A maioria das 1,5 milhões de pessoas esperadas para a Jornada Mundial da Juventude deverá chegar a Lisboa no início de agosto num avião ou autocarro. Para marcar a diferença, um grupo de 39 jovens católicos franceses está a planear partir de Lyon, no dia 24 de julho, e fazer a viagem até à capital portuguesa numa caravana de 18 viaturas do modelo icónico da Renault, a 4L.
Lançada em 1961, a velha "dama" da indústria automóvel francesa foi produzida até aos anos 90, num total de 8 milhões de viaturas. Um dos seus atuais proprietários é, nada mais, nada menos, que o próprio Papa Francisco, que a recebeu em 2013 como oferta de um padre italiano, na sequência do seu apelo à condução de "veículos humildes".
"Partir num 4L é partir à aventura" é um dos lemas do grupo de Lyon, que traz, à cautela, um mecânico consigo para a viagem de 8 dias e 3 mil quilómetros, com paragens previstas no sul de Espanha e Lagos. "Se o cristão é ousado, acho que também deve ser cauteloso", brinca Anne Ménès, a organizadora do projeto, a quem colocámos algumas questões por escrito sobre os preparativos envolvidos e as expetativas que têm para a jornada.
Como surgiu a ideia de associar esta viatura icónica à vossa jornada?
Anne Ménès: A ideia foi nascendo aos poucos. Em 2016, eu tinha 17 anos e fui à JMJ em Cracóvia. Lá, eu vi os 4Ls nas ruas. Fez-me sonhar e no final do verão soube que eram os adultos que tinham estado comigo nos escuteiros que tinham montado este projeto maravilhoso. Mais tarde, em 2019, foi-me proposto montar uma equipa para o Troféu 4L. Não hesitei, fui em frente! Este desafio foi um sucesso, em fevereiro de 2020, pouco antes de o mundo paralisar, e consegui, com o meu companheiro de equipa, a façanha de percorrer 6 mil quilómetros, incluindo mais de 1.500km na areia do deserto marroquino, sem avariar.
Em 2021, à volta de uma fogueira, discutia com alguns amigos as próximas datas a não perder nas nossas vidas. Nesse momento, as JMJ ainda estavam a dois anos de distância, e marcámos a data no nosso calendário. Pouco depois, falámos com os nossos amigos que foram até à Polónia numa 4L. Os seus rostos voltaram-se para mim e no coração pareciam dizer: "Anne, faz-te à estrada, que nós seguimos-te!"
De início, fiquei completamente assoberbada com a escala do projeto. Não queria acreditar no que era preciso assegurar. O projeto foi amadurecendo na minha cabeça durante todo o verão. Falei com aqueles à minha volta, pensei nos patrocinadores, na organização, no orçamento. Em setembro, fui para o Canadá, como parte dos meus estudos em engenharia, para treinar a vertente da gestão de projetos, e é então que se dá o clique. Finalmente, tinha as ferramentas para construir o projeto JMJ em 4L com bons alicerces. Ponho o meu irmão a par, abrimos a nossa associação e "bóra"! Um responsável de comunicação rapidamente se juntou a nós, depois o nosso tesoureiro, depois um responsável pelos patrocínios e parcerias. As inscrições abrem e jovens de toda a França se inscrevem. Contamos com o apoio da conferência dos bispos da França e da diocese de Lyon! O acaso é definitivamente o disfarce de Deus que viaja incógnito. Ele segurou a nossa mão desde o início com tantos encontros e finais felizes!
Quais são as vossas expetativas em relação à Jornada? Que experiência esperam que proporcione aos jovens participantes?
Espero encontrar nas JMJ outros jovens cristãos inspirados pela fé, para regressar a casa com a fé revigorada. Também espero encontrar ensinamentos que me ajudem a fazer escolhas para viver como uma cristã comprometida com o mundo. Encontrar o meu lugar e ocupá-lo com a graça de Deus para servir aos meus irmãos.
Para os jovens que participam da JMJ ou que vêem os seus amigos participarem, a principal mensagem para mim é: a Igreja está viva hoje! Ela ainda não morreu e nós somos os jovens que a mantêm viva!
Todos os participantes partem de Lyon?
Boa parte dos participantes sairá de Lyon, onde decorrerá uma bênção dos 4Ls antes da partida! O resto do grupo se juntará a nós em Perpignan no primeiro acampamento da Congregação das Irmãzinhas dos Pobres [que presta apoio a idosos doentes e pobres].
Em Portugal, os custos da organização da JMJ têm sido objeto de grande debate. Quais são as vossas expetativas em relação aos eventos em Lisboa? Um imenso acampamento ou algo um pouco mais organizado?
Em Lisboa, espero algo bem humorado. Ou seja, não necessariamente com muita infraestrutura ou recursos. Mas organizada no sentido de que espero que haja sinalização que nos permita orientar, muitas zonas pedonais, locais onde comer e beber com facilidade, etc... Que a vida prática seja simples.
Quanto à viagem que vos espera, poderia dizer-se que conduzir tantas 4Ls ao longo de tantos quilómetros é realmente um salto de fé. Receiam alguma avaria no vosso percurso?
Sim, conduzir tantos 4Ls é um verdadeiro salto de fé. Se o cristão é ousado, acho que também deve ser cauteloso. A prudência também não exclui a confiança. Tudo isso é, portanto, um equilíbrio muito subtil que deve ser vivido na fé. Organizamos o máximo de coisas possível, planeamos ter um "carro-vassoura" com o suficiente para ajudar os 4Ls com o equipamento básico. Organizámos etapas com distâncias razoáveis entre si, verificamos o estado das viaturas antes da partida e auxiliamos as equipas na preparação das suas viaturas. O resto, ninguém o pode prever, por isso temos de lá ir, e viver a aventura que nos espera e que nos urge!
O resto, ninguém o pode prever, por isso temos de lá ir, e viver a aventura que nos espera e que nos urge!
Costuma-se dizer que para afastar o vício é preciso cultivar a virtude. É à luz das virtudes teológicas e cardeais que caminharemos ao encontro do Papa com o coração leve. Prudência, Temperança, Fortaleza, Justiça e Fé, Esperança e Caridade. A caridade é a maior.
É por isso que o nosso caminho será pontuado por paragens nas várias Congregações das Irmãzinhas dos Pobres, às quais prestaremos serviço diário. Que a nossa alegria irradie, mesmo nas periferias dos lugares mais remotos!!
Obrigado, Anne!
Podem acompanhar o projeto JMJen4L no instagram.
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