"A regra dos sete". Conhece esta regra para poder organizar a bagagem para a próxima viagem? A Sara Venera (@saravenera) e a Tatiana Reis (@tatianamreis) levaram bem mais do que sete peças de indumentária e outras coisas imprescindíveis. Mas esta viagem das portuguesas aventureiras foi muito bem planeada ao longo de 2021 e merece agora ser escrupulosamente contada, pois arrancaram, de Lisboa, em outubro e nós conseguimos estar a acompanhar o seu circuito, apesar do fuso horário bem distinto. Escolheram primeiramente a Ásia e depois decidiram-se pela América Latina, atendendo ao decurso das medidas de contenção ao longo deste ano. Mas estas medidas começaram a ‘apertar’ também nos países que douram abaixo da linha do Equador. Estas recentes alterações fizeram com que as nossas conquistadoras repensassem o tempo de viagem: seis meses viraram quase três.
Hoje vamos falar sobre a parte inicial da travessia da Sara, natural do Entroncamento, e da Tatiana, natural de Tomar. Enquanto estão a galgar fronteiras por terras do sol (do México ao Peru), perguntei-lhes sobre o que levam na mochila e elas não só descrevem como aconselham: levar roupas frias e quentes, chinelos, ténis, powerbank, cadeado e corta-unhas. Elas riam enquanto me enviavam esta última dica, mas eu concordo extremamente. Acrescento: “lima” para as unhas. Isto serve para homens e mulheres, atenção!
O resto que levam com elas chama-se coragem e não cabe numa mochila grande de viajante. Algo que não levaram e notam falta: “um vestidinho mais giro (…) uma mala” para momentos de saídas à noite. Assim, tiveram de estar sempre acompanhadas das grandes mochilas que levaram no sentido de aventura: bagpacking.
Perigo: no México, no mercado de Tepito, experienciaram algo complexo ao ponto de lhes ser dito pelos locais, ali mesmo: “Vocês não podem estar aqui, isto é super perigoso”. De sorriso desabrido passaram a uma expressão de medo sobretudo quando souberam que naquele mercado vendem órgãos humanos: “vendem olhos humanos”.
As viajantes têm muito para contar sobre o México, acreditem. A sinestesia de emoções foi algo de destacar. “Não se pode contar com a polícia”, segundo elas, em certas zonas como nesse mercado. Não estamos a falar de outras áreas balneares mexicanas onde este tipo de situações não se observa. Mas se desejarem explorar o Mundo, têm de conhecer os meandros dos países e não só o que é mais turístico. Porém coloquem sempre o olho por cima do ombro para não irem parar ‘aos olhos’ traficados no mercado. O México é um paraíso, mas como todos os paraísos… tem a sua maçã com a serpente. Somaram duas pequenas perseguições no México e sentiram que foram salvas pelo destino (anjo da guarda, chamam-lhe).
Outro alerta nestas viagens ‘latinas’: cuidado com os transportes via terra, pois as bagagens facilmente se ‘perdem’ e há companhias de autocarros que são pouco fiáveis e elas não recomendam. Esqueçam a poupança e primem pela segurança: “deixaram-nos largadas num lugar [em Puebla] assustador (…) vimos um café e fomos a correr para lá. Chamámos um Uber. Andámos com o coração [e com as malas] nas mãos durante quatro horas”.
Outra experiência a terem em conta e que não “é incrível”: Podem fazer o trajeto até Xochimilco (com muita herança asteca) de metro e percorrerem mercados, mas sem problemas como no anterior. Notaram que eram as únicas turistas ali. O pior: seguiram um guia para poderem andar nas traineiras como tinham planeado, mas foram conduzidas a um local que definem como “os quinze minutos mais assustadores da nossa vida”. Eram vários homens que aguardavam ali, como falsos guias, para fazer turistas incautos alugar traineiras no sítio errado. “Conhecemos o verdadeiro México”. Elas referem que o deslumbramento de expectativa não se confirmou, mas Costa Rica compensou totalmente tanto susto e soluço. E os países seguintes. Confirmam-me entre áudios, antecipando logo uma parte das viagens delas e das preferências.
Conhecer o verdadeiro México permitiu uma grande aprendizagem e também uma paixão ‘pacífica’: do lado Pacífico devem apostar em San Jose del Pacifico, não longe de Oaxaca. Aqui vão viver de corpo e mente em experiências mindfulness. Depois, recomendam Puerto Escondido a quem prefira a onda do surf e o estilo descontraído. Conheceram pessoas que estavam simplesmente ali, por escolha momentânea, em teletrabalho ou pelas férias. Neste lado do país garantem plena segurança e praias maravilhosas. Já na área turística de Tulum, também fazem uma boa nota, embora “seja muito mais turístico” e os preços de alimentação e de acomodação são muito diferentes - tenham isto em atenção e decidam de que lado ficam: do lado do Caribe ou do lado do Pacífico. A recomendação é ir a todo ‘o lado’. Mas, podem dormir por 10 euros (diária) no lado Pacífico. Menos pacíficos são os preços da zona de Tulum. Resumem o must-go do México, assim: Puerto Escondido, Oaxaca, Cidade do México, Holbox, Tulum. Risquem Puebla da lista. As experiências acima chegam para nos convencer a não ir.
Em Costa Rica, aconselham fortemente o aluguer de carro e não é necessária a visita à capital do país. Concordo plenamente com as nossas viajantes a caminho do Natal europeu a esta data. Costa Rica tem preços mais elevados, não especificamente na acomodação. O que mais as atraiu: a natureza e a biodiversidade. Destacam o Parque Nacional Manuel António pelas praias e pelos animais que viram bem pertinho delas. Um convívio puro com a Natureza: “Pura Vida”.
Desceram até ao Panamá, jantaram e seguiram para a Colômbia. Aportaram primeiro em Cartagena. E sabem algo que muito me importou na entrevista enquanto ouvia pérolas da Colômbia? Elas terem referido como as pessoas mais ‘conhecidas’ do nosso meio social desencorajam uma viagem de mulheres ‘a solo’, quase. Quando outras pessoas – as que têm a coragem e a sabedoria – encorajam a viagem e elas próprias fazem-no sozinhas. Sara e Tatiana atestam que estar a viajar assim é sumptuoso. Não são apenas amigas, são cúmplices de vida e de viagem agora. Estou com elas! Colômbia maravilhou-as, mais do que achariam. Não foram a Bogotá por falta de segurança indicada (elas estudaram tudinho!), sendo que exploraram várias cidades. Até visitaram a Comuna 13 em Medellín! Recomenda-se Colômbia aos corajosos e aos invejosos. Estas palavras são minhas, atenção. Não são da Sara e nem da Tatiana. Serve para todos os viajantes, força.
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