Ao entrarmos na olaria, em Galegos, concelho de Barcelos, deparamo-nos com uma enorme variedade de peças.
Destacam-se o galo e os coretos, mas há outras criações, especialmente de cariz religioso, festivo ou que retratam o quotidiano minhoto. São elementos característicos do figurado de Barcelos.
No caso dos Irmãos Baraça, “fazemos peças muito coloridas, com muitas cores e também relacionadas com as tradições do Minho. Usamos muito o amarelo, laranja e vermelho. São as cores que mais se destacam no nosso figurado” refere Vitor Baraça.
Na marca identitária da olaria, afirma que são “conhecidos por fazerem o galo de Barcelos, tal como se produzia inicialmente, à mão. Somos também conhecidos pelos coretos e outras peças típicas da região.”
Os coretos são igualmente peças muito bonitas, com cores vivas e a representação dos músicos torna-os graciosos.
Produzem ainda presépios, procissões, peças de lavoura, profissões... tudo feito manualmente. Uma peça aparentemente simples como o galo de Barcelos exige um trabalho apurado. “E tudo feito por partes e na roda.
A cabeça, o bico, o pescoço... Há a fase de secagem e de seguida vai para a montagem. Depois são as aplicações, os desenhos... que costumamos por.”
Moisés Baraça salienta que o trabalho exigente e demorado começa no próprio barro. “No tempo da nossa avó havia aqui uma barreira onde iam buscar o barro. Agora não. É da zona Centro, de Águeda. Nós ainda somos dos poucos que preparamos o barro à nossa maneira.”
O figurado de Barcelos está certificado desde 2008 e é uma atividade que reúne cerca de meia centena de artesãos. Muitos estão no lugar de Galegos, como é o caso dos irmãos Baraça que já vão na quarta geração.
“O conhecimento vem de longe e a aprendizagem foi feita essencialmente com a nossa avó. Foi ela que deu início ao figurado dos Baraça e foi ela a nossa escola. Nunca fizemos cursos de cerâmica. O conhecimento foi através da experiência e dos anos de vida.”
A avó, Ana Baraça, foi uma das artesãs que marcou um estilo na produção do figurado, muito representativo do quotidiano rural.
Foi também uma das mulheres que ajudou a projetar este tipo de artesanato e o seu mérito foi reconhecido em 1985 com o então Presidente da República, Ramalho Eanes, a atribuir-lhe uma condecoração. A fotografia desse momento está afixada numa das paredes da olaria.
Hoje os netos seguem a matriz da avó, mas procuram inovar. “A minha avó fazia um tipo de louça sobre o que a rodeava. A lavoura e temas associados à igreja. Nós mantemos a matriz dela, mas fazemos outras coisas. Houve uma evolução.”
O desenho, as expressões, as cores... "são criações nossas. Apontamos para um determinado desenho e vamos rodando ao fim de algum tempo. Na verdade, como são peças feitas manualmente nunca saem iguais."
Na loja online ou na olaria podemos ver uma grande diversidade de peças e rapidamente se percebe quais as preferidas: "o galo, o coreto e os presépios. Há muitos colecionadores de presépios em Portugal."
O reconhecimento da arte, a certificação e a originalidade, projetaram o figurado de Barcelos além-fronteiras. “Com a pandemia parou tudo e criámos uma loja online. Temos tido pedidos de peças de todo o mundo.” No concelho há a Rota do Figurado de Barcelos onde podemos contactar e ver os vários artesãos e produzirem os bonecos de barro.
A arte dos Irmãos Baraça na produção do galo e outro figurado de Barcelos faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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