São Miguel, cerca de 250 surfistas.
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