Vazio, o portão de entrada de Machu Picchu, no Peru, é o retrato de um país, onde violentos protestos afugentam turistas desde dezembro de 2022, o que afeta comunidades inteiras que dependem do turismo neste popular destino.
"Olha, não tem nada, está vazio", diz Juan Pablo Huanacchini Mamani, o "Inca", que atende turistas vestido com um traje tradicional de tecidos coloridos, sandálias e enfeites dourados que brilham ao sol.
A economia do país andino se baseia, sobretudo, no turismo, uma importante fonte de emprego que atraía cerca de 4,5 milhões de visitantes antes da pandemia. Em questão de semanas, porém, a situação mudou em Ollantaytambo, localidade a cerca de 60 quilómetros de Cusco, onde cerca de quatro mil visitantes chegavam, diariamente, durante a alta temporada, para visitar Machu Picchu.
Desde o início de dezembro, os protestos que têm sacudido o país já deixaram 48 mortos.
As manifestações pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte, que assumiu o cargo após a destituição e a prisão do presidente Pedro Castillo, em 7 de dezembro, por ter tentado dissolver o Parlamento.
Devido aos protestos, a cidade que costumava receber milhares de visitantes, hoje vê apenas cerca de 100 pessoas chegarem nos fins de semana. Estes são os dois únicos dias permitidos pelos manifestantes, uma concessão para que os habitantes possam sobreviver.
"Vivemos do turismo (...) Agora estamos com falta de gente. Quando há turismo, todo o nosso povo trabalha nos hotéis, restaurantes, a agricultura se movimenta", diz Juan Pablo.
Hoje, acrescenta ele, estão a viver uma "crise profunda".
"Queda livre"
Segundo dados do Ministério do Turismo peruano, a crise está a custar aos país US$ 6,5 milhões por dia, com uma queda de 83% na ocupação hoteleira.
O diretor regional de turismo, Abel Alberto Matto Leiva, explica que, em Cusco, "75% da população trabalha direta, ou indiretamente, com turismo" em "uma cadeia" que inclui "2.500 agências de viagens", alimentação, alojamento e transporte.
De momento, 20 mil pessoas estão desempregadas, número este que, segundo ele, "continua a aumentar", com projeções de chegar a cerca de 120 mil até março.
Por causa da crise, cerca de 14 mil artesãos locais devem ter as suas oportunidades drasticamente reduzidas, afirmam as autoridades, o que também representa milhares de comerciantes com pouca, ou nenhuma renda.
Sem qualquer tipo de ajuda, os artesãos se sentem "totalmente esquecidos", diz Filomena Quispe, de 67 anos, 35 deles vendendo artesanato numa pequena loja perto da Plaza de Armas de Cusco.
A situação também faz muitos donos de estabelecimentos optarem por não abrir as portas, para cortar custos.
"Estamos em queda livre e não sabemos quando ela vai parar", lamenta o vice-presidente da Câmara Hoteleira de Cusco, Henry Yabar, que também fechou o seu estabelecimento, um hotel de três estrelas com cerca de 15 quartos.
Yabar afirma que a crise política foi um golpe "fatal" para o turismo e relata que houve "95% de cancelamentos" nas reservas hoteleiras. Segundo ele, dos 12 mil hotéis e pousadas de Cusco, "entre 25% e 30% (os menores) já faliram".
Ele disse esperar que o Estado coloque um plano de emergência em ação e faça concessões fiscais para os afetados pela situação.
"Temos esperança de uma melhoria em julho", acrescenta Yabar, que completa: "para os que sobreviverem".
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