Como comecei pela poesia, aí vamos nós! O XXI Festival Literário “Poesia à Mesa”, comissariado por Paulo Condessa e José Fanha, decorre de 1 a 21 de março. Trata-se, sumariamente, em espalhar poesia por locais inusitados e inesperados, como fábricas, restaurantes, transportes e mercados. A edição 2023 é dedicada ao poeta Eugénio de Andrade, cujo centenário de nascimento se comemora este ano.
O Festival tem como momento alto, a peregrinação poética, com seis palcos espalhados pela cidade, onde a poesia de Eugénio de Andrade se fará ouvir pelas vozes de associações, grupos e coletividades locais. Agendada para o dia 11 de março, às 16h00, a iniciativa conta com a participação do conhecido ator Marcantonio Del Carlo. Nada melhor do que (re)visitar a cidade, numa peregrinação que se inicia na Biblioteca, passa pelo Largo de Santo António e pela Praça Luís Ribeiro, regressando ao seu ponto de partida.
O programa contempla ainda alguns espetáculos na Casa da Criatividade, com destaque para o “Serão Poético”, no dia 18 de março, com a presença de João Gil e a estreia nacional do espetáculo “Branco de Neve - Dicionário para Eugénio de Andrade - 100 Palavras” do escritor Gonçalo M. Tavares, no Dia Mundial da Poesia (21 de março). A Biblioteca Municipal e os Paços da Cultura serão, por esses dias, palcos de poesia, apresentações de livros, tertúlias e conversas. Também o Museu da Chapelaria se associa à iniciativa, com uma programação especial.
Note o privilégio de conhecer a cidade “banhada” por estendais de poemas ou viajar no TUS, passear pelo Mercado Municipal ou sentar-se à mesa de um dos restaurantes aderentes e ser “surpreendido” por declamações e performances, das belíssimas palavras de Eugénio de Andrade.
As Palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparados, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
in Até Amanhã
Portanto, Biblioteca Municipal (1), Casa da Criatividade (2), Paços da Cultura (3), Mercado Municipal (4), Museu da Chapelaria (5), Praça Luís Ribeiro (6) são a meia dúzia de bons motivos para ir a São João da Madeira.
Seguimos o périplo cultural e continuamos na Casa da Criatividade, espaço que celebra em 2023, 10 anos de existência. Também em março e a estender-se até ao dia 23 de abril a XV edição do Festival de Teatro de São João da Madeira. Destaque para a peça de abertura, no dia 26 de março, pelas 17h00, “A Ratoeira”, de Agatha Christie, com o conceituado Ruy de Carvalho. E vão sete! Isto para não mencionar a panóplia de espetáculos multidisciplinares que o espaço vai receber ao longo do ano. Podem ver a programação completa aqui.
O Museu do Calçado e a Torre da Oliva são os dois espaços que se seguem, numa contagem de motivos sem ordem aparente. Não fosse São João da Madeira, cidade do calçado e do chapéu, onde estes ofícios se entrelaçam com a vida dos seus habitantes e se reinventam, a cada dia. A cidade soube tirar o melhor partido do que tinha para oferecer: o seu acervo industrial. Em boa hora, São João da Madeira foi precursora do Turismo Industrial, oferecendo um vasto leque de serviços ligados à indústria, incluindo visitas guiadas pelas fábricas em laboração, como é exemplo a Viarco, única fábrica de lápis em Portugal ou a Fepsa, empresa líder da indústria da chapelaria. Saiba como agendar uma visita pelo património industrial e faça um check no número dez da lista!
Para não desmentir-me e tendo em conta que parti do pressuposto inicial de que seriam bem mais do que dez motivos, é certo que cada um deles abraça uma série de outras boas razões, multiplicando-se. Uma visita ao Parque da cidade ou um passeio pelos parques do Rio Ul ou da Nossa Senhora dos Milagres são, por si só, excelentes motivos de visita. Há mais! Mas deixo-vos passar por lá e descobrir.
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