A festa do "Velho e da Galdrapa" (em língua mirandesa,"L Bielho i la Galdrapa") esteve "adormecida" desde a década de 60 do século XX, com uma fugaz aparição na década de 90 do mesmo século, fruto de empenho de um grupo de pessoas, que recuperou durante dois anos esta tradição ancestral. E com o empenho de alguns investigadores ligados à temática das máscaras no Nordeste Transmontano, o ritual ganhou agora nova vida, com a saída à rua do conjunto de mascarados no último domingo.
"Foi o primeiro do seu género a sair à rua no território do Planalto Mirandês, antes do solstício, o que deita por terra algumas teorias do passado, que referem que o período destas festas pagãs se desenvolve entre o dia de Natal e os Reis", indicou à Lusa Alfredo Cameirão, um dos responsáveis pela recuperação desta tradição, "uma das mais genuínas do Nordeste Transmontano, e também "um dos exemplares únicos do património imaterial de uma região que em boa hora foi recuperada e trazida de novo para as ruas".
Segundo Alfredo Cameirão, com a revitalização da festa do "Velho e da Gualdrapa", a teoria de que estes rituais só se realizavam no designado "período dos 12 dias", ou seja, o tempo que vai do Natal aos Reis, cai por terra.
"Durante algum tempo, essa afirmação fazia-nos ‘cócegas' e ficou provado que estes rituais começavam bem mais cedo, neste caso a 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, e que era celebrado na aldeia. Agora, a festa tem de ser feita o mais próximo deste desta data" devido ao despovoamento da localidade" enfatizou.
E foi o despovoamento que acabou com a festa, com principal incidência, no período forte emigração verificada na década de 60 do século passado para diversos países europeus.
Solstício de Inverno
Os Rituais do Solstício de Inverno, também conhecidos por Festa do Rapazes, são manifestações pagãs que se vivem um pouco por todo o Nordeste Transmontano e que simbolizam a emancipação dos jovens que neles participam. São rituais de “fecundidade” e de passagem.
Albertina de São Pedro, que reside precisamente na aldeia de São Pedro da Silva, contou à Lusa, que no passado a festa do Velho e da Gualdrapa era um dia único e vivido com muita intensidade nos dias frios de inverno em Terras de Miranda, no distrito de Bragança.
"Esta festa era esperada, ano após ano, pela garotada da aldeia. Apesar da folia, as figuras também nos amedrontavam, já que trata de mascarados vestidos de forma espampanante. Mas era muito divertido", frisou.
A aldeã recorda, ainda, a figuras mascaradas eram mais dinâmicas e as condições da aldeia eram outras, o que levava a pessoas a sujarem-se mais e criar mais algazarra. "As figuras faziam um peditório pelas ruas da aldeia e quem podia dava peças de fumeiro que depois eram leiloadas na missa. Eram dias diferentes nesta terra" enfatizou, Albertina.
Para quem veste a máscara, garante que se trata de uma transformação única e que transporta o mascarado para outras dimensão, onde só pensa em fazer tropelias e interagir com a população, principalmente raparigas e mulheres jovens.
"Tenho 43 anos. Porém, quando encarno uma destas personagens, sinto-me rejuvenescido, alegre e disposto para a festa", conta José Esteves, que este ano fez o papel de Gualdrapa.
Estas festas solsticiais, e dada a proximidade com a fronteira, atraem cada vez mais curiosos vindo de Espanha, para celebrarem em conjunto estes rituais pagãos e autênticos.
"São rituais engraçados e costumes que estavam perdendo e que agora ser estão recuperando e que nos atraem pela sua autenticidade", refere Daniel Ferreira, aficionado vindo da província espanhola de Castela.
O investigador Hélder Ferreira, um grande conhecedor destas tradições e impulsionador do Festival Internacional da Máscara Ibérica, que anualmente decorre em Lisboa, afirma que tema dos rituais com máscara "tem tido nos últimos anos uma crescente visibilidade e atenção por parte das comunidades e mesmo dos 'media'".
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