Fotografia: Cerro do Guilhim por Andreia Prino Pires
A primeira aventura do gap year pelas pérolas do Sotavento Algarvio já está contada e, se te enchemos de inspiração nesse artigo, espera até leres este segundo! Nesta leva, o nosso caminho inicia-se na Serra do Caldeirão.
Quando me mudei para o Sul, fui trabalhar numa corticeira em São Brás de Alportel. Quando pesquisei sobre a vila, o resultado imediato foi: cortiça. Sabias que uma pessoa tem de esperar 25 anos para obter cortiça amadia, a qualidade superior para produzir uma rolha?
No século XIX, as vastas plantações de sobreiros no território foram o fator impulsionador do crescimento comercial da região, permitindo a São Brás ter independência económica de Faro e ter sido elevada a município em 1914. O município rapidamente se tornou no maior produtor de cortiça de Portugal e do mundo.
Atualmente, a produção de terracota e a agricultura são igualmente predominantes na zona. A alfarroba, o figo, a amêndoa e a azeitona são fortes negócios locais e familiares. Vale muito a pena visitar o Ângelo Martins, o seu projeto Terracota do Algarve é imperdível em passagens pela serra. Vai lá espreitar a transformação da argila em espetaculares azulejos para pavimentar o chão. Recebem visitas de grupo e são sempre muito simpáticos.
A população é muito ativa e existem diversos estrangeiros a viver na área e arredores, que fazem questão de participar na vida e movimento de São Brás. O Museu do Traje faz parte do itinerário e a interação que há entre as pessoas no dia da Recriação Histórica (dia em que se teatraliza o passado) é mágica. E para melhor desfrutar o interior, nada como provar a açorda de galinha com grão, um prato robusto e típico dali. Sinto saudades só de me lembrar! O Sol é paragem obrigatória de muitos camionistas que viajam entre Portugal e Espanha, recomendo vivamente.
Estoi foi a minha casa durante quase três anos e nunca me senti tão protegida. Quando partes em gap year estás fora do teu círculo familiar, longe dos teus amigos de infância, num novo ambiente. Mas há um sentimento geral de hospitalidade, que se desenvolve dentro da comunidade, na presença de novos membros curiosos e à procura de pertença. É, a meu ver, uma forma de te tornares melhor ouvinte e uma oportunidade para os autóctones te contarem a sua história.
Assim que cheguei em março, conheci algumas famílias locais que me mostraram as atividades que a Casa do Povo desenvolve a nível social, promovem celebrações, atividades desportivas e voluntariado associativo. Visitei as Ruínas de Milreu e percebi que tudo ali à volta já tinha outrora estado debaixo do nível do mar. Assisti à emocionante Festa da Pinha, onde se eternizam as tradições seculares.
Mas o mais precioso conselho que te posso dar sobre Estoi são os trilhos que podes percorrer em seu torno. O meu preferido é o caminho pedestre até ao Cerro do Guilhim, sem dúvida um miradouro a não perder. Seja a raiar ou a pôr, o sol tem outra beleza lá do alto! E no final do dia, a aldeia tem vários alojamentos locais onde podes passar a noite.
Já em Faro, uma boa alternativa é o Hostellicious, já lá fiquei e a vibe é muito fixe. Fica em pleno centro histórico e tens a baixa ou a marina a 5 minutos a pé. As ruas apertadas da vila adentro são um charme quando o vento está levante. Nada como beber uma bebida fresca nas escadas da igreja da Sé numa noite quente de verão, praça conhecida pelas laranjeiras, sem falar nos inúmeros rooftops que surgem a cada esquina!
Há iniciativas sociais bastante pertinentes em Faro. Caso pretendas ações de voluntariado podes colaborar com a Refood a combater o desperdício alimentar da rede de parcerias envolvida, sendo que, se preferires uma abordagem mais humanitária, tens o projeto CASA (Centro de Apoio ao Sem-Abrigo) onde podes ajudar no terreno ou nas áreas operacionais doando o teu tempo.
Faro é cidade beijada pela Arábia. Quando vagueio pelas casas brancas e trepadeiras, não sei se estou em Essaouira, em La Valletta ou em Mykonos. É uma simbiose de estilos que funde o melhor dos dois mundos. Atravessemos a ponte em madeira rumo à ilha e molhemos os pés naquele mar meio Atlântico, meio Mediterrâneo.
Texto e fotografia: Andreia Prino Pires
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