São três horas de viagem até à Rainbow Mountain, e queremos ser dos primeiros a chegar. São por isso 4.20h quando abandono o hotel, levando vestido tudo o que podia. O frio era de rachar, e parece que nenhuma camada extra é suficiente. Somos uns dez, todos peruanos, excepto nós e dois americanos, e após uma pausa para um pequeno-almoço bem energético, preparamo-nos finalmente para subir a montanha.

O guia dá-nos as últimas indicações antes de tirar uma pequena garrafa de líquido amarelo de dentro do casaco. Em círculo, distribui umas gotas nas mãos de cada um de nós e, em conjunto, esfregamos, batemos palmas (para "activar o produto") e inspiramos fundo. Este é, sobretudo, um ritual, como que um movimento que une o grupo em torno de um propósito. A "Água de Florida" é um produto comercial com origem nos EUA no séc. XIX e com a finalidade de ser uma alternativa à célebre água de colónia francesa. Vendido a menos de 1 euro, na América do Sul (e nomeadamente no Peru ou Bolívia) é utilizada em rituais de purificação espiritual, energética ou de oferendas à Pachamama (a mãe Terra), alegando-se propriedades medicinais, curativas e sobrenaturais que não merecem referência no rótulo - onde explicitamente só temos perfume, álcool e essências florais.

Olho para o horizonte, alguns cumes ao longe, mas não vejo qualquer inclinação. Avisaram-me que seria difícil, mas a descrição não bate certo.

Com base na experiência da véspera tinha pensado pedir um cavalo, mas rapidamente coloco essa ideia de lado, esperando não me arrepender. Cajado em riste, é momento de avançar. O caminho faz-se bem a maior parte do percurso, cerca de 45 minutos em linha recta, acompanhado de belas vistas, cumes nevados, vales em castanho escuro e verde seco e vários rebanhos de ovelhas, alpacas e até lamas que se rebolam descontraidamente nas ervas. A vista é soberba.

Chegados à base da montanha, algumas pessoas descem dos seus cavalos. Começa a parte verdadeiramente difícil, embora talvez tenha, até aqui, sido bastante suportável não apenas pelo terreno plano mas também pelo facto de estar a fazer profilaxia para o mal de altitude desde que saí de Portugal e aterrei em Cusco (3400m). A aclimatação, as subidas progressivas e cumprir com a medicação recomendada ajudaram certamente a atenuar ou evitar os sintomas típicos de cefaleia, fadiga, mal-estar, náuseas ou vómitos.

São possivelmente 200 os metros finais até ao topo. Será sempre a subir até aos 5036m. Olhando para trás noto como o percurso já foi longo - uma serpente ziguezagueante, pintalgada de pessoas em movimento que estão nos vários trechos do caminho. Ao pé de mim, uma criança chora junto da mãe alegando não quer continuar. É realmente uma visão intimidatória não apenas para miúdos mas também para graúdos, denotando-se que todos avançam devagar, em passos lentos e esforçados.

A subida final é penosa, mas, na minha opinião, não mais difícil que a da véspera. É mais íngreme mas mais curta, e termina com uma sensação de alívio e recompensa. Do alto da montanha, o triângulo mágico da Rainbow Mountain, onde se observam cores de 21 tonalidades diferentes graças à co-existência de vários minerais de distintas qualidades. É tão inacreditável quanto indescritível pois, para mim, é sempre difícil colocar por palavras estes momentos em que os olhos e os dedos que escrevem estão em desacordo. Igualmente, não há fotografia que lhe faça justiça.

De volta ao autocarro, o silêncio é sepulcral. Por entre absorver tudo o que se viu, o que se viveu, rever fotografias ou dormitar, ninguém conversa. Deste lado, segue-se uma longa viagem em autocarro nocturno até à próxima paragem, Puno. Amanhã é dia de explorar o Lago Titicaca.

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