Próximo do céu e das divindades, os nossos antepassados construíram templos no alto de algumas montanhas. Encurtaram o caminho para o universo religioso e espiritual e muitos desses espaços são hoje excelentes miradouros do universo terrestre, a natureza e as marcas do homem na paisagem.
Um dos casos, que surpreende pela vista de 360 graus, é o santuário de Nossa Senhora do Viso, perto de Custoias, no concelho de Vila Nova de Foz Côa.
Estamos a 813 metros de altitude. Parece o centro do mundo porque estamos rodeados por inúmeras cadeias de montanhas, embora o mapa desenhado num dos extremos virado para o rio Douro, só ilustre uma parte da paisagem. “Diz as altitudes e as povoações, até um certo limite. Mas para este lado já não tem informação”.
A informação que disponibiliza é “sobre a vista para Vila Nova de Foz Côa, Penedono, S. João da Pesqueira, Carrazeda de Ansiães... vê-se tudo. E há muitas povoações”. A narração é de Raul Moutinho que pertence à Comissão de Festas de Custoias. Na altura, estavam a fazer obras de melhoramento no santuário com as receitas da festa anual no segundo domingo de agosto.
A festa é organizada por Custoias e Raul Moutinho é o “cabeça da comissão de festas.” Antigamente fazia-se aqui a festa e era todo o dias de domingo. As pessoas traziam as merendas e sentavam-se à sombra das árvores. Por isso é que metemos mesas por todo o lado. Muita gente vem aqui piquenicar. Quase todos os fins de semana há aqui gente, desde que começa a fazer bom tempo.”
O santuário tem várias estruturas de apoio e no ponto mais alto há vários séculos está a capela. É onde temos a melhor vista. Uma manta de retalhos, na altura da minha visita, de vários tons de verde, das oliveiras, amendoeiras e vinha.
“A vinha agora está verde, vê-se bem. Em Março é a flor da amendoeira. Fica tudo branco. Por isso, fazem a festa da amendoeira em Foz Côa. O miradouro é um ponto onde muita gente vem tirar fotografias. Tiram fotografias de todo o lado”, salienta Raul Moutinho, orgulhoso da beleza do miradouro.
O olhar fica cativo de vários pontos de interesse que sobressaem na ampla paisagem. O castelo de Penedono, serras longínquas como a do Marão, Falperra, ou ainda mais longe, dos concelhos de Torre de Moncorvo e Alfândega da Fé.
A vista vagueia entre os distritos da Guarda, Viseu e Bragança e alcança ainda terras de Espanha.
Algumas povoações dão um tom mais vivo à paisagem e a mais próxima é Custoias que está protegida na encosta da montanha.
Vemos ainda um retalho do rio Douro, na direção de outro miradouro, o de S. Salvador do Mundo que, como diz Raul Moutinho, “nada tem a ver à vista deste deste.”
Não muito longe destaca-se também o castelo de Numão ao qual estava associada a capela da Senhora do Viso.
O castelo parece a crina da serra da Lapa com a muralha a subir até ao alto de uma encosta. Causa um efeito estranho porque a história foi apagando traços que remontam ao século décimo, antes da nossa nacionalidade, quando foi construída uma fortificação.
A capela no alto do monte do Viso também acompanhou essa decadência e foi reconstruída no final do século XIX. Na altura em que visitei o santuário estava toda pintada de branco com a cantaria de granito à mostra em algumas partes do edifício, nomeadamente o portal de arco de volta perfeita. Em frente está um marco geodésico.
O acesso pode ser feito de automóvel num percurso sublime através de um desvio da N222. Seguimos a M541 e temos um roteiro que passa por Numão, podemos ira ainda ao miradouro de S. Martinho em Seixas e ao Vesúvio.
A partir do Viso, seguimos em direção a Olas, passamos pelo miradouro de Vargelas e paramos em Vale de Figueira. Aqui temos outro mini roteiro: o miradouro de Santa Bárbara, São Xisto, Ferradosa e o miradouro de S. Salvador do Mundo. Um roteiro sempre a namorar o Douro.
A vista soberba do miradouro de Senhora do Viso faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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