No Qatar, quase tudo, está em permanente mudança. Porém, mantém-se a tradicional hospitalidade. Casualmente, encontrei o dono do hotel onde estava alojado. Ofereceu-me transporte. Nas ruas e no comércio as pessoas são afáveis.
Vamos descobrir a modernidade na arquitetura e no sonho mas as vivências estão muito relacionadas com a cultura tradicional.
Um bom exercício é percorrer a Corniche. Tem 7 km de extensão. A rua pedonal que acompanha a ligação de Doha ao Golfo Pérsico, ao longo da baía de Doha.
Durante o dia é pouco movimentada, à noite tem muitas pessoas. Essencialmente nos dias mais quentes. Vão passear, saborear a brisa do Golfo e muitos casais vão namorar.
A Corniche começa mais adiante. Mas, para o que interessa, o ponto de partida é o Museu de Arte Islâmica . É um dos ícones da cidade. Foi inaugurado no final de 2008 e o arquiteto é I.M. Pei., o autor da pirâmide no Louvre, em Paris. Não precisa de mais apresentações.
O design das galerias é do francês Jean-Michel Wilmotte, um nome reputado internacionalmente em design de interior.
A coleção recolhe objetos de três continentes e estão associados a mais de um milénio de história de várias civilizações. Têm uma coleção fabulosa de astrolábios.
O acesso ao museu é feito por uma alameda de palmeiras, mesmo ao lado das águas do Golfo Pérsico. O edifício de mármore tem três pisos e um átrio com uma fonte e vista para Doha. No interior há uma ala, de paredes de vidro, com os três pisos de altura. Serve de ponto de encontro, com serviços de restauração.
No terceiro piso há uma passadeira que permite ver todo o enquadramento, a zona de restauração e parte das galerias. Tudo com materiais nobres e uma decoração cuidada.
Toda a Corniche está na margem do Golfo. Do outro lado, perto do museu, há um jardim.
As muitas palmeiras servem de abrigo para o sol, muito forte. Mesmo à sombra, o calor é insuportável. Até as objetivas da câmara fotográfica ficam embaciadas.
Depois do Museu de Arte Islâmica encontramos a Pérola.
Trata-se de uma concha gigante com uma pérola no interior e água que transborda. Está num pequeno largo, é ponto de encontro e alvo de muitas objetivas fotográficas.
Homenageia uma das principais atividades nesta região até meados do séc. XX. Trabalho duro, em condições muito difíceis e mortíferas. Sofreu um forte revés com o cultivo de pérolas na Ásia.
Seguindo a Corniche, deparamos com mais sinais de choques temporais. Barcos de pesca tradicionais, dhow com pássaros perto das redes, que aguardam as presas. Estão ancorados perto da Corniche e o horizonte é preenchido com enormes torres da zona comercial. Com arquitetura e materiais do mais moderno.
A luz intensa e o reflexo na água impedem uma visão precisa das construções.
Um pouco mais à frente, uma outra imagem sublime.
Duas mulheres que, entretanto tinham saído de um carro de gama alta, vestidas de preto, seguem em direção a um miradouro que entra pelo Golfo. As mulheres conversam. Estão sozinhas. Depois sentam-se num muro. Nada mais.
O preto das roupas faz um forte contraste, de cores e culturas, com o fundo das enormes torres, entre as quais se destaca a Tornado Tower. Do lado oposto encontram-se alguns edifícios governamentais.
É também aqui o palácio do Emir, o Qatar’s Amiri Diwan. Um edifício enorme, todo branco, com arquitetura tradicional árabe. É onde reside o Emir e, obviamente, está protegido. Está rodeado por uma extensa zona de relva.
Na parte de trás encontram-se os estábulos e podem ser visitados.
Dois tratadores tomavam conta dos animais, puro sangue árabe. Fazem a limpeza, dão comida e umas festas.
Em frente há um pequeno recinto onde os cavalos se podem exibir e andar ao ar livre.
Há um outro recinto dedicado aos puros sangue árabe. É a Al Shaqab Stud, um centro equestre enorme, e onde são exibidos os cavalos do Emir Sheik Hamad Bin Ali Al Thani’s. Fica perto da “Cidade da Educação”.
Regresso aos estábulos e ao palácio do Emir. É que, mesmo ali ao lado, entre o palácio e a grande mesquita, está a Clock Tower. A numeração é árabe e, como está numa ligeira elevação, da torre é possível ter uma vista ampla da cidade.
Seguimos em frente. Em direção às torres, à zona comercial. Começa a ser difícil. O sol é intenso e as paragens à sombra das palmeiras não são suficientes para descansar.
Para passear em Doha é obrigatório levar água. Mas não chega para matar a sede. A prioridade começa a ser um espaço público, com ar condicionado. Não parece ser fácil.
As ruas não foram concebidas para se andar a pé. Tem de se percorrer grandes distâncias para se encontrarem passadeiras ou semáforos. Atravessar a estrada e não encontrar refúgio significa ter de percorrer mais uma longa distância, agora sempre ao sol.
Passa um homem a fazer jogging. Perguntamos por um centro comercial e ele responde: ali à frente. Continuamos a caminhada e o centro nem como miragem aparece. Mais uns longos minutos e continuamos à procura de abrigo.
Já mais próximos da Old Palm Trees Island, no meio da baía de Doha, passa um homem, com traje árabe, acompanhado de outros dois homens. Estes bem constituídos e vestidos de fato. Devem ser seguranças.
A mesma pergunta mas, agora, a resposta inicia um diálogo. Quem são, de onde vêm… e a conversa prolonga-se. O homem costuma fazer todos os dias uma caminhada na Corniche. Ao fim do dia. Hoje, por ter o horário preenchido, optou pela hora de almoço.
Um dos seguranças diz-me que o patrão é um empresário. Tem várias propriedades no Qatar, designadamente o Doha Seef Hotel. É o nosso alojamento. De boa qualidade e com uma piscina no último piso, a céu aberto.
O dono do nosso hotel fala um pouco de si. Estudou na Europa e nos EUA. Como gostou da nossa companhia, refere que já contatou o motorista. Vamos encontrar-nos um pouco mais à frente e ele vai dar-nos boleia até ao centro comercial. Sugere-nos o City Center Mall. É muito grande, tem uma pista de gelo, mais de duas centenas de lojas e uma boa zona de restauração. Dá para retemperar energias. Fica atrás das torres.
Algumas centenas de metros depois, num pequeno parque, tínhamos um BMW 7 à nossa espera.
O City Center é de facto grandioso. Mas o Villagio supera-o.
Fica mais longe. É na Sports City também conhecida como Aspire Zone. É onde está a Aspire Tower, que aloja o hotel The Torch. A torre tem uma arquitetura fabulosa e 318 metros de altura.
É um dos ícones do Qatar e foi construída para os Jogos Asiáticos de 2006.
O Aspire Park tem várias estruturas desportivas, centros de treino e de conferências, medicina desportiva… e um parque com mais de 2 km. Tem inúmeras árvores, zonas relvadas, um lago, bancos de madeira para se descansar…. Muito agradável. Várias pessoas percorrem este espaço aberto e algumas preferem deitar-se numa pequena colina com vista para o Villagio e para a Aspire Tower.
A exuberância do Villagio faz lembrar os mais recentes centros comerciais do Dubai. Fantasia, surpresa, grandiosidade, materiais nobres, soluções criativas e lojas de luxo.
Um canal imita Veneza por onde andam gôndolas. Cada viagem custa 10 Qr por pessoa. A extensão do canal ainda é razoável.
Noutras zonas regressamos aos palácios com arquitetura renascentista. Ruas com o teto pintado, a imitar o céu. Praças grandes, com piso de mármore. Muitos espaços para diversão. Pista de gelo, karting, carrosséis, bowling, cinemas, teatros… O centro comercial foi inaugurado em 2006 e, dois anos depois tinha, em média, um milhão de visitantes por mês.
Mais interessante é o comércio tradicional.
Em muitas ruas há lojas de venda dos mais variados produtos. Muitas de gadgets e roupa. Doha tem ruas estreitas e pequenas praças quase exclusivamente dedicadas ao comércio.
Em alguns locais encontram-se ainda edifícios, de dois a três andares, com lojas pequenas. Próximo do nosso hotel havia um destes edifícios.
Quase todas as lojas eram de roupa feminina e grupos de mulheres faziam compras. Elas são muito discretas, pouco exuberantes e evitam o contato com turistas. Máquinas fotográficas por perto, nem pensar. As fotos tiveram de ser tiradas com discrição e planos gerais.
O local mais interessante é o Souq Waqif . Ponto de encontro de locais e turistas.
É um espaço amplo. Na maior parte coberto, com arquitetura tradicional árabe, o que significa corredores relativamente estreitos e lojas de ambos os lados. O exterior tem muita animação, com espaços para restauração, café com sheesha e eventos.
O Souq Waqif está divido por áreas de negócio. Especiarias, roupas, doces, perfumes, falcoaria, relojoaria, ouro, artesanato… Muitas cores, muitos cheiros.
Vendedores simpáticos e atentos aos desejos dos clientes. Segue-se a regra de regatear. Não pense que vai poupar muito. Em alguns produtos de grande consumo o preço está marcado e o mais que pode levar é uma gentileza.
Andar no Souq durante a hora de almoço é menos confortável, devido ao calor. Algumas lojas chegam a fechar. Reabrem a partir das 16h. Ao final da tarde, princípio da noite, é mais agradável. A azáfama é até maior. Mais gente a visitar e os corredores ocupados com bancas, sacos e carrinhos de transporte de mercadoria.
A falcoaria é uma das áreas que desperta mais interesse.
Mantém-se a tradição da caça com os falcões mas, nos tempos mais recentes, a falcoaria é mais um hobby para gente endinheirada. Há mesmo festivais e torneios de caça com falcões.
O Souq Waqif tem várias lojas com os animais expostos e numerosos utensílios para tratar e treinar os falcões. Os vendedores são simpáticos. Explicam as características específicas das aves, a forma como são treinadas e o seu imenso valor. Milhares de dólares.
O treino é feito no deserto e até há um hospital especializado para os tratar.
O comércio dos falcões está sujeito a regras muito precisas. Para evitar o contrabando, os maus tratos e não estragar o negócio. Cada falcão tem uma cédula, documentos comprovativos da sua origem e das transações comerciais.
Na rua principal um grupo de homens observa quem passa. Um deles tem no braço um falcão com os olhos vendados.
O homem teve a gentileza de tirar a proteção da ave e de posar, com orgulho, para a máquina fotográfica.
Esta rua, ampla, vai dar à restauração. Há uma grande variedade gastronómica. Assemelha-se mais aos espaços no Ocidente.
Não é fácil andar a pé na cidade, percorrer grandes distâncias. Nas zonas mais antigas não é problemático. Em áreas urbanizadas nos últimos anos é muito diferente. As ruas foram feitas para os carros.
Para percorrer distâncias maiores, o mais indicado é um táxi. Não são caros e são seguros. Outra opção são os sightseeing buses. Os DohaBus. O serviço é mais recente e permite sair e entrar nas várias paragens.
À noite é imperdível um passeio pela Corniche. É um perfume de frescura.
A luz não é muito intensa. Casais de namorados seguem as sombras. Sentam-se em lugares discretos. Outros passeiam o seu enamoramento. Muitas famílias aproveitam também o início da noite para gastar as energias das crianças. Em alguns pontos da Corniche há pequenos centros de diversão. São os locais de maior ruído. No resto do percurso, o ambiente é mais calmo.
A baía é linda.
Os milhares de raios de luz das torres refletem-se na água. A penumbra fica colorida. Muita gente tira fotografias. À baía, às torres, às pessoas na Corniche, à famíla… E, claro, à Pérola. É um dos must fotográficos da noite.
No interior da cidade os passeios à noite são mais isolados. Gente que tem ainda uma tarefa para fazer. A exceção é no Souq Waqif, em particular na zona de restauração onde há sessões de música tradicional.
Na noite de Doha, no interior da cidade, sobressaem o Instituto Islâmico e a mesquita grande.
O Fanar, o Instituto Cultural Islâmico, é um vasto edifício com uma torre semelhante a um minarete. Durante a noite, fica todo iluminado e com uma cor amarela intensa. De dia, a cor é diferente, mais próxima de tons acastanhados.
A luz intensa da torre serviu como farol para barcos que seguem no Golfo Pérsico. É esta função que hoje pretende assumir, do ponto de vista simbólico. Um guia da cultura árabe, uma luz para os seguidores do Islão.
Um outro edifício que se destaca na noite na noite de Doha é a State Grand Mosque ou Sheikh Muhammad Ibn Abdul Wahhab Mosque. Fica próximo do Qatar Sports Club, não muito longe da Corniche.
É um edifício de mármore, branco. A parte da frente mais baixa. Arquitetura árabe muito marcada. Com um pátio enorme, o piso de mosaicos e vários locais com água para a preparação da oração. No extremo do edifício está o minarete.
De dia, a mesquita tem uma vista deslumbrante, essencialmente com os contrastes das zonas mais modernas da cidade. De noite, o brilho da iluminação no mármore, reflete-se no piso de mosaicos e o minarete com uma iluminação em tons de amarelo e verde, destaca-se em toda a zona antiga. O acesso à mesquita também fica todo iluminado.
Se o exterior é fabuloso, o interior é ainda mais surpreendente. Mármore, madeiras nobres e uma enorme carpete vermelha. Deslumbrante. Uma fila de colunas demarca a área central dos corredores laterais. No teto os candeeiros enormes dão uma iluminação suave ao interior da mesquita.
Comentários