O Taita Hills Wildflife Sanctuary (Santuário de Vida Selvagem das Colinas de Taita) fica no Parque Nacional do Tsavo que é a maior área protegida do país. O Parque Tsavo divide-se em dois grandes parques, Tsavo East e Tsavo West, e conta com mais de 21 mil quilómetros quadrados. Esta área era um parque único, contudo na década de quarenta foi separada pela estrada que liga Nairobi, capital do país, a Mombaça, grande cidade costeira para onde escapou Vasco da Gama em 1498.

O Tsavo não tem sido o destino mais procurado pelos turistas, uma vez que para fazer safaris no Quénia, reservas como Masai Mara ou Amboseli são as mais procuradas, ou ainda o vizinho fronteiriço, a Tanzânia; contudo vale a pena a sua visita.

Foi a partir de Mombaça que partimos para o Taita Hills Wildlife Sanctuary na ansiedade de avistarmos as incríveis espécies selvagens que por aqui vivem. O Santuário tem mais de 50 espécies de mamíferos, entre eles elefantes, zebras, girafas, leões, leopardos ou chitas, e quase 400 espécies de aves.

Saindo de Mombaça, de carro, a viagem é de quase quatro horas, em que a maior parte do caminho é pela estrada A109, considerada uma das mais perigosas do país devido aos inúmeros acidentes mortais que aqui acontecem.

Para um europeu é difícil imaginar que esta seja uma das principais estradas do país, com grande importância no transporte comercial, tendo em conta os buracos em grande parte do troço, a areia a fazer levantar poeira e as apenas duas faixas onde matatus (pequenas carrinhas que operam informalmente como meio de transporte público), pick ups apinhadas de pessoas em bancos improvisados, camiões, jipes com turistas e motas-táxi - onde cabem três - se ultrapassam a uma velocidade que faz bater o coração mais rápido do que o que marca no painel.

estrada A109
créditos: A.Palma

Nas bermas, muitas pessoas caminham, crianças correm e outras, mais sossegadas, vão enroladas em panos às costas das mães. As estruturas de chapa e madeira de aspeto inacabado, onde se vendem águas, refrigerantes, produtos eletrónicos, frutas, legumes e cartões de telemóvel, compõem a paisagem durante vários quilómetros.

Depois de cerca de 160 quilómetros virámos na zona da cidade de Voi para a A23, uma estrada com melhores condições e menos movimentada, que nos levou então até Taita Hills.

Também é possível fazer esta viagem de comboio, a linha acompanha a estrada, no Madakara Express. A estação a sair será na cidade de Voi sendo necessário depois um transfer.

placa a chegada do taita sanctuary
créditos: A.Palma

Taita Hills Wildlife Sanctuary: um santuário da vida selvagem

O Santuário de Taita Hills é uma zona protegida relativamente pequena, com cerca de 110 quilómetros quadrados, criado em 1970 com o objetivo de atrair turistas para a vida selvagem, permitindo em simultâneo a conservação das espécies. Pela sua dimensão espera-se avistar espécies com maior facilidade, como elefantes, leões, zebras e uma grande diversidade de antílopes.

Os safaris surgem originalmente no século XIX com o objetivo recreativo e turístico de fazer uma expedição pela selva africana.

Aqui, como em tantos países africanos, a caça furtiva, principalmente de elefantes, dizimou uma comunidade muito grande e hoje, com sanções pesadas, a prática tem sido controlada.

O Quénia é também um país extremamente seco, apenas chove cerca de quatro meses num ano, e muito pouco, o que tem causado a morte de muitas espécies. Só em 2022 morreram 109 elefantes no Parque Nacional de Tsavo.

Euphorbia em Taita Hills
créditos: A.Palma

As horas mais aconselhadas são ao final do dia e ao amanhecer, é mesmo necessário madrugar porque os animais começam o seu dia muito cedo. Também há opções de game drive noturno, onde a atração maior é ver algumas espécies a caçar ou avistar um dos big five, o leopardo. Mas para esta opção, há mais limitações.

A oferta é diversificada e existem várias operadoras turísticas que organizam os mais diversos programas, entre os quais:

  • Game Drives  - Safaris, diurnos e noturnos, dentro de um jipe 4X4 com tejadilho removível;
  • Walking Safaris - passeios a pé pela fauna e flora acompanhados de um ranger credenciado;
  • Bird Watching - observação das centenas de espécies de aves existentes na região.

Curioso e inesperado é também a possibilidade de ter uma experiência mais cultural no modesto Museu Militar de Taita Hills, situado no Taita Hills Safari Resort & Spa, que nos conta a história de algumas guerrilhas da Campanha da África Oriental, entre as forças alemãs e britânicas, durante a Primeira Guerra Mundial.

DIA 1

Chegámos ao Santuário de Taita Hills ao final da tarde, o sol estava já baixo, e as nuvens ameaçavam a chuva – algo raro neste país, mas a cor era incrível: uma espécie de manto alaranjado misturava-se com o verde das planícies.

elefante no Taita Hills Sanctuary
créditos: Tui Care Foundation

Comportamentos a adotar durante um game drive

  • Manter-se em silêncio e não chamar a atenção dos animais;
  • Só é permitido andar pelos caminhos e estradas designadas;
  • Manter-se sempre dentro dos veículos;
  • Não é permitido alimentar animais, uma vez que isso pode perturbar a dieta própria da espécie;
  • Não é permitido trazer qualquer elemento da natureza: pedra, planta, semente ou ninho uma vez que pode afetar o ecossistema daquele espaço;
  • Não atirar lixo para a savana.

Apesar de parecer uma atividade radical, pela ideia de incursão na vida selvagem, um safari é um passeio silencioso, apenas interrompido pelo motor do jipe ou pelas interjeições felizes de quem avista um animal. A paz da natureza, o chilrear dos pássaros e a leve brisa a afastar as silvas selvagens levam-nos para um estado incrível de contemplação.

O driver, experiente nestas andanças, vai comunicando com colegas pelo walkie talkie e vão trocando impressões sobre lugares já conhecidos - os spots - onde acham possível avistar animais, ou onde outros viram. Apesar da pressa e ansiedade dos turistas, o carro não acelera muito.

A primeira espécie que vimos, não fossem eles os maiores mamíferos, foi uma família de elefantes, que depois de nos cruzar o caminho seguiu para perto de umas árvores onde fizeram o seu repasto.

À primeira vista podia achar-se que o elefante africano tem uma cor alaranjada, mas não; estavam apenas cobertos da terra de argila que utilizam para se proteger de picadas e do sol, como nos explica o nosso guia. E, ao contrário das câmaras fotográficas, dentro dos 4x4, que se apressam para apanhar a melhor fotografia, os elefantes caminham devagar, tão lentamente que temos a sensação de assistir a uma cena em slow motion.

DIA 2

Às seis da manhã a entrada do Salt Lick Safari Lodge (onde ficámos hospedados) enchia-se de jipes e motoristas à espera dos seus tripulantes. O dia está triste, com nevoeiro serrado, o que desaponta um bocadinho as esperanças de ver alguma coisa, mas lá seguimos em filinha indiana por estrada africana a fora.

Salt Lick Safari Lodge
O Salt Lick Safari Lodge é um lugar único e tem a particularidade de ser um dos lodges mais fotografados do mundo créditos: A.Palma

O dia ainda se espreguiçava tímido, quando assistimos ao despertar dos leões bebés com a mãe leoa e são vários os jipes que se amontoam para ver este espetáculo da natureza, com a certeza que valeu a pena acordar ainda de noite. Nunca chegámos a ver o rei da selva, porque ora estaria a dormir, ora a caçar.

À medida que avançamos caminho, sempre com o som de fundo das comunicações do walkie takie, vamo-nos cruzando com manadas de zebras, gnus, búbalos, impalas e muitos outros antílopes. Também as famílias de macacos e babuínos abundam em zonas mais rochosas, ou a trepar árvores.

Para grande felicidade do grupo, quase infantil influenciada pelo fascínio pelo “Rei Leão”, avistámos um grupo de javalis selvagens, a espécie da personagem “Pumba”, que pouco se deixaram ver uma vez que correm muito rápido com o aproximar do jipe e nem hipótese dão às câmaras fotográficas.

Quem faz um safari tem de ter em mente que esta experiência não é uma exposição permanente de museu e, por isso, nada nos garante conseguir avistar as espécies que ansiamos.

Durante os dias que tivemos no safari não vimos girafas, explicaram-nos que estava relacionado com a migração desta espécie para uma zona mais seca por causa da folhagem que comem; nem os tão desejados leopardo e rinoceronte. Estas são duas das espécies mais procuradas, uma vez que fazem parte dos “Big Five” e que todos procuram fazer um visto na sua cheklist.

Taita Hills Wildflife Sanctuary
Manhã no safari créditos: A.Palma

Conservação das espécies e recuperação da biodiversidade

Durante a nossa visita ao Quénia, e toda a visita ao Santuário, foi-nos sempre passada a mensagem da importância da conservação das espécies e do seu habitat.

O Quénia é um dos países africanos mais afetados pelas alterações climáticas, e há zonas do país, muito fustigadas pela seca onde não só animais, como também habitantes de aldeias morrem à fome e à sede.

Devido a estes longos períodos de seca, as muitas manadas de elefantes que aqui habitam foram erodindo algumas áreas do santuário e da sua vegetação, modificando de forma agressiva este ecossistema.

Assim, foi construída uma área, fechada com vedação elétrica e alimentada pela energia solar, de forma a afastar os herbívoros, e permitir a regeneração de plantas. A regeneração consiste na plantação de árvores, de espécies indígenas, pelos visitantes e também da inclusão da comunidade nesta prática para a consciência e sensibilização sobre a importância da sobrevivência da vida selvagem.

A associação Tui Care Foundation está a trabalhar juntamente com a associação local Taita Taveta Wildlife Conservancies Association para a implementação e monitorização do sucesso deste projeto que ambiciona a plantação de quarenta mil árvores nativas recuperando mais de 240 metros quadrados de floresta.

Assim, todos os que visitem o Santuário e que fiquem hospedados num dos hotéis são convidados a deixar a sua marca plantando uma árvore. As espécies nativas plantadas são sobretudo acácias, ameixeiras africanas, sicómoros, árvores de mirra entre outros arbustos com crescimento rápido e abundante.

Também o SAPO Viagens deixou uma árvore plantada num pequeno quadradinho de muitos hectares que se espera ver crescer.

O SAPO Viagens visitou o Quénia a convite da Tui Care Foundation