O dia começa chuvoso em Ahungalla, uma pequena cidade no sul do Sri Lanka, braços abertos para o quente Índico. Com vista para o mar, turistas aproveitam os amplos e luminosos espaços do resort cinco estrelas Heritance Ahungalla, enquanto um grupo de jovens cingaleses se prepara para colocar à prova alguns dos conhecimentos na área da hotelaria que aprenderem nos últimos meses.

Fazem parte de um projeto que tem como objetivo dar formação nesta área a jovens que vêm de contextos desfavorecidos. Mais do que abrir portas a nível profissional, a TUI Academy Sri Lanka abre também portas aos sonhos.

No país, o turismo representa 12% do PIB e 11% dos postos de trabalho. O setor ainda recupera dos efeitos a pandemia. Em 2018, a “ilha resplandecente” recebeu mais de dois milhões de turistas estrangeiros, número que caiu para 720 mil em 2022. Este ano está a dar sinais de recuperação, tendo sido registadas, até agosto, mais de 900 mil entradas de visitantes internacionais.

Números que indicam que a indústria do turismo tem potencial e vai continuar a crescer, aumentando também a demanda de profissionais com formação específica nas diferentes áreas, da cozinha à limpeza, passando pelo atendimento aos hóspedes. Muitos destes profissionais, quando conseguem alguma experiência, acabam por emigrar para outros destinos, como Maldivas, Indonésia ou Emirados Árabes Unidos.

Foi por conta deste potencial turístico e pela falta de formações específicas na área que a TUI Care Foundation escolheu atuar no Sri Lanka. O país passou a fazer parte do grupo de outras nações onde decorre este projeto. Da Grécia à Tanzânia, o objetivo é oferecer formação profissional a jovens de contextos socialmente desfavorecidos.

A TUI Academy arrancou em 2019 no Sri Lanka, mas sofreu alguns percalços por conta da pandemia. Assim, o projeto foi alargado por mais um ano, até janeiro de 2024 e, no horizonte, há o desejo da realização de uma segunda edição.

Neste programa, os jovens recebem formação vocacionada para o setor do turismo (dois meses de teoria e três meses de prática com um estágio num resort), além de desenvolverem outras capacidades, as chamadas soft skills, que ficam para a vida: como apresentar um bom currículo ou falar inglês.

"Tentamos ajudá-los a confiar em si mesmos e serem capazes de ter um sonho", diz ao SAPO Viagens Shiksha Khemani, diretora de parcerias da Sustainable Hospitality Alliance, organização que trabalha em conjunto com a TUI Academy Sri Lanka.

Sri Lanka: quando uma formação no turismo ensina também a sonhar
Sri Lanka: quando uma formação no turismo ensina também a sonhar Uma das alunas da TUI Academy Sri Lanka créditos: Alice Barcellos

Sentamo-nos à volta da mesa com alguns destes jovens de várias partes do país na faixa etária entre os 17 e os 24 anos para perceber como tem corrido a experiência. Uma das primeiras coisas que reparamos é num brilho especial nos olhos quando questionados sobre quais são os planos para o futuro.

Muitos desejam continuar a especializar-se na área em que tiraram a formação, outros pretendem sair do país para conseguirem melhores oportunidades. Alguns querem ficar perto da família.

Dulshan ambiciona ser chefe e, apesar de já ter concluído o programa da TUI Academy, continua a estudar sobre turismo, o que é, para ele, "motivo de orgulho".

Já Shanika que não tinha nenhuma experiência na área da hotelaria almeja "abrir um restaurante". A jovem é uma das muitas alunas que integram a TUI Academy, ajudando a quebrar o estigma de que as mulheres não devem trabalhar nesta área. "Não é ainda bem visto para uma rapariga trabalhar num hotel. Mas está a mudar. E há mais mulheres a trabalhar no turismo."

Empoderar mulheres é um dos objetivos deste projeto, mas Shiksha reconhece que nem sempre é fácil conseguir alunas. "É preciso ir falar com os pais, garantir que as estudantes vão estar em segurança. Alguns concordam, outros não", conta com base na sua experiência de recrutamento dos jovens para este programa.

A responsável sente, no entanto, que a situação está a mudar, mas ainda há muito trabalho a ser feito. "Quando uma ou duas estudantes daquela comunidade começam a trabalhar, muitas vezes são as primeiras, e as outras vêm e querem seguir o exemplo", conclui.

O SAPO Viagens foi ao Sri Lanka a convite da TUI Care Foundation