"Um mar como este para uma cidade gigantesca como Istambul, não é nada mau", sorri o homem de 74 anos, enquanto aponta para as águas cristalinas do Mar de Mármara.

Istambul, uma megalópole de 16 milhões de habitantes localizada entre dois continentes e dois mares, não costuma ser vista como um balneário.

Mas como os habitantes de Nova Iorque, Beirute e outras capitais, os habitantes de Istambul podem nadar no mar e voltar para casa no metro com areia nas sandálias.

"Antigamente, podia chegar à água de qualquer lugar", lembra Cakmakci. "Agora, é claro, há construções por toda a parte".

As autoridades de Istambul acrescentaram mais 100 cadeiras espreguiçadeiras a esta praia, que agora tem cerca de 300, além de 170 guarda-sóis, detalha Sezgin Kocak, encarregado da manutenção, que passou a infância nesta areia, cada vez mais lotada.

Isto é consequência da crise económica, que atinge fortemente a Turquia, com inflação próxima de 80%.

Burkini e biquíni

"Muitas pessoas não podem mais sair de Istambul", diz Canan Civan, senhora de 60 anos que usa biquíni.

"Mas mesmo que eu tivesse dinheiro, não iria a nenhum outro lugar", diz. "Ao invés de passar 10 dias de férias, prefiro vir aqui todos os dias durante três meses".

Istambul tem 85 praias ou acessos marítimos entre o Mar Negro ao norte e o Mar de Mármara ao sul, com o corredor do Bósforo entre ambos.

Públicas ou privadas, algumas praias atraem uma clientela tradicional, que mantém o véu para tomar banho, enquanto outras usam biquínis, alguns minúsculos.

Mas à imagem do que é a sociedade turca, ambas tendem a coexistir, embora às vezes se localizem de um lado ou outro de uma demarcação invisível.

Do lado do biquíni, Eren Bizmi incentiva os amigos, que estão a jogar vólei. "Quando as pessoas falam sobre o mar, as pessoas pensam mais em Bodrum", no Mar Egeu (oeste).

"Mas os moradores de Istambul sabem: aqui estamos a 35, 40 minutos do centro", destaca a agente imobiliária de 32 anos. Este é o mar "mais bonito, menos salgado", diz.

"E posso ainda trabalhar: se um cliente ligar, saio para fazer uma visita e depois volto", explica.

Mas ninguém menciona as duas minas marítimas encontradas na área nesta primavera (hemisfério norte, outono no Brasil), refletindo uma guerra que ocorre mais ao norte entre a Rússia e a Ucrânia.

O "privilégio" do Bósforo

Depois, há os banhistas do Bósforo, que não trocariam o seu lugar por nada. Este é o caso de Eren Tör e o seu grupo, que se reúnem todas as manhãs em Bebek, bairro da costa europeia.

Este reformado de 64 anos nada "todos os dias do ano, mesmo no inverno, mesmo sob a neve", diz.

"É um privilégio nadar em Istambul, entre dois mares, entre dois continentes", em águas com temperatura média de 23 graus no verão e 11 no inverno.

Quase todo mundo aprendeu a nadar aqui, nas águas do Bósforo, cujas correntes traiçoeiras conhecem bem, como as suas mudanças de humor.

É o caso de Levent Aksut que, aos 92 anos, vem nadar "três a quatro vezes por semana".

No entanto, "o governo não gosta de ver as pessoas em trajes de banho", lamenta o filho Caner, em alusão ao partido governante conservador-islâmico AKP, que, para ele, reduz o acesso.

Mas este grupo mantém o ritual: depois do banho, secam-se ao sol e depois vão tomar um café. E assim, dia após dia.

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