De longe não se tem a ideia de um lugar muito calmo e desertificado. Ao contrário, temos a visão de um lugar tenso, com as muralhas a fazerem um enorme esforço para se adaptarem às irregularidades do cume granítico e com uma encosta muito íngreme e com muitas pedras.
Sobressai a torre da igreja envolvida pelo casario onde se imagina uma vida mais intensa.
Na praça principal sente-se o vazio que é preenchido fugazmente por uma voz que se ouve ao longe.
Visitei Castelo Bom ao final de uma manhã soalheira e encontrei apenas duas pessoas. Ao todo, a freguesia tem apenas 216 habitantes.
No passado medieval foi uma das fortalezas perante Leão e Castela, na chamada Riba-Côa e que envolve mais oito castelos. Curiosamente, o castelo foi construído pelo reino de Leão e passou definitivamente para o reino de Portugal com o tratado de Alcanizes em 1297. O castelo está classificado como Monumento Nacional.
A subida da encosta para o castelo é promissora. A meio, deparamos com a Capela de S. Martinho e uma sepultura antropomórfica. Depois, encontramos a muralha alta e, após uma esquina, surge a porta do castelo.
Entramos de seguida num universo um pouco estranho.
Na arcada de pedra, protegida da chuva e do sol, está um santo num nicho azul e iluminado por um candeeiro.
Por outro lado, a muralha e a entrada de pedra perspectivavam uma grande construção defensiva mas já pouco existe. A porta dava acesso à torre de menagem que já desapareceu. O próprio castelo foi parcialmente destruído nas invasões francesas em 1810 e a pedra foi reutilizada na construção das casas.
Muitas delas ainda mantêm a traça antiga, são habitações térreas em ruas de pedra estreitas e sinuosas.
Algumas ruas estão coloridas com flores e a intensidade das cores aumenta consoante nos aproximamos do centro da aldeia.
Esta é talvez a área mais interessante. A igreja de Nossa Senhora da Assunção, parte do que resta do pelourinho, a Casa do Fidalgo e a antiga Casa da Câmara são algumas das construções recuperadas com valor histórico e arquitectónico.
Ao lado está uma casa antiga, com uma bonita janela manuelina mas que aguarda que alguém a restaure.
Numa das saídas do largo há uma rua estreita e pelo meio a vista dá para a A25 a subir a montanha e a caminho de Espanha.
A importância estratégica de Castelo Bom pertence mesmo ao passado. Pelo que se conta aqui nem força teve para se manter na proposta de classificação de Aldeia Histórica de Portugal. O ponto mais positivo é que nos últimos anos tem havido uma aposta na preservação do património de forma a recuperar a oportunidade que se perdeu com a exclusão das Aldeias Históricas.
Castelo é Bom mas podia estar melhor faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, Castelo é Bom mas podia estar melhor, pode ouvir aqui.
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